No lançamento deste Benfica-Sporting falámos do poderia acontecer. Falámos de psicologia, do espectro de 85/86, dos modelos de jogo antagónicos, do aproveitamento das virtudes e dos defeitos dos mesmos, da criatividade individual e dos possíveis erros de arbitragem.

Tal como se esperava, o Benfica, face à rivalidade e à responsabilidade deste jogo, encarou o encontro com o Sporting com imensa ansiedade. Foi uma equipa receosa, inibida e desorientada até à marcação do primeiro golo. Contrariamente ao Sporting, que abordou o jogo confiante e descontraído, dado que nada tinha a perder.

Este inibidor de ideias, e de imaginação, foi um dos cernes que influenciou a má prestação dos jogadores do Benfica, os quais, com exceção dos lances dos golos, nunca conseguiram pôr a funcionar os habituais mecanismos. Subsequente, não se entenderam com a estratégia apresentada por Jesualdo Ferreira, a qual manietou a costumada filosofia atacante das águias.

O futebol do Benfica raramente se libertou do colete-de-forças leonino, e na maioria das vezes foi trapalhão, com imensos passes falhados, falta de velocidade e mudanças de ritmo, sem ligação entre os sectores e de alívios inabituais. Um futebol desinspirado, sem a usual construção das jogadas letais nos corredores laterais e muito menos pela serventia central.

Se o modelo 4x4x2 do Benfica não funcionou foi por culpa própria, e do Sporting. Já o 4x3x3 do professor foi mais equilibrado e resultou melhor na Luz. Esteve bem a defender e saiu a propósito em alguns ataques rápidos, os quais na maioria foram intercetados de forma ilegal. A boa organização defensiva criou superioridade numérica no meio-campo 3x2, e os médios alas muito atentos obstaculizaram os avanços dos laterais das águias. O futebol atacante sem “asas” não voa.

Este jogo, para além da incerteza do resultado final, a qual só terminou com a marcação do segundo golo, foi um encontro sem mais oportunidades de golo. Os guarda-redes não realizaram uma defesa difícil. Foi como na maioria dos clássicos um jogo que ficou aquém das espectativas.  

Mas um Benfica-Sporting é sempre um clássico especial onde a rivalidade se gladia verbalmente de forma apaixonada, a qual se manterá eternamente. Aliás, este jogo vai estar na ordem do dia. A discussão dividir-se-á entre a emoção e a razão, mas perpetuar-se-á a terceiros.

As virtudes deste embate vão para o plano apresentado por Jesualdo, do qual resultou a pragmática exibição leonina. O futebol do Sporting foi sempre o mais esclarecido. E vai também para a inspiração do até então desinspirado Gaitan, o qual depois de estar na origem do primeiro golo, fez no segundo uma obra de arte, que merece ser exposta em qualquer museu de futebol. Também o civismo dos espetadores merece o aplauso por não ter causado qualquer tipo de desacatos.

Os defeitos vão para o “mestre” Jesus, o qual, desta vez, não encontrou antídoto para superar o modelo antagónico que manietou o sincronismo habitual das águias. Um sistema mais que acessível face a uma assertiva posse de bola e a esclarecidas respostas atacantes.  

Contudo, o grande destaque vai para o árbitro João Capela. Um seguidor da escola inglesa dado que só aos 15 minutos apitou a primeira falta. Talvez embalado com a filosofia britânica? Ignorou quatro grandes penalidades a favor do Sporting e uma a favor do Benfica. Errar é humano. Todavia erros consecutivos por incompetência ou por outra qualquer razão, geram as mais diversas e depreciativas conjeturas!