Ontem assistimos a um grande espetáculo de futebol no Teatro dos Sonhos. Sabendo-se que esta peça em dois atos era de autoria de dois dos melhores autores do Mundo, e que os atores fazem parte da elite futebolista, o público apaixonado do futebol esgotou a casa, e milhões assistiram através da televisão.

Nestas peças, apesar do guião dos autores e das alterações nas encenações, são os intérpretes que improvisam, empolgam e dão vida ao jogo. O primeiro ato foi intenso mas muito calculista. Valeu pela entrega e pela atitude profissional do elenco e por algumas (poucas) oportunidades de golo. Três, para o Manchester e uma para o Real.

Como se sabe, até ao correr do pano o desfecho final é imprevisível. Contudo, logo no início do segundo ato, Sérgio Ramos foi infeliz e marcou na própria baliza. Este parecia ser o momento chave para um final feliz dos ingleses. No entanto, o árbitro turco Cüneyt Çakir, que tem como papel pôr ordem na coreografia, resolveu ser um dos protagonistas, e para além de ignorar quatro lances passíveis de grande penalidade, inexplicavelmente resolveu expulsar Nani.

Após a expulsão tudo se alterou. Para usufruir da vantagem de ter mais um jogador em campo. Mourinho alterou o posicionamento dos seus elementos ao trocar Arbeloa por Modric. Este sagaz treinador acertou em cheio, pois passados alguns minutos o croata marcou um golo espetacular, e logo de seguida Cristiano deu a volta à eliminatória. Quando se esperava que o contínuo domínio do Real proporcionasse uma goleada? Mourinho com a entrada de Pepe pensou em segurar a vantagem, mas perdeu a dinâmica atacante, e ia borrando a pintura.

A emoção estava ao rubro. Os bravos britânicos mesmo com dez superaram-se, galvanizaram-se, pressionaram e criaram várias oportunidades para recuperarem a eliminatória, valeu a agilidade de Diego Lopez que realizou defesas do outro mundo. Só nos minutos finais o Real aproveitou o esforço e o adiantamento dos ingleses e em contra ataque poderia ter elevado o marcador. Duas vezes por Ronaldo e uma por Kaká.

Quando os guarda-redes são os melhores intérpretes, é sinal que as equipas jogaram futebol de ataque, num tu cá tu lá, sempre com o golo como objetivo. Estes jogos a eliminar geram emoções profundas dentro e fora do campo, dado o valor equilibrado das equipas, o que aumenta a incerteza quanto à continuidade na prova. Este jogo foi um verdadeiro hino ao futebol. Nesta final antecipada, ambas as equipas mereciam continuar na Liga dos Campeões. Mas só o Manchester saiu de cena.

No positivismo deste jogo, incluo o fair play dos adeptos os quais receberam Cristiano Ronaldo e Mourinho com cânticos alusivos à classe de ambos. Realço o respeito, e a amizade exemplificada no nobre gesto de Cristiano Ronaldo, marcou um golo importantíssimo, mas por consideração não o festejou, e até pediu desculpa. Os autores, Mourinho e Ferguson são rivais, mas amigos e no final nos camarins confraternizaram bebendo um copo juntos. O futebol é apenas um jogo. A vida continua.