Ricardo Quaresma foi um dos oradores do último dia de Web Summit numa conversa sobre os desafios e dificuldades de um jogador campeão para se manter na sua melhor forma.
O campeão europeu por 2016 partilhou a história curiosa de como a 'necessidade' das trivelas surgiu devido a um problema nos seus pés.
"Eu nasci com os pés muito para dentro, precisava de andar na fisioterapia e esse tipo de coisas. Nessa altura era difícil para os meus pais andarem comigo na fisioterapia. O que aconteceu foi que eu comecei a usar essa parte de fora para fazer as minhas jogadas, os meus cruzamentos. Quando estava no Sporting tive treinadores que levavam a mal, haviam exercícios em que o passe tinha de ser normal, com a parte de dentro, e eu metia sempre a trivela. E houve um treinador, quando era juvenil, que até me mandou sair do treino por causa disso. Ele dizia que não queria esse tipo de passes no treino dele, mas eu não fazia por mal", começou por explicar.
"Eu falei com ele depois do treino disse-lhe que não estava a faltar ao respeito, era algo que já era meu, por natureza. Depois de me conhecer melhor percebeu que não tinha nada a ver com faltas de respeito", acrescentou.
"Com 29 anos era muito novo para ir para o Dubai, foi uma das minhas maiores asneiras da minha carreira"
Depois de realçar a sorte por não ter tido muitas lesões na sua carreira e a importância da alimentação, o jogador do Vitória de Guimarães frisou que sempre tomou as suas próprias decisões no que a sua carreira diz respeito, admitindo um erro que cometeu aos 29 anos.
"Sempre fui pela minha cabeça, ouvia as pessoas, mas eu é que decidia. Posso dizer que houve coisas que se fosse hoje não as fazia, decidia de outra maneira. Uma das coisas que me deu muita força foi quando eu cai no Dubai. Com 29 anos era muito novo para ir para o Dubai, foi uma das minhas maiores asneiras da minha carreira", começou por dizer, antes de explicar o porquê.
"O Campeonato no Dubai não tem nada a ver com o europeu. É algo mais de fim de carreira, não é exigente, não é tão competitivo. Na minha ida para lá eu percebi que as pessoas me estavam a esquecer, que estava gordo, que já não era o Quaresma de há uns anos atrás. Isso fez-me voltar à Europa e perceber que o dinheiro não é o mais importante", disse.
Quaresma aproveitou ainda o momento para deixar um agradecimento a Pinto da Costa e ao FC Porto que lhe permitiram 'renascer' no futebol europeu.
"Agradeço ao Presidente Pinto da Costa porque me abriu novamente as portas no FC Porto. Acho que isso foi o meu maior teste. Foi o meu ponto mais alto, foi nessa fase, de mostrar que estava vivo, que ainda não tinha acabado para o futebol", notou.
"Enquanto eu poder defender esse tipo de causas estarei sempre aqui"
Com as suas publicações nas redes e a sua voz ativa na sociedade, Ricardo Quaresma frisou que não tinha a noção do apoio que tinha nestas questões até à polémica que o envolveu com André Ventura, líder e deputado do Chega. Mas não dá um passo atrás e refere que estará sempre pronto para defender as causas em que acredita.
"Depois de responder à pessoa que toda a gente sabe [ndr. André Ventura], aí percebi que tinha muita gente do meu lado e que felizmente ainda há muita pessoa boa no mundo. Enquanto eu poder defender esse tipo de causas estarei sempre aqui. Sempre. Acho que todos nós somos iguais, todos merecemos ser tratados da mesma maneira, independentemente da cor... Ninguém te pode meter de lado porque és preto, branco, cigano... Eu vou lutar pela igualdade, sempre que poder falar e defender esse tipo de problemas vou estar aqui", afirmou, acabando por revelar ainda que pretende criar uma Fundação com o seu nome "o mais rápido possível.
Questionado sobre o futuro do futebol nacional, Quaresma não escondeu a confiança que coloca na nova geração de futebolistas nacionais, ainda que não tenha realçado nenhum em particular.
"Temos muita qualidade, sempre tivemos. Eu sempre disse isso, não entendia porque é que apostávamos tanto nos estrangeiros e não no que é nosso. (...) Hoje em dia o futebol já não tem tanto dinheiro e os clubes são obrigados a investir na formação. (...) Está ai a prova que temos jovens fantásticos de grande qualidade. Eu sempre que vejo um clube com um português perco tempo a ver. Gosto muito dos jovens que estão a aparecer", concluiu.
A Web Summit, considerada uma das maiores cimeiras tecnológicas do mundo, decorre este ano totalmente 'online' e até sexta-feira, contando com "um público estimado de 100 mil" pessoas, depois de se ter começado a realizar há quatro anos em Lisboa.
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