Os adeptos portugueses estão contra a criação de uma Superliga europeia de futebol, posição idêntica à dos clubes do ‘top-200’ do ‘ranking’ da UEFA, disse hoje a presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA).

A APDA assinou um comunicado conjunto da Football Supporters Europe (FSE), que assume a oposição a um novo modelo de competição europeia que estará a ser preparado por alguns dos maiores clubes, que “os adeptos dos clubes portugueses assinaram de forma inequívoca”, frisou Martha Gens, em declarações à agência Lusa.

“Apesar de [em Portugal] não termos tantas equipas nas competições europeias como Espanha ou Inglaterra, por exemplo, já aqui se nota uma assimetria brutal na competitividade. A criação de uma Superliga europeia, que irá superar a Liga dos Campeões, vai ter um efeito desastroso na Liga nacional”, sustentou a presidente da APDA.

Diabos Vermelhos (Benfica), Bracara Legion e Red Boys Braga (Sporting de Braga), Colectivo Ultras 95 e Super Dragões (FC Porto), Brigada Ultras Sporting, Directivo Ultras XXI, Torcida Verde e Juventude Leonina (Sporting), Insane Guys e Grupo 1922 (Vitória de Guimarães) são os grupos oficiais de adeptos portugueses que figuram entre os signatários.

Sob o ponto de vista dos adeptos, as provas europeias são “um bónus” e “a cereja no topo do bolo”, pois “o mais importante são as competições domésticas”, onde não está a acontecer uma “proteção da cultura dos adeptos”.

“A pandemia mostrou que damos tudo, mas há que ver até onde os adeptos estão dispostos a ir. Ou criam uma Superliga europeia só para dar na TV, ou então há uma exploração assoberbada dos adeptos para ver dois ou três clubes e isto é subverter os valores do desporto”, criticou.

Além disso, a Superliga europeia iria acentuar a “falta de competitividade e as assimetrias” dos clubes portugueses em relação aos outros, mas também a nível interno, uma vez que “não há redistribuição de receita a nível nacional” e passaríamos a ter uma I Liga com “um ou dois clubes que vão à Superliga e depois o resto”.

“Ninguém quer ver o seu clube a ganhar 10-0 na mesma Liga, ou o contrário. Isto acaba por ser um produto que não vende, mesmo em termos de gestão dos direitos televisivos. Os efeitos colaterais são desastrosos”, assumiu a presidente da APDA.

O comunicado da FSE é assinado por 20 associações nacionais de adeptos da Europa, mas também, além dos adeptos portugueses, por grupos oficiais de apoiantes de vários clubes que têm sido apontados como fundadores da nova competição.

Adeptos de Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham (Inglaterra) Paris Saint-Germain (França), Bayern de Munique (Alemanha), Atlético de Madrid, Barcelona e Real Madrid (Espanha) fazem parte do grupo de signatários de clubes do ‘top-200’ da UEFA.

“Isto quer dizer imenso e a ideia da FSE foi precisamente essa, para que se perceba que estamos todos juntos contra um mal que é comum. Hoje, somos nós que, à partida, estaríamos fora, mas ninguém nos diz que daqui a 20 anos não sejam os adeptos desses clubes a ver-se nesta situação. Todos os adeptos, independentemente do seu clube, reconhecem que este modelo tem de ser travado”, frisou a representante portuguesa.

O comunicado da FSE sublinha ainda que a criação de uma Superliga europeia “destruiria o modelo europeu do desporto”, que assenta em princípios como “o mérito desportivo, a promoção e despromoção, a qualificação para competições europeias através do sucesso nacional e solidariedade financeira”.

“O seu raciocínio é simples: permite aos grandes clubes terem sucesso fora do campo, mesmo quando falham nas quatro linhas. Acaba com a magia de receber uma taça, com o sonho de vermos o nosso clube na Europa e vai contra o espírito do jogo. Todos os clubes devem ter igual oportunidade de se qualificarem para as competições europeias, com base no trabalho árduo, determinação e capacidade e não no tamanho do seu balancete patrimonial ou glórias passadas”, refere o comunicado da FSE.