Num comício em Díli, Isabel Ferreira, mulher do primeiro-ministro timorense, vincou o que diz ser uma política "simples, mas ambiciosa" de recentrar o debate nas pessoas, para construir "famílias fortes" e assim "uma nação mais forte".

"É preciso uma revolução mental, mudar o caráter do cidadão, um cidadão lutador e que com sacrifício quer melhorar a sua vida, em vez de ser um cidadão passivo. Uma visão simples, mas ambiciosa: consolidar a independência, promover a família e a pátria", sublinha.

Interrompida por muitos aplausos, a ex-ativista fez um discurso intenso, vincou as linhas centrais da sua candidatura, perante cerca de 400 pessoas, que se juntaram no campo de futebol Dom Bosco, no suco de Comoro, na zona de Dom Aleixo, em Díli.

O comício começa com uma curta caminhada liderada pela 'Drum Band' e as majoretes do Colégio São Miguel Arcanjo filmada por um elemento da Comissão Nacional de Eleições (CNE) que tem pedido, várias vezes, que não se usem crianças na campanha.

Sem música, habitual nos comícios em Timor-Leste, poucos discursos e só uma mão cheia de bandeiras, uma do Partido Libertação Popular (PLP) e outras da candidatura em si. Alguns pingos de chuva distraem alguns momentos, quando de uma camioneta de caixa aberta começam a ser oferecidos dezenas de guarda-chuvas coloridos.

Oficialmente esta é uma candidatura independente, mas é facilmente notado o peso de dirigentes e militantes do PLP, liderado pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.

Hoje, por exemplo, estavam dois membros do PLP no Governo - o ministro do Ensino Superior, Longuinhos dos Santos, e a vice-ministra da Solidariedade Social, Signi Chandrawati Verdial -- além do próprio chefe de gabinete do primeiro-ministro.

O mote da candidatura é "Deus, Família e Pátria", que figura no poster gigante do pequeno palco.

A postura serena, cabeça baixa, olhos fechados e as mãos juntas em frente ao peito durante a oração, contrastou com a voz forte e um discurso de grande intensidade da candidata, com mensagens curtas e claras, e muitas críticas aos políticos timorenses.

"Completamos este ano 20 anos desde a restauração da independência. Faltam quatro para serem tantos anos quantos os da ocupação indonésia. Libertamos o país, e a cada cinco anos, nas campanhas, falamos de libertar o povo? E onde é que está isso?", questiona.

"Depois de 20 anos as famílias continuam a viver mal, a ter dificuldades. E quem chega ao poder serve-se apenas para os interesses pessoais, da família ou de um grupo, mas do povo não. E isso vai continuar durante quanto tempo?", insiste, dedo direito em riste.

Acusa os políticos que têm governado o país de servirem interesses que não são os do povo, com um discurso conservador, apelando aos valores e ideais das famílias de outrora.

Fala do aumento de divórcios, de mulheres que engravidam muito jovens, da violência entre jovens de grupos de artes marciais, compara a vida de hoje com a tempo da ocupação indonésia ou do colonialismo português e defende que a sua maior ação é "pelo exemplo".

"O povo é constantemente ignorado. Continuamos a falar da libertação do povo sem fazer nada. É altura de avançar. Hoje temos que voltar a votar a sério, não pelos políticos, mas pelo próprio povo", considera.

"Onde está a solidariedade, a tolerância, o respeito mútuo? Onde está esse espírito? Se a situação continua assim, seremos para sempre um Estado frágil. E o povo está consciente da situação, mas é demasiado passivo, depende demais dos políticos", vincou.

A campanha eleitoral termina na quarta-feira e as eleições presidenciais são no sábado.

ASP // NS

Lusa/Fim