Com apenas 32 anos, João Pereira conduziu o seu Alverca ao título da Liga 3 e consequentemente à subida para a Segunda Liga. No entanto, o jovem treinador português decidiu não permanecer no clube e tudo indica que saltará diretamente para a Primeira Liga. Neste sentido, quais são algumas das ideias de João Pereira e como se adapta aos vários contextos?
Com formação de FC Porto enquanto treinador, o mesmo diz ser bastante metódico e que as pessoas à sua volta também precisam de o ser. Acredita que só com rigor e pormenor é possível atingir o mais alto nível.
Observei os últimos 3 jogos do "seu" Alverca e existem algumas ideias base que conseguimos reter e que podem evidenciar traços das suas ideias futuras. Nós últimos 3 jogos, o Alverca apresentou-se num 3-4-3, sendo que defensivamente se organizam num 5-4-1. Variam a sua fase de construção - curta e longa - mas destaco o facto de um dos seus centrais assumir a função de "6" em pontapé de baliza, juntando-se a um dos médios - fazendo uma quadrado com os centrais numa fase inicial. Há critério, mas existe sobretudo verticalidade e rapidez nos processos.
No entanto, é em organização defensiva que mais gostei de ver esta equipa, mais concretamente em pressão alta. A quantidade de bolas recuperadas no primeiro terço adversário diz muita da quantidade de oportunidades criadas pela equipa. Não se tratando de uma marcação homem-a-homem, torna-se impressionante a forma como conseguem direcionar a pressão para um dos corredores e a forma como conseguem "abafar" a construção adversária, tendo por vezes dois jogadores sobre o portador da bola. Arrisco-me a dizer que me faz lembrar um pouco do Benfica de Roger Schmidt no seu primeiro ano do Benfica. Esta recuperação alta proporciona então vários momentos de contra-ataque rápido que inclusive já resultou em golos.
No que diz respeito à transição defensiva, talvez este seja o momento da equipa com maiores dificuldades. Apesar de serem muitos fortes na reação à perda, principalmente em zona mais alta do terreno, existem individualidades que apresentam algumas dificuldades de recuperação no terreno, o que proporciona consequentemente mais espaço para o adversário explorar.
Não olhando muito para as bolas paradas ofensivas, onde sabemos que as mesmas variam imenso de jogo para jogo conforme o adversário, as bolas paradas defensivas (mais concretamente os cantos) são defendidas de uma forma zonal.
Outras das coisas que mais me chamou a atenção foi a forma como, mesmo com menos 1 jogador em campo (expulsão), não abdicou dos seus princípios. Falo mais concretamente no jogo frente ao Lusitânia de Lourosa (já com a classificação determinada, é certo) onde não abdicou de sair de forma curta e apoiada e onde continuou a pressionar alto. Mostra alguma ousadia e convicção de que é possível jogar de forma semelhante mesmo com menos 1 jogador.
A somar a tudo isto e fora do campo, mostra-se ser um treinador inteligente com uma capacidade brutal de se adaptar a vários contextos, preparando-se para adquirir várias tarefas que acredita serem necessárias enquanto treinador de futebol.
"Existe um trabalho da minha parte que envolve muito a recuperação mental, algo que valorizo bastante. Não quero estar no futebol em modo sobrevivência, quero desfrutar e para isso preciso de ter saúde e para ter saúde tenho de cuidar de mim, do ponto de vista físico e mental. Faço meditação, exercício físico e tenho a minha forma de desligar do futebol para ter outros hobbies ou o simples facto de estar com a família. Depois é trabalhar com um conjunto de pessoas que me permitem ser um treinador cada vez mais forte em várias áreas: imagem, comunicação - é importante comunicar em vários idiomas para estarmos mais próximos e mostrarmos respeito por quem nos rodeia -, novas tecnologias - a inteligência artificial é cada vez mais uma realidade - e nutrição."
João Pereira em entrevista à Flashscore
Depois do sucesso que por pouco não resultou em subida do Amora para a Segunda Liga e depois da conquista da Liga 3 pelo Alverca, João Pereira chegará com apenas 32 anos à Primeira Liga. Que este palco seja a confirmação do seu potencial. Continuarei atento ao seu percurso.
PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.
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