Domínio do princípio ao fim. Mário Patrão esteve imbatível no Veteran Trophy da edição 2024 do Dakar. Com um ritmo soberbo ao longo de toda a prova, mostrou uma enorme regularidade aos comandos da novíssima (e exclusiva) Honda CRF 450 RS2 Rally. Conquistou nada mais nada menos do que 11 das 12 etapas disputadas, numa edição particularmente dura e exigente do Dakar, que não deu tréguas a pilotos e equipas ao longo de 14 dias e 7.881 quilómetros, dos quais 4.727 cronometrados.
Percalços, claro, há sempre e Mário Patrão não deixou de os ter, mas o piloto de Seia, de 47 anos, ultrapassou-os, superando dunas, muita pedra e rios secos. Foi com um enorme sorriso no rosto e uma alegria contagiante que esta quinta-feira se apresentou aos jornalistas para ser homenageado por um dos seus patrocinadores, exibindo orgulhosamente o troféu (mais um) que trouxe daquele que é o mais exigente rali de todo o terreno do mundo.
"Correu-nos tudo bem. Tivemos algumas quedas, não muito grandes, embora uma ou outra mais feia. Não estava a contar, porque ia com um grau de segurança elevado. Nunca ninguém está a contar, mas acontecem. Felizmente, consegui sempre levantar-me e continuar. O risco está sempre lá, mas com um pouco de sorte, que faz sempre parte, mas correu tudo bem", reconhece.
"Ainda nem acredito que o meu sonho se tornou real. Estou mesmo muito feliz pelo resultado. Este prémio é fruto não só do meu investimento, mas acima de tudo do investimento dos meus patrocinadores que me acompanham, a eles o meu obrigado", acrescentou.
A aposta ganha numa nova moto
Patrão já tinha sido o campeão da categoria de veteranos em motos em 2022 e 2023, mas desta feita o desafio foi diferente. Com praticamente tudo preparado para seguir na mesma moto que tinha usado para competir nos dois anteriores anos, recebeu uma chamada da Honda para experimentar uma nova mota, a tal Honda CRF 450 RS2 Rally, que nunca antes tinha sido testada. Confessa que, perante tal desafio, não hesitou. E foi, sem dúvida, uma aposta ganha.
"Ninguém sabia daquela surpresa. Tínhamos a nossa mota pronta no final de novembro e, por essa altura, fomos contactados pela Honda. Resolvi arriscar e aceitar a proposta que eles me fizeram. Afinal de contas iríamos ter por detrás de nós o maior fabricante de motas do mundo. E a prova está aqui e foi uma aposta ganha", explica.
"Eu iria com uma moda que já tinha dois Dakars em cima, com desgaste em muitas peças. Então não olhei para o lado, até porque iria sempre aprender alguma coisa com as pessoas com quem ia trabalhar. E foi o que aconteceu. Foi, sem dúvida, uma aposta ganha e eles também terão ficado contentes", reforçou
"Já tinha ganho muitos campeonatos e somado muitas vitórias, que me abriram portas e permitiram ter melhores condições. Todos estes troféus, sem este apoio, não estariam aqui. Aprendi muito.
O peso da idade e correr na classe de veteranos
Apesar do seu ar jovem, este foi o terceiro ano em que Mário Patrão correu na classe veteranos. Uma classe que contava com 27 pilotos à partida. O piloto português terminou com seis (!!!) horas de vantagem sobre o segundo classificado. E explicou o segredo.
"Comecei a competir a sério aos 18 anos. Grande parte dos profissionais começam aos cinco anos. Ou seja, já levam 13 anos de competição quando eu me iniciei. Mas a verdade é que isso faz com que eles estejam também mais desgastados do que eu estou. Acaba por ser uma vantagem", sublinha.
Quanto ao desenrolar da prova, recorda: "Fui vendo a classificação e a partir do momento em que comecei a ter alguma vantagem não me preocupei muito com eles. Preocupei-me sim connosco e com a nossa mota. Fui fazendo a minha gestão para as coisas irem a bom porto".
Quanto à idade, sublinha, "é só um número".
"Se nos soubermos ocupar o nosso espaço e posso perfeitamente chegar bem aos 60 anos se souber ocupar o meu espaço. Tenho só de saber qual é o meu espaço, onde quero ir e o que quero fazer", acrescenta.
Mais um êxito a somar a tantos outros, com os pés bem assentes na terra
Mário Patrão tem uma carreira com mais de duas décadas a competir, com títulos e experiências, a nível nacional e também internacional.
Tem mais de 20 títulos de Campeão Nacional de Todo o Terreno, cinco títulos de Campeão Nacional de Enduro, um título Campeão Nacional Rally Raid 2020, sete títulos de vice-Campeão nas duas modalidades e um 1°lugar da classe Maraton no Dakar 2016, antes do recente sucesso no Veteran Trophy.
"Já tinha ganho muitos campeonatos e somado muitas vitórias, que me abriram portas e permitiram ter melhroes condiçõe. Todos estes troféus, sem este apoio, não estariam aqui. Aprendi muito", lembra.
Ainda assim, não sacha que fosse boa ideia a Honda apostar nele como um piloto oficial no futuro. "Eles este ano tinham seis pilotos oficiais. Sinceramente, penso que não e honestamente digo que não seria boa ideia apostarem em mim", explica.
"Só se for para fazer um trabalho parecido com o deste ano, em que queiram testar, ter alguém que lhes dê o feedback correto, isso aí é possível. Agora para ganhar Dakar e ir lá lutar por Dakars não creio e acho que faziam mal se fizessem isso. A verdade é que estamos a falar num piloto que já tem 47 anos e que não conseguiria competir com os miúdos de 20 ou 25", reforça.
"Mas tenho muita coisa que eles poderão aproveitar", salvaguardou, antes de exibir com orgulho para todos os presentes na sala o troféu conquistado há uma semana nos desertos da Arábia Saudita.
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