O antigo futebolista internacional português José Alberto Costa ficou com a camisola do ‘rei’ brasileiro Pelé, falecido na quinta-feira, aos 82 anos, após um jogo do Rochester Lancers com o Cosmos, da Liga norte-americana, em 1977.

“O que me tocou foi um jogador com a craveira e a fama dele ter tido uma sensibilidade, humildade e vontade de poder ser agradável com alguém que não conhecia de nenhum lado, mas que define muito do que era e do seu caráter no jogo. Mantenho a recordação, pois foi um aspeto altamente positivo que vi nele”, frisou à agência Lusa o antigo extremo de FC Porto ou Académica, de 69 anos, que enveredou ainda pela carreira de treinador.

A troca de camisolas sucedeu numa das duas mãos da final do ‘play-off’ da Conferência Este da North American Soccer League (NASL), que vigorou entre 1968 e 1984 e esteve na génese da atual Major League Soccer (MLS), principal escalão dos Estados Unidos.

“Numa tentativa de implementação do futebol por lá, criaram diversas equipas e atraíram nomes sonantes que estavam próximo ou em final de carreira, mas tinham um estatuto elevado a nível de reconhecimento mundial. Juntavam, depois, jovens com qualidade ou perfil para terem equipas competitivas”, contou o então dianteiro do Rochester Lancers.

José Alberto Costa chegou com 23 anos ao extinto clube dos arredores de Nova Iorque, juntando-se aos compatriotas Artur Jorge, Ibrahim Silva, João Pedro e Messias, após ter sido cedido no verão por três meses pela Académica, que representava desde 1971/72.

“O Artur Jorge tinha alguns bons contactos nos Estados Unidos, mas lesionou-se logo no início da época e fez mais o papel de diretor desportivo, porque era amigo do treinador [o jugoslavo Dragan Popović]. A determinada altura, começou a tentar angariar elementos para jogarem os ‘play-offs’. Foi assim que me surgiu essa possibilidade e lá fui”, referiu.

Concordando “ficar mais um ano” na Académica mal voltasse da NASL, na qual auferiu “em três meses aquilo que ganhava em Coimbra durante dois anos”, resistiu ao interesse dos principais clubes nacionais para completar o curso universitário de Engenharia Civil.

“Afastámos duas equipas [St. Louis Stars e Toronto Metros-Croatia] até nos ter calhado o Cosmos de Nova Iorque, que era a melhor dos Estados Unidos e integrava nomes como Franz Beckenbauer, Giorgio Chinaglia, Carlos Alberto ou Pelé. Era um período em que vários portugueses foram atraídos para jogar nestas circunstâncias durante dois ou três meses, como foram os casos de Artur Jorge, António Simões e Eusébio”, contextualizou.

O Rochester Lancers perdeu em casa (1-2) no Holleder Memorial, em 21 de agosto, três dias antes de consentir nova derrota fora (1-4), com Edson Arantes do Nascimento a concretizar um dos golos do Cosmos para delírio do público presente no Estádio Giants.

“Essas partidas eram utilizadas pela NASL como fator de promoção de atletas e clubes e de um jogo que, de certa forma, era novo para eles e nunca tinha sido profissional. Tudo aquilo que era feito a nível de espetáculo, divulgação, preparação e ambiente servia para criar uma festa com esse objetivo de divulgação do futebol. Por isso, no fim de cada jogo dessas formações com nomes mais sonantes, havia invasões de campo pacíficas, visto que as pessoas queriam pedir autógrafos e equipamentos e tirar fotografias”, descreveu.

José Alberto Costa usufruiu dos habituais cumprimentos entre jogadores e com a equipa de arbitragem para interpelar Pelé, “um dos seus ídolos e a maior referência mundial da altura”, apresentando-se ao ‘rei’ com o intuito de trocarem camisolas no final do desafio.

“O jogo começou e nunca mais me lembrei do que tínhamos falado. Disse-me que, caso pudesse, trocávamos, mas não me podia prometer nada, pois eram sete cães a um osso. Quando acabou, assim foi. De repente, a multidão aproximou-se de dois ou três atletas, sobretudo Beckenbauer e Pelé, que eram expoentes máximos. Perante essa confusão e molhada, vejo o Pelé a solicitar às pessoas que lhe estavam a pedir camisola, meias ou calções para se afastarem e deixá-lo passar. Olhou para mim a 50 metros de distância, caminhou na minha direção e disse-me que a camisola já estava prometida”, rebobinou.

O “gesto de simpatia” do único futebolista tricampeão mundial (1958, 1962 e 1970), que, aos 36 anos, estava prestes a fechar a sua carreira com o único título de campeão dos Estados Unidos em três épocas pelo Cosmos, impactou um jovem “cheio de ambição”.

“Essa camisola é das poucas que guardo com estima. Autografada por Pelé? Era o meu desejo. Estive posteriormente com ele em mais duas ou três situações, mas nunca tive a camisola comigo. Não foi possível, mas resta-me esperar por um reencontro num outro plano e hipotético para ele poder assinar”, afiançou o ex-avançado, que, de 1978 a 1985, conquistaria dois campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça pelo FC Porto.

José Alberto Costa partilhou nas redes sociais uma fotografia na qual surge junto a Pelé, que se eternizou nos brasileiros do Santos (1956-1974) antes de cumprir 64 jogos e 37 golos pelo clube de Nova Iorque, acabando distinguido enquanto desportista e futebolista do século XX por Comité Olímpico internacional (1999) e FIFA (2000), respetivamente.

“As capacidades dele eram complementares, com a particularidade de não estarmos tão habituados a vê-las e a fazê-las. Por isso, começou a ter implementação e os êxitos que teve, daí ser uma figura. Pelé está lá em cima na divulgação da modalidade e na origem da dimensão mundial que o futebol tem. Os jogadores que vieram a seguir contribuíram com grande mérito para o negócio e o espetáculo mundial que há atualmente”, concluiu.