Juntar as palavras “futebol” e “laboratório” na mesma frase parecia, até há bem pouco tempo, desnecessário. Afinal, o desporto rei não passava disso mesmo: um desporto. Mas os tempos mudaram e hoje em dia é praticamente impossível dissociar a tecnologia do futebol. Ela está presente no videoárbitro, no relvado que os jogadores pisam, nos equipamentos que usam e nos recursos disponíveis para o treino.
O fenómeno dos laboratórios ligados a esta modalidade tem vindo a ganhar cada vez mais fama. Em 2012, o Borussia Dortmund deu que falar com a utilização de um sistema de treino chamado Footbonaut, no qual os jogadores trabalham o controlo, a precisão de passe, a velocidade de reação e a visão periférica. No caso de Portugal, temos o Benfica Lab, uma das jóias da coroa do Seixal, destinado à monitorização de várias especificidades da vida dos jogadores, como a alimentação, o sono ou a velocidade a que ocorre o desgaste.
“O futebol reside sempre no talento, mas a tecnologia acaba por ser um importante apoio para os jogadores terem uma noção de como devem melhorar e se estão a evoluir consoante o trabalho que têm vindo a desenvolver.” É esta a mensagem de Hugo Domingues, uma das mentes por trás do FootLab, o primeiro laboratório de futebol do mundo disponível ao grande público.
Sim, começámos este texto a falar da tecnologia limitada aos clubes, mas há cerca de um mês que existe uma estrutura em Carnaxide dentro da qual qualquer pessoa pode testar as suas capacidades futebolísticas. Afinal, quem nunca sonhou ser 'jogador da bola'?
O que é o FootLab?
“Um laboratório de avaliação desportiva”, segundo Hugo Domingues. Com uma área de 3100 metros quadrados cobertos, o FootLab reúne várias componentes de treino especializado, recorrendo às novas tecnologias para monitorizar e avaliar as capacidades físicas e técnicas do utilizador, seja através de desafios individuais ou de equipa.
E não precisa de ser um atleta de alta competição para o fazer. A grande mais-valia do projeto está no facto de se dirigir a qualquer pessoa, seja a quem sonhe ser o próximo Cristiano Ronaldo ou simplesmente a quem queira passar um dia diferente e divertir-se na companhia dos amigos. Tudo isto enquanto pratica desporto.
“Quisemos, acima de tudo, marcar pela diferença. Não há nenhum espaço de avaliação como este. Aqui estão as raízes do futebol - o divertimento e a competição - mas aliadas à tecnologia. Porque o futuro é isto e os miúdos hoje em dia estão cada vez mais competitivos e procuram outro tipo de estímulos. Querem saber tudo: com que força rematam, se têm boa pontaria...”, começa por contar Hugo ao SAPO Desporto.
Como funciona?
A tecnologia foi desenvolvida de raiz para o projeto (e ainda está a ser melhorada, segundo o seu responsável), e vai acompanhando o atleta ao longo de quatro estações de prova. Todo o processo é monitorizado por uma pulseira que regista toda a atividade de quem a coloca dentro do recinto.
Antes de realizar cada exercício, a pessoa só tem de aproximar a pulseira de um sensor e o registo dos dados é imediato. Ao longo de cada experiência, o atleta vai sendo informado dos seus resultados, com direito a um diploma no final, constituído pela pontuação obtida. Depois de recolhidos pelo sistema, os dados são analisados e aplicados à vertente profissional ou lúdica, dependendo da modalidade que o utilizador pretender aplicar.
Quais as competências avaliadas?
No total, são quatro exercícios individuais que pode experimentar para perceber se tem aquilo que é que preciso para ser um craque da bola: técnica, velocidade, potência e precisão. Por esta ordem.
Técnica: Num corredor com obstáculos é avaliada a capacidade de drible dos atletas com bola e em velocidade. Os postes estão iluminados de laranja no início da atividade e passam a amarelo conforme a pessoa for driblando corretamente.
Velocidade: O utilizador tem de percorrer uma pista de 20 metros, em que o objetivo é ‘sprintar’ o mais rápido possível.
Potência: Neste exercício, o atleta terá de rematar à baliza para saber qual a potência do ‘disparo’ em Km/h.
Precisão: Consiste numa baliza com cinco zonas de marcação, de forma a avaliar a pontaria. Cada pessoa terá direito a quatro tentativas.
Para além destas quatro componentes, existe ainda um desafio global numa ‘box’ de relva sintética, onde três jogadores, por equipa, terão de rematar à baliza adversária que surgirá de forma aleatória nas paredes, acendendo uma luz com o alvo a acertar (por exemplo, os jogadores da equipa vermelha têm de marcar nas balizas azuis que estiverem acesas e vice-versa). O objetivo? “Termos uma visão de jogo mais periférica, para habituar os miúdos a tirarem mais vezes a cabeça do chão e a olhar à sua volta”, explica Hugo Domingues.
Laboratório de futebol que se preze tem sempre um espaço para os atletas colocarem em prática as suas competências. No topo da lista está o futebol de cinco, ou seja, um campo com 40x20m, composto por relva sintética, aprovada pela FIFA, com a particularidade de o jogo ser gravado em vídeo. Ou seja, se quiser 'pegar' com um amigo por causa de um ‘frango’ ou mostrar aquela finta que ninguém viu, tem aqui uma excelente oportunidade.
Existe ainda o ‘street soccer’, que tem balizas reduzidas e é jogado por duas equipas com um máximo de três jogadores cada, com a possibilidade de utilizar tabelas. O futevólei é outra das ofertas em cima da mesa, em que o objetivo é fazer passar a bola por cima de uma parede de acrílico até ao campo adversário.
Jorge Pereira, chefe de recursos humanos, foi quem apresentou e exemplificou todos os exercícios que pode encontrar no FootLab. “O grau de dificuldade depende sempre de cada um, o que para uns pode ser mais fácil para outros pode ser mais difícil. O que suscita mais interesse é o da potência, porque quem experimenta fica logo a saber quem remata mais forte, e provoca também alguma competição nos pais que conseguem visualizar o exercício”, conta.
Próxima paragem: Espanha?
Aberto ao público a 15 de fevereiro, o FootLab já recebeu antigos futebolistas – Nuno Gomes, Simão Sabrosa e Oceano marcaram presença na inauguração – e alguns clubes locais, mas também festas de aniversários e eventos de ‘team-building’. Um pouco de tudo, portanto.
“Já fomos abordados por vários clubes, mas a nossa ideia é tentar fazer protocolos com emblemas da Associação de Futebol de Lisboa para trazerem cá os escalões de formação deles, para que os atletas tenham um dia de treino diferente, e ao mesmo tempo possam avaliar as suas competências”, começa por explicar Hugo Domingues.
“Passados três meses, o clube volta com o mesmo jogador para que este possa ver, com o diploma que entregamos no fim, a sua evolução natural e ao mesmo tempo o trabalho que é desenvolvido no clube”, acrescenta. De referir que os dados de cada participante são depois inseridos num ranking, que varia consoante o seu escalão, com direito a prémios individuais por mês.
A tecnologia é muita e de qualidade, mas o FootLab promete não ficar por aqui. O objetivo, de acordo com o seu responsável, é fazer deste projeto “uma marca mundialmente conhecida e com uma oferta única”. “Todos os dias estamos a acrescentar coisas novas e a melhorar experiências. Queremos lançar um desafio novo todos os anos, e expandirmo-nos para outras cidades. Já tivemos um convite para irmos para Madrid e para Barcelona por parte da Adidas, um dos nossos parceiros”, confidencia Hugo Domingues.
Exemplo dessa constante evolução é a mais recente parceria com a Coerver Coaching, empresa certificada pela FIFA que se dedica à análise individual de atletas: “Vamos ter cá dois treinadores uma vez por mês para observarem os jogadores em cada um dos exercícios. Através de uma ‘app’, eles focam-se na técnica individual de cada um e depois fazem uma avaliação, onde irão explicar aquilo em que podem evoluir e dar-lhes trabalho para fazer em casa.”
O FootLab está localizado na Avenida Eng. Maria de Lurdes Pintassilgo, armazém 2, em Carnaxide, e funciona de segunda-feira a quinta-feira das 10h às 24h, à sexta-feira das 10h à 01h, ao sábado das 09h à 01h e ao domingo das 09 às 22h. Se quiser saber mais sobre o projeto, pode consultar o site oficial aqui.
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