“Os pontas de lança servem para fazer golos”. E quando não fazem? Se o papel dos avançados passa por somente finalizar, então se não marcar qualquer golo numa partida significa que jogou mal? Eu não acredito nisso.
Com a modernização do futebol, também o ponta de lança tradicional foi evoluindo. Hoje em dia não existem apenas os pontas de lança de área que apenas esperam que a sua equipa consiga criar oportunidades para marcar golo, mas também os avançados móveis que são capazes de oferecer soluções em apoio e em profundidade.
O que é Haaland?
Vamos ao contexto. O norueguês joga numa equipa reconhecida pelo seu domínio nas partidas através da manutenção da posse de bola, onde explora com menor frequência momentos de contra-ataque em transição ofensiva. Colocando isto em questão, sabemos que os primeiros jogos de Haaland ao serviço dos 'citizens' foram de maior exigência pela dificuldade de adaptação à equipa e a equipa a si.
A partir daí, Haaland fez questão de se destacar no futebol mundial por conseguir fazer golos de qualquer forma, com os dois pés, de cabeça... É reconhecido pela sua capacidade de finalização, a capacidade de ganhar duelos aéreos ou se antecipar dentro de área ou ainda pela sua potência e agressividade no ataque à profundidade.
O problema surge quando não há muito espaço nas costas da linha defensiva para Haaland atacar. A partir daqui fica extremamente dependente da criatividade da equipa para conseguir criar oportunidades de perigo para que possa posteriormente finalizar.
Não sendo um jogador dotado de uma qualidade de passe comparativa aos seus colegas, procura não descer muito para ser solução de passe, preferindo fixar a linha defensiva e esperar a sua oportunidade para finalizar. Não sendo o jogador mais associativo e estando dependente dos seus colegas, o norueguês acaba por não estar tão presente nas partidas quando a sua equipa joga frente a blocos muitos baixos com defesas centrais que conseguem se impor fisicamente.
Quando começa a perder duelos individuais e não tendo muito espaço para explorar a sua velocidade e o seu poderio físico, acaba por ser um corpo estranho na organização ofensiva do Manchester City.
Então agora Haaland é um mau avançado? Claro que não. É um dos melhores jogadores do mundo, porém é um jogador que tem falta de recursos técnicos importantes numa equipa que tenta jogar de determinada forma. Nestes dois anos, foi o Manchester City que se adaptou a Haaland e não o contrário.
Essa adaptação levou-os a conquistar uma Liga dos Campeões inclusive. Todavia, é necessário entender que haverá jogos que Haaland não conseguirá estar presente pela incapacidade da equipa lhe criar ocasiões de finalização ou pela capacidade individual do adversário em o conseguir anular.
Julián Álvarez, seu companheiro de equipa, já apresenta outras características diferentes do norueguês – mais associadas ao jogo de Guardiola. Qual está correto? Nenhum e todos. Haverá jogos que se pedirá mais jogo associativo de Álvarez e haverá jogos que se pedirá Haaland como referência dentro de área ou para explorar jogo mais direto. Ou haverá ainda jogos em que peçam tudo isto e joguem juntos.
Haaland tem uma desvantagem e uma vantagem comparativamente a jogadores como Mbappé ou Vinícius: não consegue criar oportunidades a partir do nada, mas consegue finalizar melhor que os anteriores quando a tiver.
Se é o melhor jogador do mundo? Isso agora é uma questão de gosto. Eu prefiro sempre um jogador capaz de criar oportunidades de perigo em detrimento daquele que somente as sabe finalizar. Porém, o futebol precisa dos dois.
PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.
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