'Uma mulher a falar de futebol, onde é que já se viu?', 'uma mulher treinadora, a sério?', 'uma mulher árbitra?', 'sabes em que baliza a tua equipa tem de marcar?', 'foi fora-de-jogo, sabes o que é?'.

Foi por comentários como estes, e não só, que a organização anti-discriminação 'Kick It Out' pôs mãos à obra para estudar a problemática do sexismo no futebol em Inglaterra. Os resultados são esclarecedores.

Mais de 50% das adeptas de futebol já sofreram alguma forma de sexismo em dias de jogos, sendo que as mais jovens, minorias étnicas e LGBTQ+ são particularmente afetadas por um problema crescente, de acordo com o estudo. A maioria dos incidentes ocorreu em jogos de futebol masculino.

Em concreto, a pesquisa indica que 52% das entrevistadas já foram vítimas de comportamento ou linguagem sexistas em dias de jogos e que 85% das 1502 participantes nunca apresentaram queixa formalmente. Como explicação, diz o estudo, está a pouca expectativa das queixosas na credibilidade que a sua queixa teria junto de uma instituição oficial e no tratamento, ou falta dele, que lhe estaria destinado.

Apesar do aumento crescente destes episódios, apenas 1 em 4 mulheres diz sentir-se insegura nos dias de jogos a caminho, nas imediações, ou no interior dos estádios. Não obstante, algumas mulheres relataram terem sido vítimas de toques inapropriados, violência física e agressão sexual.

Adeptos num estádio em Inglaterra.
Adeptos num estádio em Inglaterra. Adeptos num estádio em Inglaterra. créditos: AFP or licensors

Os comentários sexistas apresentam diferentes nuances. 53% das mulheres assumem terem sido informadas de que deveriam estar noutro lugar, não num estádio. A título de exemplo, diz o estudo, "na cozinha". 46% foram alvo de pedidos obscenos e 27% de linguagem sexualmente agressiva. 6 em cada 10 assistiram a reações de desprezo ou brincadeira à sua volta perante os comentários recebidos. Quase metade (46%) ouviram linguagem sexista nos estádios, nos transportes ou em bares e cafés nos dias de jogos.

Perante os resultados, alarmantes na óptica da 'Kick It Out', a organização inglesa está empenhada em sensibilizar os clubes e as autoridades para o flagelo do sexismo no futebol inglês, indevidamente ignorado no entender dos promotores do estudo.

As mulheres que acabaram por relatar formalmente problemas do género com homens adeptos queixam-se da inação das autoridades, enquanto aquelas que não chegaram a avançar com qualquer queixa justificam a atitude com a pouca esperança na resposta das autoridades policiais e judiciais.

Citada pelo britânico 'The Guardian', Holly Varney, diretora de operações da 'Kick It Out', não escondeu a preocupação pelo crescente número de vítimas desta realidade em torno do futebol.

“O futebol precisa de fazer um esforço para garantir que o sexismo seja levado a sério e que as mulheres se sintam seguras e confiantes para denunciar a discriminação. Vimos os relatos de sexismo na 'Kick It Out' aumentarem significativamente nas últimas temporadas. Falo-vos de relatos de mulheres que descrevem cantos obscenos durante as partidas, mas também várias queixas na sequência de questões que lhes são frequentemente dirigidas sempre que se expressam sobre algo relacionado com o futebol, tendo por base o seu género".

Até quando?