Artur Lopes aconselhou o próximo presidente do Comité Olímpico de Portugal “a deixar a casa como está”, considerando que basta aprofundar o trabalho feito por José Manuel Constantino, o amigo “adorável” que tem a honra de substituir.
“É fácil substituir [Constantino] se alguém que vier não quiser tornar a missão impossível. Impossível se quiser começar a alterar a casa tal como ela está. Criar coisas ou modificar coisas em sítios onde está tudo mais ou menos correto. Haverá aqui e ali que aperfeiçoar, mas basta isso para fazer um mandato ótimo, porque está tudo montado nesta casa. O trabalho árduo que foi feito já está a funcionar. O comboio está a andar, basta manter a carruagem no mesmo trilho”, analisou.
Com as eleições para a presidência do organismo previstas para o primeiro trimestre de 2025 e um candidato – Laurentino Dias – já anunciado, Artur Lopes antecipa que “as coisas poderão não andar muito bem” se o próximo líder do Comité Olímpico de Portugal (COP) optar por “complicar” a sua tarefa, apostando em deixar o seu cunho e “alterar isto, criar aquilo”.
“Se é que me é permitido dar algum conselho ao vindouro, que deixe estar a casa como está. Que continue a trabalhar e a aprofundar o trabalho que está feito. Com essa manutenção, vai ao fim desses quatro anos chegar a um bom resultado seguramente, porque tem aqui técnicos em todas as áreas de qualidade suficiente para responder aos desafios”, salientou, em entrevista à agência Lusa.
Artur Lopes assumiu a presidência do COP depois da morte de José Manuel Constantino, o pensador do desporto que liderou o organismo entre março de 2013 e 11 de agosto, quando faleceu vítima de doença prolongada.
“Sabe a minha relação muito profunda, pessoal e humana com José Manuel Constantino e a admiração que eu tinha e continuo a ter por ele, tudo aquilo que ele representou para o desporto nacional. O desporto que não era a minha profissão mas que eu abracei como hobby e acabou por ser parte bastante importante da minha vida. A comissão executiva entendeu que devia ser eu a avançar”, recordou.
Antigo presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, foi vice-presidente do COP há 24 anos, tendo iniciado funções com Vicente Moura e cumprido os três mandatos de José Manuel Constantino.
“Depois, teve de haver uma retificação com a assembleia eleitoral [plenária], com todas as federações, que me deu o prazer e a honra de uma unanimidade. Não por mim, mas se calhar por aquilo que eu representava em relação ao que vinha diretamente do José Manuel”, evidenciou.
Artur Lopes irá exercer funções até ao fim do mandato da atual equipa, reconhecendo que o trabalho à frente do COP é “mais do que pensava”.
“Mas devo dizer que faço [o trabalho] não com orgulho, mas com muita força no sentido de não desapontar” José Manuel Constantino, confidenciou, revelando ainda que muitas vezes se questiona o que faria o antigo presidente no seu lugar.
O líder do COP admite mesmo que as pessoas do organismo possam gostar menos de si do que de Constantino, “porque ele era, de facto, adorável em tudo”.
“Era uma pessoa que conseguia controlar as situações, não sabia dizer que não, mas esta casa ainda tem, fruto de muitas situações, problemas económicos que tem que resolver e que, portanto, só há uma maneira de resolver. Às vezes, é cortar em […] algumas ‘gorduras’. Não no essencial, não no que é famoso e que esta casa criou e deu a fama que tem, mas em questões mais supérfluas, que as pessoas terão de compreender”, referiu.
Constantino quereria deixar “seguramente” um legado de qualidade, segundo Lopes. “Já está. De qualidade e quantidade, já está. De imagem, já está. E equilibrado sobre o ponto de vista económico – temos que, até ao fim de março, fazer um trabalho árduo para que ele fique muitíssimo bem equilibrado para o [presidente] vindouro. E aí é a única coisa que posso ter de fazer até ao fim do ano, porque toda a equipa que aqui existe apoia o presidente de uma maneira. Eu ando aí ao colo”, elogiou.
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