Começam as dúvidas sobre o Barcelona. Os resultados não expectáveis geram desconfiança em Xavi e as dúvidas são plausíveis porque raramente assistimos a jogos tranquilos desta equipa. No entanto, como sabemos, o plantel está a um nível altíssimo no que diz respeito à qualidade individual. Mas e em relação ao coletivo?

Primeiramente, é importante percebermos que este Barcelona está longe de ser o Barcelona de Guardiola. Aliás, muito longe disso. Esta equipa de Xavi é muito mais vertical, sem tantos passes curtos, com menos atração do adversário e opta por ataques rápidos que consequentemente levam a mais perdas da posse de bola. Em resultado disto, o Barcelona tem de ser uma equipa sempre pronta para reagir à perda da posse de bola, sendo portanto uma equipa competente no momento da transição defensiva.

Agora a pergunta: mas o Barcelona é competente no momento de transição defensiva?

O facto do lateral direito de Xavi ser quase sempre um defesa central (Ronald Araújo ou Koundé) diz que existe uma preocupação por parte do treinador em garantir um melhor equilíbrio já que nenhum destes dois vai subir tanto no terreno, garantindo mais um homem para eventual transição defensiva. Contudo, no âmbito geral, esta equipa está longe de estar confortável neste momento de jogo. Muito por culpa coletiva, mas também individual.

Penso que não existem dúvidas sobre a qualidade dos jogadores com bola, mas quando não a têm ou quando a perdem, as dúvidas podem e devem-se levantar. É importante observamos que dois dos jogadores do meio-campo chegaram recentemente de lesões (Pedri e De Jong) o que os faz não ter desde já a disposição física para andarem constantemente a transitar.

Posteriormente, Gundogan não está habituado a transitar defensivamente com regularidade já que no Manchester City tinha a posse de bola durante grande maior parte do jogo. Para além disso, sente-se que não é um jogador rápido e que o desgaste está maior conforme os seus anos de carreira vão passando.

Assim sendo, os três homens do meio-campo (com maior destaque para Pedri e Gundogan) têm evidentes dificuldades para transitar defensivamente. Se dúvidas existirem, basta observarem em jogo quem são os homens que estão quase sempre em último terço, mesmo com pausa de 2 ou 3 segundos nos contra-ataques adversários.

A somar a tudo isto, Lewandowski nunca irá transitar e João Félix e Raphinha, apesar de o fazerem a espaços, têm evidentes lacunas no que diz respeito aos comportamentos ofensivos. João Cancelo ainda respeita o clique de transição, mas muita vezes a uma velocidade abaixo do esperado.

Fica normal assistir o Barcelona a constantes transições defensivas perigosas, com oportunidades claras de golo para o adversário, sendo que raramente são resolvidas por um médio ou um avançado. Salientar Ronald Araújo e Koundé que são os principais responsáveis por estas tarefas, claramente não acompanhados pelos seus restantes colegas.

Podíamos culpar um a um, mas este é um problema evidentemente coletivo e, quando assim é, a responsabilidade passa a ser do treinador. Ficam as dúvidas se o Barcelona tem ou não jogadores com características favoráveis para praticar este futebol vertical de Xavi. Não por aquilo que oferece ofensivamente (onde até são uma equipa forte), mas sim por aquilo que se passa defensivamente.

Sente-se muito a falta de Gavi...

PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.