Miguel Farinha, presidente da EY Portugal, marcou presença na apresentação do 8.º Anuário do futebol profissional português, produzido pela sua empresa em parceria com a Liga Portugal.

No Auditório da Arena Portugal, no Porto, Miguel Farinha sublinhou que o investimento nos estádios irá levar a uma maior afluência de público no futebol profissional.

O anuário apresentado hoje traça sete desafios para a Liga Profissional de Futebol Profissional para o ciclo 2023-2027, com destaque para uma maior aproximação ao adepto. O desenvolvimento e a internacionalização da Liga, a valorização das sociedades desportivas, o impulsionamento do futebol feminino e a redução dos custos de contexto, a comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos jogos, são outros desafios que o organismo terá pela frente nos próximos anos.

Crescimento das receitas: "Há um crescimento sustentável do futebol em Portugal, com um impacto cada vez maior na economia, um crescimento das receitas dos produtos e de uma Liga que está cada vez mais a transformar-se num tema muito mais profissional. E queríamos nós, se calhar, que as outras indústrias em Portugal conseguissem crescer tanto, como o futebol tem crescido. Nos últimos cinco anos, cresceram a média de 8% ao ano. Acho que não há nenhuma indústria que tenha este crescimento nos últimos anos. Nenhuma indústria consegue estar entre as top seis, sete da Europa. Dificilmente outras indústrias o conseguem fazer, por isso, vemos com muitos bons olhos esse crescimento."

Melhorar infraestruturas e atrair mais adeptos: "Um tema muito importante são as infraestruturas. O investimento em infraestruturas é essencial em Portugal e acho que os clubes percebem isso. Apesar das suas dificuldades financeiras, vão fazendo melhorias nos seus estádios. É importante olharmos para as receitas, por exemplo, das apostas desportivas, que hoje em dia grande parte não vão para os clubes. Tem de haver uma repartição diferenciada que permita usá-las para aumentar e melhorar as infraestruturas, mas não só. Depois é preciso saber atrair os adeptos para o clube da terra, ao seu clube local. E não sermos todos, invariavelmente, adeptos de três clubes em Portugal, mas sermos cada vez mais adeptos dos clubes locais que nós conhecemos. Dos Vizelas desta vida, ou do Vitória Sport Clube, que felizmente é daqueles clubes que consegue mais. Mas é preciso fomentar cada vez mais esse gosto do futebol nos vários adeptos."

Centralizada dos direitos televisivos e multimédia: "Apresentamos aqui alguns dos desafios que Portugal tem nos próximos anos pela frente. Um deles é o tema da centralização e não é centralizar por centralizar, mas sim porque acreditamos que isso irá melhorar o futebol em Portugal, porque irá trazer mais receitas e, principalmente, mais receitas para os clubes mais pequenos. Em nenhuma outra liga europeia temos um cenário em que temos as grandes receitas televisivas concentradas em três clubes face a todo os outros. Se eu conseguir ter melhores clubes ao longo de toda a Liga, e não só daqueles primeiros três ou quatro classificados, seguramente terei melhor futebol e isso tem impacto em muitas vertentes. Se eu conseguir que esses clubes cresçam, eles terão melhor presença europeia como sucedeu com o Vitória de Guimarães, que foi a primeira vez que aconteceu uma presença tão boa, de um clube, na Liga Conferência. É preciso que todos percebam que só têm a ganhar se trabalharem juntos para aumentar este produto e aumentar a forma como o futebol é vendido."

Indústria do futebol em crescimento: "A EY faz este anuário há oito anos e estamos a tentar demonstrar de forma muito prática que é viável e que números são estes. É preciso perceber que, pela primeira vez, chegámos aos 1.000 milhões de euros em Portugal, um crescimento constante que se tem feito nas várias componentes da receita dos clubes, seja as bilheteiras, o sponsoring, o merchandising, os lugares corporate, mas também tem a ver com transferências dos jogadores e com receitas televisivas, que podem, claramente, crescer mais, contando com a centralização. O futebol é uma indústria rentável e que vale a pena. E não é à toa que, hoje em dia, vemos grande parte dos fundos a olharem para Portugal, a investirem em clubes portugueses e a querer estar no futebol português e os fundos de investimento não o fazem porque vão perder dinheiro."

Diminuir a carga fiscal: "O tema da carga fiscal tem muito a ver com o IRS que existe em Portugal. É uma carga fiscal pesadíssima. Há outros mercados em que a carga fiscal, primeiro, é inferior de forma geral para a sua população. Para o futebol em particular, há ligas que têm condições privilegiadas, em que os jogadores de futebol, que têm uma vida profissional muito mais curta, têm uma taxa de imposto bonificada que permite atrair os jogadores. O ideal seria haver uma taxa particular para a indústria do futebol que permitisse, por exemplo,  quando eu estou a comparar um jogador em Itália ou em Portugal, eu para pagar ao mesmo jogador em Portugal o que pagam em Itália, teria que gastar o dobro do dinheiro, para ele receber o mesmo líquido na sua conta. Isso faz com que haja uma desvantagem competitiva gigante. Já não estou a falar dos casos dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia Saudita, com taxas zero, não é esse o nosso comparativo, mas dentro da Europa há diferenças muito significativas e é preciso percebê-las e tentar corrigi-las."