Somos um país de vitórias morais. Até podem fazer sentido num processo de crescimento das equipas, mas não podem aparecer sempre. E caiu mais um mito de quem não falava de arbitragens.
É algo que habita entre o cultural e o confortável. A inegável vantagem de querermos nos ‘auto-confortar’ e vermos a derrota de forma menos penosa. Que afinal até deu boas indicações. Nos últimos anos, a seleção e alguns clubes apoiaram-se mais em vitórias morais do que nas vitórias…daquelas que contam mesmo.
Nestas duas semanas tivemos 3 casos interessantes para analisar o tema das vitórias morais. O Sporting, excelente no campeonato e muito acima das expectativas iniciais, portou-se bem no estádio do Dragão. Perdeu é certo, mas trata-se de uma equipa em construção. Até mais rápida do que inicialmente poder-se-ia supor. A comunicação social especializada considerou que o Sporting tinha ganho mais uma equipa, apesar da derrota. Aceitável na minha opinião! Em termos emocionais, traz benefícios à equipa e aos jogadores. Desde que bem gerida internamente pelo treinador em termos comunicacionais e que não esbata na ambição deste ou daquele atleta, pode ser um passo bem seguro no crescimento da equipa.
Outro caso. Última 3ª feira, o Benfica fez aquele que muitos consideraram o melhor jogo da época, apenas superada por um ex-jogador seu que esteve simplesmente intransponível. Mas perdeu. E não foi contra nenhum colosso europeu. Tratou-se do campeão grego, que até tinha realizado uma exibição segura uns dias antes na Luz. Mas esta equipa encarnada já tem (ou deveria ter) uma identidade bem definida. A mesma equipa técnica, alguns jogadores com os 4 ou 3 anos das últimas épocas, não podem basear o seu crescimento e sucesso em vitórias morais.
Neste caso, tem um impacto interno muito negativo. Porque alguns atletas não se identificam, porque na cabeça de um atleta, há um filtro bem definido entre a sua ambição e necessidade de títulos e as constantes vitórias adiadas. Especialmente num clube que tarda em conquistar títulos e aonde se tinha assumido de forma ténue, mas real, como candidato a ir longe nessa competição.
A última vitória moral. Jogo entre o Benfica e o Sporting para a taça. Jogo bastante emocional. Apesar da derrota, consegue-se retirar vários pontos positivos na equipa sportinguista. Que está a jogar num patamar elevado considerando algumas expetativas iniciais. Qual o risco de várias vitórias morais? Redefinir erradamente os objetivos individuais de alguns jogadores e colidir com o crescimento que a equipa predefiniu. Terá de existir um trabalho interno de constante alinhamento dos objetivos individuais e coletivos, para que as vitórias mais morais não sejam sempre entendidas com a necessidade de ter ambições maiores antes do tempo.
Por último, e infelizmente, caiu mais um exemplar de quem não falaria das arbitragens. Com ou sem razão, traz-nos mais uma lição. O patamar emocional supera o racional durante e após aqueles minutos de enorme descarga de emoções. Razão tinham alguns treinadores que diziam que preparavam uma parte do discurso pós-jogo ainda antes do jogo começar. Algumas regras que para eles eram fundamentais e não queriam por nada desrespeitar. Liam o seu documento antes que alguém lhes pusesse um microfone à frente!
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