Um estudo hoje apresentado revela que os atletas de alta competição têm pouco acesso a cuidados de saúde mental, com o estigma sobre estas patologias a ser ainda bastante elevado.

O estudo, que tem uma amostragem não probabilística, por não ser representativa, obteve 173 respostas, mas apenas 147 foram aceites, numa idade compreendida entre os 18 e os 94 anos, sendo que cerca de 76% dos quais já estavam numa fase pós-carreira.

Em declarações à agência Lusa, Maria João Heitor, responsável pelo estudo, referiu que foi em atletas em competição que foram encontrados “o maior número de sintomas relacionados com ‘burnout’, depressão e ansiedade, salientando que, os atletas paralímpicos ou surdolímpicos que responderam, “apresentaram sete vezes mais sofrimento psicológico do que os atletas sem incapacidades”.

O estudo, efetuado pelo Observatório da Saúde Mental, em cooperação com a Associação de Atletas Olímpicos de Portugal (AAOP), foi hoje apresentado no II Seminário Nacional de Saúde Mental no Desporto de Alta Competição, que se realizou no Estoril.

“Em relação ao acesso aos profissionais de saúde mental, cerca de 36% não têm acesso à psicologia e mais de 90% dos atletas não têm acesso a cuidados de psiquiatria”, assumiu a responsável.

Para Maria João Heitor, em relação ao estigma sobre este assunto, que “é muito importante”, “embora a maioria se considerasse confortável em falar dos seus problemas com os colegas, com o clube, um em cada quatro referiu que não tinha essa coragem e teria receio de se expor”.

A responsável quer apostar numa maior divulgação do próximo estudo, sendo que, “além de atingir uma amostra maior, também será importante atingir uma diversidade de modalidades desportivas tão grande como possível”.

“O mais importante, não só no desporto, mas também da população no geral, o primeiro passo é apostar na promoção da saúde mental, na prevenção do sofrimento psicológico e da doença mental e num diagnóstico muito precoce de atletas em risco. Em termos de prevenção é a grande aposta”, afirmou.

De acordo com o presidente da AAOP, Luís Alves Monteiro, o estudo servirá para pedir reuniões na Assembleia da República, seguindo também uma sugestão de Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde, que foi homenageada.