O treinador português Sérgio Traguil estreia-se em fevereiro no Girabola de futebol, dando continuidade em Angola à carreira que iniciou em 2009 e tem em África uma espécie de "íman", como assumiu em entrevista à agência Lusa.
Aos 36 anos, já leva no currículo clubes da Nigéria e do Gana, além de Portugal, e volta agora à terra da mãe e onde nasceram os irmãos, Angola, para liderar o Santa Rita de Cássia, do Uíge, surpreendente estreante no Girabola de 2017, cerca de um ano e meio depois da fundação.
"O meu sangue é africano, a minha família é originária de Angola. É tipo um íman, parece que está sempre a puxar-me para estes lados. Adoro o futebol africano, existe um talento enorme em todos os países por onde tenho passado", contou Sérgio Traguil.
Em Angola desde o início de janeiro, o português, que tem no currículo, além das escolas do Benfica, clubes como o Atlético Clube Portus Alacer, Estrela de Portalegre ou os nigerianos Kaduna United, Elite Football Academy e AGO FC, assumiu o desafio de manter o clube do centro norte, província conhecida pela produção de café, entre os maiores do futebol angolano.
"O nosso objetivo é a manutenção. Não vamos andar aqui a criar filmes, situações irreais. Penso que 32 pontos serão suficientes, mas eu quero mais", afirmou, em Luanda, onde a equipa está há duas semanas a preparar o arranque do Girabola.
Em dezembro de 2016, rescindiu com o Hearts of Oak, da primeira divisão do Gana, um dos maiores do país "com milhões de adeptos" e que chegou a levar à liderança, para assinar um contrato de dois anos com o clube da província angolana do Uíge.
Em poucos dias, o contrato passou a ter uma opção de mais três anos e uma cláusula de rescisão de um milhão de dólares (cerca de 940 mil euros), com a direção a querer blindar o assédio da concorrência.
"Sei que já houve conversas [interesse de outros clubes angolanos], mas só penso no Santa Rita", assegurou o português, que orienta agora 30 jogadores, entre "rapazes da terra" e de outros pontos do país. Também congoleses, nigerianos, ganeses e até um brasileiro, num plantel que admite ser "extenso", mas necessário, para criar a mística com jogadores da província.
"A direção fez uma aposta em mim, com uma cláusula avultada. Penso que continuarei aqui uns belos anos", frisou.
Fundado a 29 de agosto de 2015, campeão provincial e da ‘Segundona’ (segunda divisão) em 2016, o Santa Rita de Cássia FC representa o regresso do Uíge ao campeonato maior de futebol em Angola, graças à mobilização do apoio de empresários locais e do governo da província.
O orçamento para toda a época ronda os 450 milhões de kwanzas (2,5 milhões de euros), com o presidente do clube a garantir que será suficiente até terminar a competição de 2017 e assegurar a manutenção no Girabola.
"Somos um clube poupado e honrado", começou por explicar, à Lusa, Nzolani Pedro, assumido devoto de Santa Rita de Cássia, conhecida como a santa das causas impossíveis.
"O Santa Rita de Cássia é uma equipa ‘santa' e por isso tem de ser diferente dos outros. Aqui não há os milhões que os outros clubes pagam", referiu o presidente.
O dirigente é um crítico das verbas que alguns clubes angolanos gastam no futebol, em contratos que acabam por não ser cumpridos, levando até a greves, como no Girabola de 2016.
"Temos fé que vamos cumprir o nosso objetivo, de manutenção. Estamos muito satisfeitos com o professor Sérgio e com a sua forma de trabalhar, foi uma surpresa positiva. Pena não ter chegado mais cedo", assume Nzolani Pedro.
O Girabola arranca a 11 de fevereiro, prolongando-se até final de outubro de 2017.
Sérgio Traguil já prepara a receção na cidade do Uíge ao Recreativo do Libolo, vencedor da Supertaça e da Taça de Angola em 2016 e do Girabola em 2015 e 2014, e logo na jornada de estreia terá pela frente outro português: Carlos Vaz Pinto, que em 2017 troca a Académica do Lobito pela formação do Cuanza Sul.
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