Andriy Shevchenko, selecionador ucraniano e Bola de Ouro em 2004, abordou a sua infância a recordação do acidente nuclear em Chernobyl, que ficava a 200 quilómetros do local onde cresceu.
Em 1986, ano do desastre, o ex-jogador tinha dez anos e recorda-se bem do que sentiu, como mostrou numa entrevista ao jornal italiano 'Corriere Della Sera', sobre o seu novo livro "A minha vida, o meu futebol".
"Tudo parecia normal. Tinha 10 anos. Divertia-me a jogar futebol em todo o lado. Entrei na academia do Dínamo de Kiev e logo a seguir explodiu o reator número 4 e levaram-nos a todos. Ainda sinto angustia. Chegaram autocarros da URSS e levaram todas as crianças entre os seis e os 15 anos. Fiquei a 1500 quilómetros de casa e recordo tudo como se estivesse num filme", recordou.
Shevchenko afirma que viver na União Soviética "não era mau", passando muito tempo na escola e com o desporto muito presente, mas admite que o facto de ser um país fechado tornava as pessoas mais fechadas.
O impacto de Chernobyl fez-se sentir naqueles que o rodeavam, não pelos efeitos da radiação, mas pelo impacto que os problemas sociais tiveram nos seus amigos, com a queda da União Soviética.
"Comecei a ter cada vez menos amigos no bairro. Morreram todos, não pela radiação, mas pelo álcool, drogas e problemas com armas... As brechas nas paredes da URSS estavam cada vez maiores. O mundo que conhecíamos estava a ruir e os meus amigos, como todas as pessoas, não acreditavam em nada e acabaram por se perder. O amor dos meus pais e o futebol salvaram-me", disse.
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