Jorge Jesus disse, no final do jogo com o Newcastle, que o futebol é isto mesmo, e é verdade. Contudo, o “isto” é uma caixinha de surpresas, dado que engloba todas as peripécias que acontecem em cada jogo. Como não existem jogos iguais, o “isto” de ontem foi diferente dos restantes, foi demasiado excêntrico.
O Newcastle surpreendeu o Benfica com um 4x1x3x2. A organização defensiva das águias não esperava que os “magpies” apresentassem dois arietes rapidíssimos, os quais até certa altura superaram em velocidade os defensores do Benfica. Durante os primeiros 25 minutos estes ingleses assustaram o Benfica.
Nesse período, o Newcastle rematou mais vezes, marcou um golo, e ainda viu Artur evitar o segundo, ao realizar uma excelente defesa com a bola a desviar caprichosamente no poste. O Benfica não conseguia impor o seu domínio, com que frequentemente tem surpreendido os seus adversários. Errava passes e defendia mal. Antes do golo do empate, já Cissé tinha ameaçado por duas vezes. O golo dos visitantes foi um perfeito exemplo de insegurança defensiva. A facilidade com que Sissoko ultrapassa Melgarejo e Cissé se antecipa a Luisão e a André Almeida, são exemplos de desorganização defensiva.
Se o golo de Cissé espalhou intranquilidade, sobretudo fora das quatro linhas, o suspense acentuou-se ainda mais quando o público viu a bola embater no poste de Artur. No retângulo, os jogadores, apesar de não construírem o habitual e vistoso futebol, pareciam acreditar que mais tarde ou mais cedo a vitória acabaria por surgir.
E o futebol é isto mesmo: “quem não marca sofre”. O Newcastle envia a bola ao poste e quase de seguida Rodrigo empata. Este golo teve várias dimensões no jogo pois despertou os jogadores, ao devolver-lhes a confiança, e ao mesmo tempo estimulou o 12º jogador. A partir da recarga de Rodrigo ao remate de Cardozo, o Newcastle quase desapareceu. O Benfica ressuscitou e iniciou até ao fim da primeira parte um autêntico tiro ao boneco, obrigando Tim Krul a defender por 5 vezes remates aparentemente indefensáveis.
Para a segunda parte, aguardava-se portanto, que fosse um Benfica moralizado pelo golo a regressar das cabines. Mas quem acelerou outra vez foi Cissé, o qual apareceu isolado frente a Artur e, como não há uma sem duas, a bola voltou a embater no poste. Sorte e azar. Claro o futebol é isto mesmo.
E este segundo remate ao poste acabou por ser o canto do cisne do Newcastle, pois só já defendiam a pensar segurar o empate. Jesus não estava a gostar do que via, especialmente quando Cardozo desperdiça um golo “feito” aos 55 minutos. Depois de Rodrigo falhar mais uma grande oportunidade, Jesus viu-se na obrigação de mexer na equipa. Tirou André Gomes e Rodrigo e substituiu-os por Enzo e Lima.
Os treinadores costumam ter um “feeling”, e Jesus acertou na entrada de Lima. Acreditava e sentia que ele iria marcar, como habitualmente tem feito esta época. Lima cheirou o golo ao pressentir que Davide Santon ia atrasar a bola para o guarda-redes, e arguto aproveitou a oferta para dar a volta ao marcador quase sem ângulo. Para além do instinto goleador, Lima voltou a mostrar que tem uma excelente técnica para os momentos decisivos.
Até ao final só deu Benfica. Os ingleses lá iam defendendo, mas precipitadamente. Como foi o caso de Steven Taylor que nervosamente cometeu uma grande penalidade quando estava a ser pressionado por dois jogadores do Benfica. Cardozo, chamado à conversão, concretizou a grande penalidade, a qual o árbitro ainda mandou repetir, mas que paraguaio não falharia.
O Benfica, apesar do susto, conseguiu, e bem, dar a volta ao resultado, o qual é excelente para as aspirações das “águia” em voar para as meias-finais da Liga Europa. Em relação ao difícil ambiente de St. James Park, pode calar-se com um golo, pois o Benfica como visitante é raro não marcar.
Pois é, o futebol é isto mesmo. Remates falhados e certeiros, grandes defesas, oportunidades, bolas nos postes, inteligência, sorte, técnica, azar, boas ou más arbitragens, velocidade, incerteza, estratégia, emoção, felicidade, desgosto e sobretudo golos!
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