Um antigo contabilista da Naval afirmou hoje em tribunal, no âmbito de um processo em que SAD e o ex-presidente Aprígio Santos são acusados de crime fiscal, de que aquele clube da Figueira da Foz optava por pagar salários em vez de impostos.
Na primeira sessão do julgamento que decorre no Tribunal de Coimbra, o antigo presidente da Naval, clube que acabou em 2016, não compareceu, por motivos de saúde.
Aprígio Santos e a Naval SAD, cujo processo de insolvência foi encerrado em dezembro de 2016, são acusados de um crime de abuso fiscal no valor de mais de 860 mil euros, estando em causa a não entrega de valores em dívida ao Estado relativos ao IVA e ao IRS, entre 2011 e 2013.
O antigo contabilista do clube, ouvido como testemunha, falou de vários problemas financeiros que o clube atravessava desde 2010, referindo que, face à falta de liquidez, a política da casa era a de pagar os salários dos jogadores.
“Aos jogadores, pagava-se, impostos não se pagavam”, resumiu, apontando para a necessidade de o clube obter a declaração de não dívida face aos jogadores para poder continuar a competir profissionalmente.
Vincando que era Aprígio Santos “quem mandava” no clube, a testemunha explicou que os problemas financeiros se deviam ao facto de “os clubes de futebol não terem capacidade para pagar aquele tipo de ordenados aos jogadores e havia coisas que ficavam para trás”.
“Aprígio Santos financiava a Naval, mas quando o ramo imobiliário teve a crise que teve, ele passou a estar incapaz de injetar dinheiro na SAD. Era ele quem metia aquilo a funcionar, porque não havia receitas suficientes”, aclarou.
A somar à dificuldade de injeção de dinheiro motivada pela crise estará também a descida de divisão do clube da Figueira da Foz, que passou a jogar no segundo escalão em 2011/2012, o que levou a uma grande quebra nas receitas relacionadas com direitos televisivos, referiu.
Questionado pelo tribunal, o contabilista asseverou que a estratégia de pagar os salários em vez dos impostos tinha sido determinada por Aprígio Santos.
Durante a sessão, foram ainda ouvidos vários inspetores tributários sobre os valores que não tinham sido entregues pela Naval, relativos ao pagamento de impostos.
Em 2016, a Associação Naval 1.º de Maio tinha uma dívida de cerca de nove milhões de euros, tendo sido proferida sentença de declaração de insolvência desta entidade em fevereiro de 2019.
Já anteriormente, o processo de insolvência da Naval SAD tinha sido dado como encerrado, em dezembro de 2016, nove meses antes de o clube, que disputou a I Liga de futebol durante seis épocas, ter decidido suspender a atividade de formação e de equipa sénior.
Desde 2014 que foram surgindo várias notícias sobre a situação financeira delicada da Naval, cuja SAD chegou a ver aprovado um Plano Especial de Revitalização nesse mesmo ano.
Na altura, Aprígio Santos garantia que essa aprovação garantiria que o clube não iria morrer.
Após o fim da Naval 1.º de Maio, foi criada a Naval 1893, que disputa a Divisão de Honra (liga distrital) de Coimbra.
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