No final do clássico no Dragão, Jorge Jesus atribuiu parte da culpa pela derrota do Sporting a Iker Casillas, cuja exibição tremenda ajudou a segurar o 2-1 para o FC Porto. Duas semanas depois, o técnico pode agora agradecer a Rui Patrício (ou São Patrício, se quisermos ser mais justos), que nem em noite de festa – cumpriu este sábado o 400º jogo de leão ao peito - teve direito a ‘folga’ na baliza leonina.

O Rio Ave foi um adversário atrevido, especialmente nos primeiros 25 minutos, e só mesmo o guardião pôde travar as investidas dos vila-condenses. Já Alan Ruiz parece não querer as luzes da ribalta projetadas apenas em Tiquinho Soares, nova coqueluche dos ‘dragões’, e vai daí, toca a marcar pelo terceiro jogo consecutivo.

O jogo:

Tal como seria de esperar, Jorge Jesus voltou a apresentar novo onze em Alvalade – nunca repetiu uma equipa inicial em dois jogos consecutivos. Em relação ao jogo em Moreira de Cónegos, o técnico optou por lançar Jefferson para a lateral-esquerda e Paulo Oliveira para fazer dupla com Coates no eixo da defesa (Rúben Semedo ficou no banco), e fez subir no terreno Bruno César, em detrimento de Bryan Ruiz. E, a avaliar pelo que se viu na noite passada, ainda não foi desta que o treinador acertou.

Os ‘leões’ voltaram a demonstrar problemas no setor defensivo, muito por culpa de dois laterais especialmente intranquilos, a concederem muito espaço para a progressão de Gil Dias e Rúben Ribeiro, os mais endiabrados de um Rio Ave que provou merecer bem mais que a atual 10.ª posição no campeonato. E convém não esquecer que Luís Castro não pôde contar com vários jogadores para este encontro.

Gil Dias, protagonista da vitória por 3-1 no Estádio dos Arcos, quis repetir a ‘gracinha’ logo aos 11 minutos, mas teve pela frente Rui Patrício, que conseguiu manter a sua baliza inviolável até ao apito final pela primeira vez em 2017. Seguiram-se-lhe Gonçalo Paciência (13’) e Krovinovic (16’), mas o guardião ‘leonino’ esbatia toda e qualquer ameaça dos vila-condenses com intervenções de grande categoria. Se Jefferson e Schelotto não eram religiosos, depois desta noite bem podem acender uma vela em homenagem a São Patrício, que muito fez pelos dois jogadores nestes primeiros minutos.

Com uma defesa tão apática, o Sporting acabou por ser feliz no capítulo da finalização. Numa altura em que todas as setas estavam apontadas à baliza de Rui Patrício, William Carvalho ganhou a bola a Gil Dias e desmarcou Gelson Martins. O ‘miúdo’ encheu o pé e desferiu um primeiro remate defendido por Cássio mas, na recarga, Alan Ruiz não perdoou e fez o terceiro golo em três jogos consecutivos. E na primeira oportunidade que dispôs, a equipa de Alvalade fez o que tinha a fazer: marcar. Tão simples quanto isso.

Rui Patrício voltou a agigantar-se ao minuto 25, travando uma bomba de Rúben Ribeiro, que ainda tocou em Paulo Oliveira. Duas conclusões a tirar deste lance, a encerrar aquela que foi a sequência mais interessante de toda a partida. Primeiro, que o Rio Ave não ia prestar vassalagem ao ‘leão’, mesmo depois do golo de Ruiz. Segundo, que o senhor 400 jogos parecia mesmo determinado em sair de Alvalade como o melhor jogador em campo.

Tal como nos encontros anteriores, só na segunda parte é que houve mais Sporting, ainda que de forma bem menos intensa, mas a conseguir estancar as investidas da equipa de Luís Castro, que perdeu algum do fulgor inicial, à exceção dos minutos finais – Roderick chegou mesmo a marcar aos 90+2, mas o árbitro Bruno Esteves invalidou (e bem) o lance por fora de jogo do defesa. Da história da segunda parte fica ainda a lesão de Adrien, que acabou por ser substituído por Palhinha – antes já tinham entrado Bryan Ruiz e Podence. O capitão falha a visita ao Estoril, mas por ter visto o quinto amarelo.

O momento:

Golo de Alan Ruiz: O único da partida, de resto. Ao minuto 20, isto quando ‘cheirava’ mais a golo do Rio Ave que do Sporting, William recuperou a bola no meio-campo e abriu bem para Gelson Martins. O extremo encheu o pé e rematou para defesa de Cássio, mas, na recarga, Alan Ruiz encostou para o 1-0. Eficácia ‘leonina’ ao mais alto nível.

A polémica:

Golo anulado ao Rio Ave: Já no tempo de compensação, Tarantini remata de fora da área e a bola vai parar aos pés de Roderick, que a coloca no fundo das redes. O defesa, contudo, estava em posição irregular no momento em que a bola ressalta num jogador do Sporting.

Os melhores:

Rui Patrício: Torna-se difícil arranjar mais adjetivos para qualificar a exibição do guarda-redes, que esta semana também celebrou 29 anos de idade. Mesmo que não tivesse brilhado, figurava nesta lista de qualquer maneira, pelo facto de ter cumprido o 400.º jogo ao serviço do ‘seu’ Sporting. Mas a verdade é que brilhou, com quatro grandes defesas e uma enorme segurança demonstrada entre os postes.

Alan Ruiz: Jorge Jesus parece ter encontrado o parceiro ideal de Bas Dost no ataque ‘leonino’. O argentino soma já três golos em três jogos consecutivos, mas ainda precisa de ter mais ‘pulmão’ para ficar ‘no ponto’. Acabou por sair pouco depois da hora de jogo para dar lugar a Daniel Podence.

Rúben Ribeiro: Foi talvez a maior dor de cabeça da defesa sportinguista. Apesar de ser um extremo, procurava muita vezes as zonas centrais, o que dificultou a tarefa a Schelotto. Esteve perto de marcar aos 25 minutos, num remate travado por uma grande defesa de Rui Patrício (quem mais?). Destaque ainda para um belo pormenor técnico ao minuto 80, a arrancar alguns aplausos das bancadas.

Os piores:

Schelotto e Jefferson: Tinham como missão anular a velocidade de Gil Dias e Rúben Ribeiro nas alas e viram-se gregos para o fazer, principalmente nos primeiros minutos. Não fosse a exibição inspiração de Patrício e a história deste encontro poderia ter sido outra.

Lesão de Adrien: O capitão abandonou o relvado ao minuto 81 muito queixoso do joelho, depois de uma disputa com Jaime Pinto. Mas mesmo que recupere nos próximos dias, o médio está fora do encontro da próxima jornada contra o Estoril, depois de ter visto o quinto cartão amarelo por falta cometida sobre Gil Dias.

Reações:

Gil Dias: "Sporting não perdeu por causa de Rui Patrício"

Rui Patrício: "Sonho ser campeão pelo Sporting"

Luís Castro: "Reclamei e fiquei frustrado pelo resultado"

Jorge Jesus: “Grandes equipas são as que ganham mesmo que não joguem bem”

Curiosidades:

- Com 29 anos e 3 dias, Rui Patrício é o jogador mais jovem de sempre do Sporting a atingir a marca de 400 jogos pelo clube. O guarda-redes voltou a não sofrer golos em Alvalade dois meses depois (vitória por 2-0 frente ao V. Setúbal)

- Foi a primeira vez que Alan Ruiz marcou em três jogos consecutivos (contra FC Porto, Moreirense e Rio Ave)

- Jorge Jesus venceu Luís Castro pela primeira vez na Liga. Das quatro vezes que se defrontaram, o técnico dos ‘leões’ averbou dois empates e uma derrota.

- O Sporting é a equipa do campeonato com mais vitórias pela margem mínima, sete no total.