Treinador adjunto de Artur Jorge no FC Porto, com quem partilhou a conquista de vários troféus nacionais e o título de campeão europeu, Octávio Machado considerou hoje que o antigo selecionador nacional foi uma grande figura do futebol português.
“O seu nome está ligado a grandes momentos do futebol português e europeu. É uma grande figura do futebol português por direito próprio. Além dos resultados desportivos, foi um líder no caminho para a liberdade contratual dos jogadores e para o fim da Lei de Opção”, lembrou, à agência Lusa, Octávio Machado, que formou com Artur Jorge uma dupla que desempenhou um papel crucial na projeção internacional do FC Porto.
Octávio Machado destaca a importância de Artur Jorge na emancipação e na liberdade dos futebolistas profissionais portugueses: ”Foi presidente do sindicato [de jogadores] num momento histórico para os futebolistas portugueses que hoje usufruem da liberdade contratual conquistada por ele e por outros, como o António Simões, o Toni e eu, cujo papel foi decisivo”.
No campo desportivo, lembra o facto de ter sido o primeiro treinador português campeão europeu, “por mérito seu e da equipa do FC Porto”, na final de Viena, que “despertou a Europa para a qualidade do futebol português”.
Questionado sobre a influência que Artur Jorge teve na reviravolta do FC Porto após o intervalo da final da Taça dos Campeões Europeus de 1987, frente ao Bayern Munique, Octávio Machado considera que foi determinante.
“Sim, ao intervalo, ele transmitiu aos jogadores palavras simples que estes compreenderam e assimilaram na perfeição. Tínhamos meia parte para projetar o FC Porto e o futebol português para outro patamar e o Artur Jorge passou a mensagem de uma forma muito eficaz, que terminou assim: ‘temos 45 minutos para ficar na história’”, recordou.
Sobre os altos e baixos do seu relacionamento pessoal e profissional com Artur Jorge, Octávio não fugiu à questão.
“Quando trabalhámos juntos, fiz a minha parte e penso que fi-la bem. Depois, a certa altura, o Artur Jorge foi para o Paris Saint-Germain e convidou-me para seu adjunto, mas eu optei por ficar no FC Porto, com Tomislav Ivic, para dar continuidade ao trabalho que tinha sido feito e que nos levaria a outras grandes conquistas como a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental. O FC Porto foi a primeira equipa europeia a conquistar todos os títulos no mesmo ano”, salientou.
Não seria, no entanto, a ida para França de Artur Jorge a provocar o corte de relações entre ambos: “Quando o Artur Jorge veio para selecionador nacional, estava eu no Sporting, voltou-me a convidar para trabalhar com ele, convite que aceitei. O presidente José Roquette acedeu a libertar-me do compromisso com o Sporting para que eu pudesse ir para a seleção. Entretanto, estava eu com o Sporting no estrangeiro, houve um reunião com Artur Jorge e outras altas figuras do futebol português, as quais inviabilizaram a minha ida. Fui vetado. Quando o Artur Jorge me ligou, eu não aceitei as explicações dele. E nunca mais falámos”.
Artur Jorge, antigo futebolista, morreu hoje, aos 78 anos, depois de uma carreira de mais de duas décadas como treinador, tendo conquistado a primeira Taça dos Campeões Europeus do FC Porto, ao serviço do qual se sagrou três vezes campeão nacional.
Conquistou ainda um título francês, pelo Paris Saint-Germain, e um saudita, pelo Al Hilal, como treinador, carreira pela qual enveredou depois de ter sido avançado, internacional em 16 ocasiões.
Como jogador, teve passagens por clubes como FC Porto, Académica, no qual conciliou a modalidade com o estudo de filologia germânica, Benfica, conquistando quatro títulos de campeão e duas Taças de Portugal, e Belenenses, antes de terminar a carreira nos norte-americanos do Rochester Lancers.
Foi ainda selecionador de Portugal, em duas ocasiões, Suíça e Camarões.
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