A mente de cada treinador trabalha de forma diferente. Uns (raras exceções) são visionários, estudam, elaboram e concretizam essas visões. Criam, renovam, reformam e inventam futebol. Outros continuam a repetir os métodos de trabalho que adquiriram durante o tempo em que foram jogadores. E há aqueles que aprendem nos livros. Nesta época da tecnologia surgiu o Scouting. E alguns treinadores preocupam-se demais em estudar o adversário ao pormenor. O que interessa analisar os adversários até à exaustão, se depois não se encontram argumentos e soluções para o anular, e superar?

Ontem, mais uma vez, o Sporting demonstrou um estilo de jogo indefinido. Um estilo ambíguo, por previsível e descontínuo. O jogo flui mais por iniciativas individuais do que pelo coletivo. Não abundam as jogadas de ligação entre os setores. O positivo da equipa está mais dependente da iniciativa do que cada jogador faz per si, do que do planeamento.

O futebol leonino neste momento é confuso, não tem uma definição, nem uma filosofia de jogo. É pena, pois o Sporting tem jogadores para construir uma equipa capaz de praticar um futebol fascinante, dada a capacidade técnica dos seus elementos. Sá Pinto terá de corrigir muita coisa.

Ontem foi visível a inoperância do meio campo. Hoje, os “futebólogos” falam de números: 6, 8 e 10. Como se cada um destes números tivesse uma missão exclusiva. É preciso de uma vez por todas compenetrarem-se que qualquer jogador da zona intermédia -ou não - tem missões defensivas e atacantes, em função de quem tem a bola. O que acontece é que com esta indefinição até os jogadores ficam baralhados. Defendo? Ataco? O que eles precisam é de liberdade de decisão. Ontem, depois das substituições, a ordem foi mesmo defender. Mas defender convida o adversário a atacar e…

Outras situações que Sá Pinto terá de retificar é o aproveitamento do melhor jogador Izmailove. Sim, “Love”, pois quem admira futebol tem de gostar dos atributos deste enorme jogador. Todavia, desde que o russo veio para o Sporting, pasme-se, nenhum treinador o colocou no lugar onde as suas características seriam ainda mais relevantes. Quando falo de futebol com o meu amigo e treinador Manecas, interrogamo-nos. Vá-se lá saber porquê?

Rui Patrício é um excelente guarda- redes. Neste momento deve estar entre os 10 melhores do mundo. Mas ontem no golo sofrido não se colocou corretamente. Quem é que lhe disse que nos livres o guarda-redes se deve colocar no lado oposto da barreira? Onde o guardião nestas circunstâncias deve estar é ao meio da baliza, pois terá mais possibilidades de defender. Contudo se o livre for bem marcado não tem hipóteses, mas posicionado-se no poste contrário é impossível!

Outra questão que Sá Pinto terá de melhorar é a prestação de Wolfswinkel. A jogar num 4x3x3, o ponta de lança não deve, nem pode, deslocar-se para os corredores laterais. Primeiro, porque fica distante do seu habitat. Segundo, como o holandês não é omnipresente, quando centrar a bola para ele próprio, não está lá para a receber. Este jovem é um excelente profissional: corre, bate-se, solicita os passes. Mas precisa de ser aconselhado a pisar zonas mais propícias para o seu papel de goleador. Quando isto suceder Wolfswinkel marcará mais de três dezenas de golos por época!