Era para começar a crónica com um 8 ou 80, mas não. Nem este Sporting vale 80 nem este Benfica vale o 8. Falar deste derby é recuar a Junho ou Julho e perceber que existem um conjunto de acções que vão tendo impacto positivo e negativo nos resultados que vamos observando nos dias de hoje.

O Benfica tem hoje, provavelmente, o pior grupo de jogadores desde que Jorge Jesus entrou no Benfica. Ainda mais desequilibrado do que o ano passado. Há bastante matéria-prima mas também existem pesos mortos a mais no plantel. Marroquinos que pesam, promessas que não jogam e se perdem por ali e miúdos da equipa B que vão precisar de tempo. E é aí que Rui Vitória se situa, numa fase de transição imposta pelo clube e adquirida pelo treinador, mas que neste momento não é carne nem peixe.

O Benfica procura rapidamente ter uma identidade de jogo, mas não tem conseguido realizar exibições regulares que lhe dê calma e equilíbrio. Rui Vitória não é pior que nenhum dos treinadores que por ali tem passado, mas sem pré-época e pós seis anos de JJ, fica muito à mercê do tempo que não tem.

O Benfica não entrou mal no jogo, mas após dois tiros no porta-aviões, ficou sem capacidade de reagir, nem tactica nem mentalmente. O Sporting entrou na expectativa e, assumindo uma eficácia e maturidade impressionante, a cada oportunidade ia marcando. E depois, teve muito, mas muito mérito em gerir a situação sempre de modo muito calmo e impondo o ritmo que queria.

Não sei se foi pelo facto de Jorge Jesus ter sido treinador na Luz durante seis anos se foi pelo facto de ter feito muito bem o trabalho de casa, mas o Sporting não aproveitou somente os erros do Benfica, como os provocou. Mérito para Jorge Jesus e também pelo modo como geriu as emoções antes e pós-jogo. Claro que a ganhar é mais fácil, mas não se deve passar isso em claro.

Não é um 80 e o treinador sabe-o bem. Há um longo caminho a percorrer pelo Sporting, mas o treinador está a conseguir equilibrar algo que não o fez no Benfica: maturidade com juventude. O pior inimigo continua a vir de dentro.

Resumindo, o Benfica perde mais do que três pontos neste derby. São colocadas a nu muitas debilidades e é preciso reforçar o plantel, não desesperar por um miúdo de 21 anos a defesa direito que no ano passado ninguém sabia quem era. Rui Vitória precisa não apenas de apoio, mas de acções. Jorge Jesus vai dedicar-se àquilo que é perito, as provas internas. Em tempos de desinvestimento e de necessidade de receitas, o 3.º lugar é um dos piores pesadelos dos três grandes.