
O Tribunal de São João Novo, no coração do Porto, tornou-se o epicentro de um julgamento que mantém o país atento. A terceira sessão do processo da Operação Pretoriano, que envolve 12 arguidos, entre eles Fernando Madureira, antigo líder dos Super Dragões, e a sua mulher, Sandra Madureira, está a ser acompanhada de perto por adeptos e curiosos.
No entanto, a história não se desenrola apenas dentro da sala de audiências. Junto ao tribunal, a indignação tomou forma na voz de João Silva, sócio do FC Porto, que relembrou a noite conturbada da Assembleia Geral do clube a 13 de novembro de 2023.
"Estão todos a mentir!"
João Silva não hesitou em partilhar a sua versão dos acontecimentos, em declarações ao SAPO desporto. "Eu estava lá. Vi tudo. Vi pessoas a serem agredidas, vi os Super Dragões a mandarem gente embora, e vi seguranças a deixarem entrar pessoas que nem sequer eram sócias do clube. Estão todos a mentir ali dentro!", afirmou, apontando para o tribunal.
A sua revolta ecoou entre os presentes. "Isto não é justiça. Isto é uma farsa. Quem devia estar a ser julgado são os que permitiram que aquela noite se transformasse num caos", desabafou outro adepto.
João Silva recordou um episódio que testemunhou naquela noite e que contradiz a versão apresentada pela maioria dos arguidos. "Estive horas na fila para a acreditação. A fila ia até ao final do viaduto que antecede a entrada para o P1. Vi um homem a furar a fila. Quando as pessoas começaram a reclamar, um dos Super Dragões aproximou-se, perguntou-lhe pelo cartão de sócio, ele disse que não tinha, e ainda assim recebeu uma pulseira para entrar. Quando a indignação cresceu, a resposta foi clara: ameaças físicas a quem ousasse contestar."
No interior do pavilhão, o cenário descrito foi ainda mais grave. "Os seguranças abriram a porta para um grupo de cerca de 30 pessoas. Nenhuma delas tinha pulseira, nem lhes pediram o cartão de sócio. Sabe porquê? Não eram sócios! E entraram… alguns até andaram a ameaçar e a coagir quem estava ali por direito", relatou.
Indignado, concluiu: "É inacreditável como conseguem dizer que não fizeram nada. É gozar com a cara de todos – da juíza e de quem passou por este terror."
Segurança reforçada e tensão no tribunal
O ambiente no tribunal era de alguma tensão. As autoridades reforçaram a segurança devido à presença de André Villas-Boas, presidente do FC Porto, que compareceu como representante da SAD do clube. Fernando Madureira, detido preventivamente, entrou discretamente pela garagem do edifício, evitando o contacto com a multidão.
Os 12 arguidos enfrentam acusações que vão desde coação e ameaça agravada até ofensas à integridade física e atentado à liberdade de informação. Macaco, Sandra Madureira e outros dez arguidos respondem a um total de 31 crimes, num processo que promete expor os detalhes sombrios daquela noite de novembro.
Villas-Boas: uma presença silenciosa, mas decisiva
André Villas-Boas chegou ao tribunal acompanhado pelos advogados, sem prestar declarações à imprensa. Contudo, no interior da sala de audiências, o seu testemunho contrastou fortemente com a defesa dos arguidos, reforçando as acusações que pesam sobre os envolvidos.
Curiosos, céticos e indignados
Enquanto os depoimentos decorriam, do lado de fora do tribunal a revolta mantinha-se viva. Barreiras policiais separavam os presentes do edifício, mas o sentimento de indignação era evidente. "Isto é só a ponta do icebergue", comentou uma mulher que preferiu manter o anonimato. "O clube está a ser manchado por uns quantos que acham que estão acima da lei."
Outros, no entanto, mostravam-se céticos quanto ao desfecho do julgamento. "Vamos ver se isto vai a algum lado, ou se será mais um caso que acaba em nada", lamentou um jovem adepto.
Um julgamento com impacto para além do tribunal
À medida que o julgamento avança, uma coisa é certa: a Operação Pretoriano já deixou marcas profundas no FC Porto e no futebol português. As acusações, os depoimentos e as memórias daquela noite continuam a alimentar debates e a dividir opiniões.
Enquanto a justiça tenta deslindar os factos, vozes como a de João Silva lembram que, por trás dos processos judiciais, há histórias reais de pessoas que viram a sua paixão pelo clube manchada pela violência e pela impunidade.
Entre a frieza do tribunal e a fervorosa indignação nas ruas, o julgamento da Operação Pretoriano continua a escrever um dos capítulos mais controversos da história recente do futebol português.
Comentários