Ao analisar os resultados e os golos marcados das equipas classificadas abaixo do quarto lugar deparei-me com uma realidade que merece ser estudada para tirar ilações deste paradoxo. Constato que alguns clubes (seis) marcaram mais golos fora do que em casa e que em termos de pontuação, à exceção do Estoril, do Vitória de Setúbal, os quais ganharam mais pontos em casa, e do Rio Ave, que adquiriu muitos mais pontos como visitante. Para os restantes, os pontos conquistados em casa e fora são praticamente idênticos.
O caso do Rio Ave é significativo. Como visitante ganhou 19 pontos e como anfitrião somente consegui 10. Se a equipa de Vila do Conde em casa conseguisse a mesma percentagem que obteve fora, 2,1 por jogo, neste momento somava 43 pontos e estaria em terceiro lugar.
Sabe-se que os princípios de jogo, quer se jogue em casa ou fora, devem ser interpretados da mesma forma. Se os jogadores são todos profissionais devem, por isso, reunir atributos para realizarem o seu trabalho em qualquer estádio. Se os campos têm as mesmas medidas. Se jogam 11 de cada lado.
A razão deste fenómeno acontece porque o nosso futebol só tem duas equipas a lutar pelo título, porque o inferior valor das restantes é parcialmente idêntico. Naturalmente que neste contexto as equipas que realizem um campeonato mais equilibrado e homogéneo sobressaem pela positiva, como é o caso do Paços de Ferreira, e pela negativa, o intermitente SC Braga.
O porquê desta realidade deve-se às táticas apresentadas pelos treinadores: adotam uma estratégia com predominância defensiva e apostam no contra ataque e nos lances de bola parada. Ao reduzir espaços ao opositor tentam não sofrer golos, jogam para não perder e quanto mais se prolongar o 0-0, tiram partido do nervosismo e da ansiedade dos adversários. E até podem ganhar o jogo.
Mas se esta tática premeditada e recorrente resulta na situação de visitante, em casa, perante a exigência do público e da “obrigação” de ganhar, a filosofia de jogo altera-se, exige-se a apresentação de um modelo com preponderância atacante. E nesse caso volta-se o feitiço contra o feiticeiro.
Se as equipas forem coerentes na interpretação correta dos princípios de jogo, ou seja, atacar quando a equipa tem a bola, e defender quando ela está na posse do adversário, se esquecerem o “autocarro” e jogarem o jogo pelo jogo, talvez lucrem mais em termos de pontos e de apreço e respeito por parte do público.
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