Para o Presidente libanês eleito em janeiro passado e antigo comandante do Exército, o monopólio estatal das armas é uma "questão sensível, delicada e fundamental para a preservação da paz civil", mas deve ser abordada com "discernimento e responsabilidade" no que se refere ao Hezbollah.

"Vamos implementá-lo", declarou o chefe de Estado hoje aos jornalistas, mas recomendou que se aguarde "até que as circunstâncias o permitam", afastando um enquadramento de "calendário ou pressão".

O Hezbollah foi durante muito tempo a força dominante no Líbano, mas saiu enfraquecido de mais de um ano de hostilidades com Israel, incluindo dois meses de conflito aberto, que custaram a vida a vários dos seus altos dirigentes e responsáveis militares.

Na sexta-feira, o secretário-geral do Hezbollah, Naim Qassem, disse que não permitirá o desarmamento do grupo político e militar enquanto as tropas israelitas permanecerem no sul do Líbano e a sua aviação violar regularmente o espaço aéreo libanês.

"As questões internas controversas só podem ser abordadas com espírito de diálogo e consulta, sem confronto. Caso contrário, levaremos o Líbano à ruína", alertou hoje o Presidente libanês.

Joseph Aoun disse ainda estar pronto para se envolver num diálogo sobre uma "estratégia de defesa", mas insistiu que recusa "a pressão da ocupação e da agressão", numa alusão a Israel, que continua a bombardear posições do Hezbollah e a manter tropas no sul do país.

O Ministério da Saúde do Líbano indicou hoje em comunicado que pelo menos duas pessoas foram mortas e outras duas ficaram feridas em ataques aéreos israelitas separados contra duas cidades no sul do país.

Posteriormente, o Exército israelita anunciou que matou o vice-chefe da unidade especializada em aquisição de armas do Hezbollah num ataque com um drone.

Hussein Ali Nasr, vice-comandante da unidade 4400 do Hezbollah, foi morto num ataque em Kaouthariyet al-Saiyad, no sul do país, entre Sidon e Tiro, segundo as forças israelitas, numa informação entretanto confirmada pelas autoridades de Beirute, que não identificaram, porém, a vítima como membro do Hezbollah.

Israel atribui a Ali Nadr a responsabilidade de contrabandear, com apoio do Irão, "armas e dinheiro para restaurar as capacidades militares da organização terrorista Hezbollah", incluindo através do aeroporto de Beirute.

Os recentes ataques israelitas contra a Unidade 4400 envolveram os assassínios do chefe da unidade, Muhammad Jafar Qasir, em Beirute, no início de outubro de 2024, e do seu sucessor, Ali Hasan Gharib, em Damasco, na Síria, várias semanas depois, juntamente com outros altos comandantes do grupo radical.

As autoridades militares libanesas anunciaram hoje, por seu lado, a detenção de várias pessoas que alegadamente planeavam lançar 'rockets' contra Israel e confiscaram o armamento.

O Exército indicou que as suas tropas invadiram um apartamento perto da cidade portuária de Sidon, no sul, e confiscaram alguns dos 'rockets' e lançadores e detiveram várias pessoas que estavam envolvidas na operação.

Na quarta-feira, várias outras pessoas foram detidas, incluindo cidadãos palestinianos, que alegadamente estiveram envolvidos no disparo de 'rockets' contra Israel em dois ataques no final de março, que desencadearam, em resposta, uma vaga de fortes bombardeamentos israelitas em diversas partes do Líbano.

O Hezbollah negou na altura que estivesse por trás desta ofensiva contra Israel.

Apesar do cessar-fogo acordado em novembro para por fim a uma guerra de 14 meses entre Israel e o Hezbollah, os ataques aéreos israelitas mataram dezenas de pessoas no Líbano desde então, incluindo membros do grupo armado libanês mas também civis.

Ao mesmo tempo, Israel mantém tropas em cinco posições que considera estratégicas no sul do Líbano, onde também se encontra um destacamento internacional das Nações Unidas, alegando agir em defesa do seu território.

O mais recente período de hostilidades entre Israel e o Hezbollah começou em 08 de outubro de 2023, um dia após o ataque do grupo islamita palestiniano Hamas em território israelita, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza.

Ao longo de cerca de um ano, Israel e Hezbollah mantiveram uma troca de tiros quase diária ao longo da fronteira israelo-libanesa, e, a partir de setembro do ano passado, as forças israelitas lançaram uma vasta campanha de bombardeamentos no país vizinho, incluindo o sul de Beirute.

Além da eliminação de altos quadros do Hezbollah, esta ofensiva provocou mais de quatro mil mortes no Líbano e acima de 1,2 milhões de deslocados, de acordo com as autoridades libanesas.

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