Frederico Duarte é um entre vários futebolistas portugueses que emigraram para tentar desbravar caminhos em campeonatos pela Europa fora. Formado no Sporting, e depois de passagens pelo Sacavenense e Vilafranquense do Campeonato de Portugal, o médio de 21 anos está há dois anos na Grécia, onde representa o Panetolikos da Superliga grega. Esta temporada já somou 17 jogos e um golo apontado.

Depois de uma breve passagem por Portugal para estar junto dos familiares, face à pandemia provocada pelo novo coronavírus, e depois de novo regresso à Grécia, Frederico Duarte explicou de que forma tem vivido este período de isolamento, longe da família e dos amigos. Para já, o médio contou-nos que existem ainda muitas dúvidas em relação a um eventual regresso do campeonato local.

O centrocampista não esconde também o desejo de regressar a Portugal e de poder competir na Primeira Liga.

SAPO Desporto: Como tem vivido este situação de isolamento, já há data para o regresso aos treinos aí na Grécia?

Frederico Duarte: No início de março, quando parámos o campeonato houve uma jornada em março. Parámos os treinos e depois dia 16 de março deram-nos permissão para regressarmos aos nossos países e nessa altura eu regressei a Portugal e estive lá até à semana passada e agora voltei. Vamos voltar aos treinos depois de amanhã [quarta-feira], e fazer os testes para ver se está tudo bem e depois regressamos aos treinos.

S.D: Como fez o isolamento quando esteve em Portugal?

Frederico Duarte: Em Portugal estive quase sempre em casa, só saia para fazer uma corrida ou vários exercícios. E ao fim da tarde, alguns exercícios de força, mas com peso corporal. Estive quase sempre em casa com a minha família. Aqui [na Grécia] é mais complicado porque estou sozinho. Mato as saudades através do Whatsapp e do Zoom.

SD: Como está aí a situação na Grécia?

Frederico Duarte: Os números aqui[casos e vítimas mortais] estão bastantes melhores do que em Portugal, mas as medidas têm sido bastante parecidas. Está tudo em casa, toda as pessoas que andam na rua têm máscara e luvas. Eu aqui na cidade de Agrinio, como não há qualquer caso, as pessoas andam um bocado mais à solta mas eu tenho estado sempre em casa. Esta cidade é pequenina e que vive muito o clube.

Custou-lhe regressar à Grécia, depois de ter estado em Portugal onde tinha a família?

Sinceramente custou-me um pouco também porque em Portugal estava com a minha família. De vez em quando vinha aqui alguém visitar-me mas é sempre diferente estar com a família, mas custou-me um bocadinho.

Já há alguma previsão em relação ao regresso da competição?

Frederico Duarte: Nós vamos regressámos ao trabalho, mas ainda não é certo que vamos voltar a jogar. Ainda não estamos a treinar com a equipa, não temos permissão, portanto custou-me um bocadinho. Estamos à espera. Vamos recomeçar esta semana a treinar e até dia 15 [de maio] para percebermos se temos todas as condições para regressar. Vamos ver se conseguimos retomar.

Como é que tem sido a rotina?

Frederico Duarte: Tenho uma rotina muito parecida com a que tive em Portugal. De manhã tomo o pequeno almoço, depois vou para o treino, que estou em realizar em conjunto com um colega. Quando regresso descanso um pouco, almoço. Vejo depois um filme ou uma série. Depois falo com alguns colegas, grupos de amigos. Ao final da tarde, realizo novo treino, às vezes aqui em casa, outras vezes saio para correr um bocadinho. Volto para fazer o jantar e tem sido muito isto.

Com dois anos de Grécia e face a esta situação, passa-lhe mais pela cabeça regressar ao futebol português?

Frederico Duarte: Eu sinceramente gosto muito de Portugal e pessoalmente gostava muito de voltar. Não tive a oportunidade de jogar numa Primeira Liga portuguesa e seria sempre um nível que gostava de jogar. Mas tenho gostado de estar aqui, tenho tido boas oportunidades e jogado contra boas equipas mas sinceramente gostava de regressar a Portugal. Vamos ver quando a situação retomar o que pode acontecer.

S.D: Estar confinado acaba por lhe trazer algum stress?

Frederico Duarte: Acaba sim, porque não estamos habituados a estar tanto tempo sem fazer nada. Durante o ano costumo estar a treinar, ou a descansar para estar depois novamente a treinar e sinto que tenho não tenho sido produtivo. No início não sentimos tanto, mas depois à medida que os dias passam é mais complicado, e o corpo também não está habituado a estar parado. E ficamos mentalmente desgastados por estarmos sem competição.

S.D: Como é que passa o tempo?

Frederico Duarte: Vejo bastantes séries. Antes de ter começado a quarentena tenho estado a fazer um curso de francês porque gosto de aprender línguas. Consigo passar o tempo assim e leio alguma imprensa. É assim que passo o tempo.

SD: Já aprendeu algumas palavras de grego?

Frederico Duarte: É uma língua muito complicado mas já consegui aprender vários coisas. Não consigo manter uma conversa muito produtiva (risos), mas já dá para safar para ir aos cafés, ir aos restaurantes, esse tipo de coisas. Já me consigo safar.

SD: Que marcas é que este vírus pode deixar na nossa sociedade?

Frederico Duarte: Acho que os portugueses tiveram uma resposta rápida e foi importante o confinamento para as pessoas perceberem que todos juntos conseguimos fazer a diferença. Aqui há pouco tempo se calhar só pensámos no nosso umbigo, mas agora percebemos que sem ajuda de todos não vamos conseguir chegar a sítio nenhum. Vai-nos trazer coisas positivas.

SD: Tem mantido contacto com colegas de profissão?

Frederico Duarte: Tenho dois portugueses comigo a jogar [o avançado Dálcio Gomes e o médio Mimito Biai]. São as pessoas que eu consigo manter contacto. Quando vamos correr, damos uns passeios e temos mantido contacto. Em Portugal, tenho vários colegas com quem vou falando de todo o lado, vou aproveitando para manter contacto com toda a gente.

Como viu a situação da segunda liga, com o cancelamento da competição?

Frederico Duarte: Toda as pessoas gostam de comentar. São decisões muito complicadas e é difícil agradar a todos. Há sempre clubes que saem mais prejudicados do que outros. Sinceramente foi uma medida dentro do possível das mais justas porque deixaram que quem estava à frente subisse, porque seria injusto depois do trabalho que essas equipas fizeram não conseguirem subir à primeira divisão. Mas também havia equipas que estavam perto dos lugares cimeiros e possam ter-se sentidos prejudicadas. É muito difícil deixar toda a gente agradada.