
Muito dificilmente o Sporting conquistaria este campeonato sem os impressionantes 39 golos de Viktor Gyökeres. Ou sem o equilíbrio e a capacidade de recuperar a bola proporcionados por Mortem Hjulmand. A magia de Francisco Trincão também foi fundamental, assim como o rigor defensivo de Gonçalo Inácio e Ousmane Diomande, a irreverência de Eduardo Quaresma, o espírito guerreiro de Maxi Araújo ou a tranquilidade
que Rui Silva trouxe à baliza leonina quando chegou a Alvalade, a meio da temporada. O nome que vou destacar no rescaldo desta conquista leonina, contudo, é outro: o de Rui Borges.
A aposta em Rui Borges tinha tudo para correr mal. O Sporting vinha de um momento muito conturbado no pós-Amorim, após vencer apenas um dos quatro jogos que disputou no campeonato sob o comando técnico de João Pereira, tendo inclusive deixado escapar a liderança depois de ter uma vantagem de cinco pontos para o Benfica. Ao contrário de João Pereira, que pegou numa equipa que vinha de uma sequência muito boa de resultados - o que também era um desafio muito complicado, devo dizer -, Rui Borges tinha de voltar a levantar a moral de uma equipa que parecia ter deixado de acreditar em si própria.
Além disso, teve a coragem de aceitar começar a sua passagem pelo clube com um dérbi, onde tinha tudo a perder: sair derrotado do embate com o grande rival logo no seu primeiro jogo no Sporting poderia condicionar e colocar ainda mais pressão no seu trabalho. Mas não foi o caso: os leões bateram o Benfica e Rui Borges entrou com o pé direito em Alvalade. Até final, os verde e brancos chegaram a cair para o segundo lugar, é certo, mas voltaram ao trono e foram capazes de segurar a liderança. Outro dado curioso é que o Sporting de Rui Borges disputou três clássicos e não perdeu nenhum: venceu um dos jogos
e empatou outro frente ao Benfica, e ainda empatou na visita ao FC Porto.
Há dois anos, Rui Borges estava a trabalhar na Segunda Liga, e há seis orientava o seu Mirandela no Campeonato de Portugal. Neste sábado, sagrou-se campeão nacional, contra todas as expectativas - vindo de baixo, do futebol muitas vezes esquecido das divisões inferiores, para onde poucos olham e ainda menos acreditam. Este título é de Rui Borges.
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