A Liga ainda não terminou e por isso, enquanto for matematicamente possível para algum dos lados, deixarei a minha análise para o fim de tudo. Para já, podemos e devemos focar-nos nos processo e no desempenho desses mesmos processos.

O pós-clássico da Luz, um jogo morno e com pouca espetacularidade, foi ainda pior que o próprio jogo. Palavras e frases ofensivas, pouco usual em Portugal ao nível dos treinadores (mais regular nos dirigentes), demonstrou-nos um Lopetegui nervoso e frustrado (sem querer com isto defender a culpa ou inocência dos dois treinadores envolvidos).

Entende-se a frustração do treinador basco. Natural e compreensível. Menos compreensível são as ações antes, durante e pós. Lopetegui tem o mérito na primeira época ter conseguido pegar em vários e excelentes jogadores e ter conseguido formar uma boa equipa. Não é uma excelente equipa, mas também considero que em Portugal não existe uma super ou excelente equipa. A primeira época é sempre um desafio redobrado. Pois há o desconhecimento gradual da equipa, plantel, cultura organizacional e sendo um treinador com nenhuma experiência de Portugal e com muito pouca experiência de clubes, necessitaria sempre de tempo para a natural aprendizagem.

E é aqui que considero que Lopetegui mais falhou, mesmo que nas últimas três jornadas caia algum brinde. Falhou, porque desvalorizou a competitividade interna e demorou tempo até entender que, como em qualquer país ou local, existe uma dinâmica própria. Não é muita a competitividade, bem se sabe. Mas há campos e equipas mais competitivas que outras, apesar de competitividade não significar qualidade. Também desde cedo decidiu atacar a arbitragem como um dos elos a responsabilizar pelos resultados.

É eliminado em casa com o Sporting para a Taça de Portugal e é eliminado na Madeira frente ao Marítimo para a Taça da Liga e em ambos os jogos, foi dominado pelo adversário. Após o descalabro de Munique (não esquecer o brilhante jogo em casa com o colosso alemão, ficará para a história e recordação de quem assistiu durante muito tempo), afirmou que por muito que os jornalistas não quisessem, o Porto iria erguer-se.

Espanta-me que queiram ‘esquecer-se’ de que esta equipa do Porto tem dois dos melhores laterais dos últimos anos do clube e da Liga Portuguesa e que a estrutura portista deu das melhores condições ao treinador espanhol das últimas épocas. Que conseguiram o empréstimo de dois bons jogadores vindos da Liga espanhola e um excelente, do melhor que se viu esta época por esta bandas, Oliver. Que têm o melhor ponta-de-lança a jogar em Portugal, que adquiriram 70 % de um jogador por 11 M € e que ganha 4 M € por ano, ou seja, de longe o jogador mais caro da nossa Liga e que leva umas miseráveis estatísticas. Não é por falta de ovos que esta omelete não funciona. Será que a culpa é dos ‘outros’?

Tentar perceber o que irá trazer de positivo para a equipa deixar cair Fabiano pode ser um bom exercício. E que há muitos anos não via um jogador do Porto a ser substituído e a reagir como aconteceu na Luz. E que Jorge Costa descreveu tão bem alguns dos problemas atuais. Repito que independentemente do resultado no final da Liga, o que está aqui analisado aconteceu. E que um resultado positivo ou negativo por vezes disfarça coisas más ou boas, respetivamente. Tal como o Benfica, neste momento em primeiro e o Sporting em terceiro, têm processos positivos e negativos que devem ser sempre analisados para lá da classificação final.

Estou certo que Lopetegui, se continuar no Porto, será melhor na próxima época exatamente porque tem vindo a fazer ou deverá fazer aquilo a que se recusou no início desta época: a aprendizagem da cultura, porque o futebol, antes de ser um desporto, é uma coisa de Homens e de uma sociedade.