
Henrique Calisto encabeça uma das listas que concorre para as eleições na Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), marcadas para o dia 31 de maio. O ex-treinador pretende suceder a José Pereira, o homem que lidera o órgão associativo de forma consecutiva desde 2013.
Em entrevista ao SAPO Desporto, Henrique Calisto explicou as suas ideias para a Associação, como pretende resolver os problemas atuais, principalmente no acesso à formação. Calisto admite que é preciso "aumentar a oferta educativa na atribuição do Grau 3 e do Grau 4", e explica como pode resolver parte do problema.
O problema de acesso aos cursos
O candidato da Lista A quer que o "curso de 3.º nível possa ser ministrado pelas associações" regionais. O problema está no último nível, o UEFA Pro, que só pode ser ministrado de dois em dois anos, e ainda nos prazos do Instituto Português do Desporto e da Juventude entre o nível 3 e o 4.
"Aquilo que temos de procurar é pedir para que se faça pelo menos um e, se possível, dois cursos UEFA Pro por ano. Mas a nível interno, também existem outras barreiras que temos de conseguir alterar: Por exemplo, o IPDJ obriga, a um período de latência de dois anos, entre o III e o IV níveis. Dois anos a treinar. E isso é um erro porque a UEFA exige só um ano. Estamos a matar-nos a nós próprios. A exigência do IPDJ suplanta a exigência da UEFA, que já é muita. É isso que temos de exigir para mudar a regulamentação", contou ao SAPO Desporto.
Eu não concordo que um treinador exerça funções sem as habilitações necessárias. É a mesma coisa que eu ir a conduzir um carro sem carta. Só porque conduzo bem não preciso de carta?, questionou Calisto
No passado recente, a Associação Nacional de Treinadores de Futebol criticou a contratação de técnicos sem formação exigida para treinar na I Liga. Henrique Calisto também é contra, lembrando que há "uma legislação em vigor, e se existe tem de ser cumprida e respeitada".
"Não sei se sabem, mas a quem compete, por exemplo, a fiscalização é à ASAE e aos organizadores das provas, que têm de fiscalizar se há cumprimento do regulamento das competições. A ANTF tem de ser defensora da lei e se ela exige que os treinadores tenham o IV nível para serem treinadores principais da Liga... O problema tem é de ser resolvido a montante. Porque isso só acontece face à dificuldade em aceder aos cursos de nível III e IV. Essa é a forma lógica e legal de resolver", começou por explicar.
O candidato da Lista A garante que tem "uma visão diferente do que tem sido feito", mas sublinha que "quem de direito é que deve fazer cumprir o regulamento".
Seleção tem de ser comandada por um português
Em declarações recentes ao podcast 'Final Cut', Calisto defendeu que a Seleção A de Portugal devia ser orientada por um treinador português. Questionado sobre o porquê desta posição, o ex-treinador explicou que há técnicos mais que capacitados em Portugal para dirigir a seleção das Quinas.
A Seleção Nacional é um patamar e uma montra da qualidade dos nossos jogadores e dos treinadores, diz Calisto
"Temos ou não temos os melhores treinadores, dos melhores do mundo? Creio que todos concordam que sim. Com provas dadas em todo o mundo. Então se somos bons lá fora, não servimos para a nossa Seleção? Tendo os melhores do mundo, sendo a Seleção um símbolo do que somos capazes, se só jogadores portugueses (ainda que naturalizados, alguns) podem jogar na seleção, porquê contratar um treinador estrangeiro? Temos uma dúzia de treinadores portugueses que são credenciados para esse cargo. Se a Seleção representa o País, porque não deve ser o selecionador português? Não vejo qualquer motivo de polémica nisto, simplesmente digo que se tivesse capacidade de escolha, escolheria um português, sem demérito para os outros", explicou Calisto ao SAPO Desporto, garantindo que a opção por um português não é patriotismo.
"Já fui emigrante, não é nada contra imigrantes, não é um patriotismo bacoco, é lógica e usarmos a seleção como um patamar mundial de afirmação do treinador português. Ninguém se esquece do Otto Glória no Mundial de 66, mas era uma outra realidade. Se Portugal vencer um Campeonato do Mundo, o treinador será sempre lembrado e espero que fique ligado a um técnico português", lembrou.
A diferença para com os treinadores portugueses que comandam ou já comandaram seleções lá fora tem a ver com a competência.
"Os treinadores portugueses que são e já foram selecionadores, como eu já fui, estávamos em países onde a craveira dos treinadores não tinha a capacitação que nós temos. Porque se somos os melhores do mundo, é normal que em países com escolas mais fracas nos venham buscar também para que os treinadores locais possam aprender connosco. Sinceramente, digo que na atualidade em Portugal temos treinadores que estão a um patamar bastante elevado, acima dos estrangeiros que têm vindo para a Seleção", finalizou.
Henrique Calisto, um dos membros fundadores da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, concorre para a liderança do organismo contra André Reis, candidato da Lista B.
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