O belga Thierry Neuville (Hyundai i20) conquistou pela primeira vez o título mundial de ralis, após o companheiro de equipa, o estónio Ott Tänak, ter desistido do Rali do Japão devido a um acidente.
Tänak, líder do Rali do Japão desde sexta-feira, foi hoje vítima de uma saída de pista, oferecendo assim o título ao rival ainda antes do final da prova japonesa, a última do campeonato.
Para garantir o título, o estónio, que já foi campeão em 2019, teria de ser o mais rápido no último dia e esperar que Neuville não somasse mais do que um ponto hoje.
"Não sei bem o que dizer... Mas acho que merecemos. A época foi muito complicada, tivemos muita pressão, principalmente este fim de semana", disse o belga.
O líder do campeonato tinha recuperado até ao sétimo posto desde o 15.º lugar com que partiu no sábado de manhã, depois de uma avaria no turbo do seu Hyundai, na sexta-feira, o ter afastado irremediavelmente da luta pela vitória na prova.
"Estamos muito felizes e aliviados, por isso poderemos pressionar totalmente na esperança de conquistar também o título de construtores ", declarou Neuville no final da segunda especial de hoje.
O belga, vice-campeão já por cinco vezes, foi finalmente coroado campeão do mundo de ralis.
Perfil
Foram precisas cinco tentativas falhadas para o piloto belga Thierry Neuville (Hyundai i20) quebrar o enguiço e conquistar o primeiro título mundial de pilotos de ralis, aos 36 anos, assegurado este domingo no Japão.
O piloto belga, nascido a 16 de junho de 1988 em Saint Vith, começou por ser um dos mais promissores da sua geração mas viu-se entalado entre os maiores nomes da modalidade (os franceses Sébastien Loeb, com nove títulos entre 2004 e 2012, e Sébastien Ogier, que venceu entre 2013 e 2018 e, novamente, em 2020 e 2021, e o jovem prodígio Kalle Rovanperä, campeão em 2022 e 2023).
Nesse entretanto, o piloto dos óculos cor de laranja terminou o Mundial por cinco vezes na segunda posição, em 2013, 2016, 2017, 2018 e 2019. Se, nas primeiras vezes, foi sempre batido por Ogier, em 2019 viu-se ultrapassado pelo estónio Ott Tänak, que viria a ser seu companheiro de equipa na Hyundai e que hoje bateu, vingando esse desaire de há cinco anos.
Neuville começou por dar nas vistas ainda no Intercontinental Rally Challenge (IRC), com os carros de 2000 cc. As boas prestações valeram-lhe um contrato com a Citroën, em 2012, ano em que terminou no sétimo lugar, depois de ter feito a sua estreia no Mundial em 2009.
O ano de 2013 mostrou uma das maiores armas de Neuville, a rapidez aliada à regularidade. Roubado pela Ford à Citroën, conquistou o primeiro pódio da carreira (terceiro lugar no México), voltando ao pódio na Grécia (terceiro lugar) antes de quatro segundos lugares consecutivos, em Itália, Finlândia, Alemanha e Austrália. O ano terminaria com um terceiro posto na Grã-Bretanha e o vice-campeonato, o primeiro de cinco.
A primeira vitória surgiu na Alemanha, em 2014, num rali de asfalto, aquela que parece ser a sua especialidade, no primeiro ano na Hyundai, depois de ter sido contratado pela equipa coreana para ser o chefe de fila e ajudar a desenvolver o seu carro.
Esses primeiros anos foram difíceis, com dois sextos em 2015 e 2016, seguidos de quatro segundos lugares consecutivos entre 2016 e 2019.
Portugal tem sido um dos palcos mais difíceis para o piloto belga que, para além de óculos laranja gosta de relógios garridos.
A única vitória em território luso aconteceu em 2018. Soma ainda dois segundos lugares, em 2017 e 2019, e um terceiro (este ano). Mas também alguns anos difíceis, como o de 2021 (36.º) e 2016 (29.º) e 2015 (38.º) e 2013 (17.º).
Agora sem a sombra de Rovanperä, que optou por tirar um ano quase sabático depois de dois títulos consecutivos, e com a lenda Ogier também a meio tempo, Thierry Neuville conseguiu, finalmente, ‘matar o borrego’, apesar de alguns erros cometidos ao longo da temporada poderem ter hipotecado o sonho.
Aos 36 anos, as possibilidades de ascender ao Olimpo estavam cada vez mais curtas e no próximo ano sabe que voltará a ter a sombra de um Rovanperä a tempo inteiro novamente.
A conquista do título pode ser o calmante que Neuville precisava para elevar a consistência e assumir-se como um verdadeiro campeão.
Disputou 167 ralis, somando 21 triunfos e 69 pódios, com 408 vitórias em especiais.
Tem uma filha de cinco anos, Camille, que o acompanha regularmente nas corridas. E que hoje festejou com o pai o primeiro título mundial de pilotos, o primeiro de um piloto da Hyundai.
Veja aqui o historial dos vencedores do Mundial
Historial de vencedores do campeonato do mundo de ralis (WRC):
Ano Piloto Carro
2024 Thierry Neuville (Bel) Hyundai i20
2023 Kalle Rovanperä (Fin) Toyota Yaris
2022 Kalle Rovanperä (Fin) Toyota Yaris
2021 Sébastien Ogier (Fra) Toyota Yaris
2020 Sébastien Ogier (Fra) Toyota Yaris
2019 Ott Tänak (Est) Toyota Yaris
2018 Sébastien Ogier (Fra) Ford Fiesta
2017 Sébastien Ogier (Fra) Ford Fiesta
2016 Sébastien Ogier (Fra) Volkswagen Polo-R
2015 Sébastien Ogier (Fra) Volkswagen Polo-R
2014 Sébastien Ogier (Fra) Volkswagen Polo-R
2013 Sébastien Ogier (Fra) Volkswagen Polo-R
2012 Sébastien Loeb (Fra) Citroen DS3
2011 Sébastien Loeb (Fra) Citroen DS3
2010 Sébastien Loeb (Fra) Citroen C4
2009 Sébastien Loeb (Fra) Citroen C4
2008 Sébastien Loeb (Fra) Citroen C4
2007 Sébastien Loeb (Fra) Citroen C4
2006 Sébastien Loeb (Fra) Citroen Xsara
2005 Sébastien Loeb (Fra) Citroen Xsara
2004 Sébastien Loeb (Fra) Citroen Xsara
2003 Petter Solberg (Nor) Subaru Impreza
2002 Marcus Grönholm (Fin) Peugeot 206
2001 Richard Burns (GB) Subaru Impreza
2000 Marcus Grönholm (Fin) Peugeot 206
1999 Tommi Makinen (Fin) Mitsubishi Lancer Evo V
1998 Tommi Makinen (Fin) Mitsubishi Lancer Evo V
1997 Tommi Makinen (Fin) Mitsubishi Lancer Evo IV
1996 Tommi Makinen (Fin) Mitsubishi Lancer Evo III
1995 Colin McRae (GB) Subaru Impreza
1994 Didier Auriol (Fra) Toyota Celica Turbo 4WD
1993 Juha Kakkunen (Fin) Toyota Celica Turbo 4WD
1992 Carlos Sainz (Esp) Toyota Celica Turbo 4WD
1991 Juha Kankkunen (Fin) Lancia Delta Integrale
1990 Carlos Sainz (Esp) Toyota Celica GT4
1989 Massimo Biasion (Ita) Lancia Delta Integrale
1988 Massimo Biasion (Ita) Lancia Delta HF 4WD / Lancia Delta Integrale
1987 Juha Kankkunen (Fin) Lancia Delta HF 4WD
1986 Juha Kankkunen (Fin) Peugeot 205 Turbo 16 / Peugeot 205 Turbo 16 E2
1985 Timo Salonen (Fin) Peugeot 205 Turbo 16 E2
1984 Stig Blomqvist (Sue) Audi Quattro / Audi Quattro Sport
1983 Hannu Mikkola (Fin) Audi Quattro
1982 Walter Rohrl (Ale) Opel Ascona 400
1981 Ari Vatanen (Fin) Ford Escort RS
1980 Walter Rohrl (Ale) Fiat 131 Abarth
1979 Bjorn Waldegard (Sue) Ford Escort RS / Mercedes 450 SLC 5.0
- Taça FIA:
1978 Markku Alén (Fin) Fiat 131 Abarth
1977 Sandro Munari (Ita) Lancia Stratos
- Ranking dos vencedores:
1. Sébastien Loeb (Fra) 9 títulos (2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012)
2. Sébastien Ogier (Fra) 8 (2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2020, 2021)
3. Juha Kankkunen (Fin) 4 (1986, 1987, 1991, 1993)
. Tommi Mäkinen (Fin) 4 (1996, 1997, 1998, 1999)
5. Walter Röhrl (Ale) 2 (1980, 1982)
. Massimo Biasion (Ita) 2 (1988, 1989)
. Carlos Sainz (Esp) 2 (1990, 1992)
. Marcus Grönholm (Fin) 2 (2000, 2002)
. Kalle Rovanperä (Fin) 2 (2022, 2023)
10. Sandro Munari (Ita) 1 (1977)
. Markku Alén (Fin) 1 (1978)
. Björn Waldegard (Sue) 1 (1979)
. Ari Vatanen (Fin) 1 (1981)
. Hannu Mikkola (Fin) 1 (1983)
. Stig Blomqvist (Sue) 1 (1984)
. Timo Salonen (Fin) 1 (1985)
. Didier Auriol (Fra) 1 (1994)
. Colin McRae (GB) 1 (1995)
. Richard Burns (GB) 1 (2001)
. Petter Solberg (Nor) 1 (2003)
. Ott Tänak (Est) 1 (2019)
. Thierry Neuville (Bel) 1 (2024)
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