A 11 de dezembro de 1994, há precisamente 25 anos, o Estádio Olímpico Monumental de Porto Alegre recebeu nada mais, nada menos do que três partidas numa mesma tarde.
Foram três jogos oficiais, todos eles a contar para o Campeonato Gaúcho daquele ano, que ficou conhecido para a posteridade como o "Gauchão Interminável".
Com a participação de 23 clubes e jogada a duas voltas, a prova começou a 5 de março e só terminou a 17 de dezembro. A ideia da federação gaúcha passava por usar essa edição da prova para reduzir o número de clubes no escalão principal, com nove a serem despromovidos no final dessa edição da prova.
95 jogos numa época!
Tudo isto, aliado ao facto de o Grémio, na altura treinado pelo agora nosso bem conhecido Luiz Felipe Scolari, já se encontrar fora da corrida a esse título, que haveria de ser conquistado pelo rival Internacional, explica em parte o porquê do insólito evento que se viveu naquela data.
O Grémio encontrava-se a disputar inúmeras outras competições, casos da Taça do Brasil, Brasileirão, Super Taça e Taça Conmebol. Nessa temporada acabou por disputar nada mais, nada menos do que 95 jogos. E, com a sua classificação já praticamente definida no Campeonato Gaúcho, os três jogos num só dia foram a forma encontrada de acertar o calendário.
Calor intenso para 'ajudar à festa'
Para aguentar os 270 minutos dessas partidas, jogadas às 14h, às 16h e 18h, Scolari, que só dirigiu a equipa no relvado no último desses jogos, deixando o adjunto a orientar a equipa nos dois primeiros, convocou 42 jogadores, dos quais 34 entraram em campo. Segundo relatos de jornais da época, o elevado número de jogadores confundiu até o próprio roupeiro do clube. "O pior é que estes três jogos juntos não valem um", terá lamentado este na altura.
Um sentimento partilhado pelos adeptos. Nessa data registou-se mesmo uma das piores assistências da história do Estádio Olímpico, mesmo com bilhetes a preço de saldo.
Já os resultados, dentro de campo, não foram tão maus quanto isso para o Grémio: um empate e duas vitórias. No primeiro jogo, disputado às duas horas da tarde, debaixo de muito calor, com uma sensação térmica a rondar os 48ºC, a equipa entrou em campo com muitos juniores e juvenis para defrontarem o modesto Aimoré.
O jogo terminou com um empate sem golos, depois de o guarda-redes da turma da casa ter defendido uma grande penalidade, e ficou marcado por outro momento, na altura nada comum: dada a elevada temperatura, o árbitro interrompeu o jogo para hidratação dos jogadores.
Emerson recorda tarde "única"
Ao segundo jogo, a primeira vitória daquela tarde quase surreal. O Grémio apresentou-se nessa segunda partida com sete habituais titulares e bateu o Santa Cruz por 4-3. A maratona de jogos terminou com o terceiro e último jogo, que teve o seu apito inicial às 18h00. Foi diante do Brasil de Pelotas. Em campo estava um jovem que mais tarde haveria de representar Juventus, Real Madrid e Milan, entre outros. Emerson tinha então apenas 18 anos, já tinha sido suplente utilizado no jogo das 16h e foi titular no jogo final.
"Lembro-me de que as palestras antes do jogo foram muito rápidas. O clima também não ajudava a concentrar. Além disso era fim de ano e as partidas pouco valiam", recordou o antigo médio, um dos únicos três jogadores a alinhar em duas das três partidas. "Essa tarde foi uma experiência única", reconhece.
O adversário nesse último jogo chegou ao estádio por volta das 15h e, à chegada, não tinha balneário vago. Procurou, então, uma sombra e passou o tempo a refrescar-se com uma rodada de gelados. Em campo, o Grémio acabaria por somar nova vitória, outra vez por 1-0.
História marcante de um estádio ao abandono
Terminava assim, com saldo positivo, uma tarde verdadeiramente épica do Grémio. Foram 270 minutos em campo na mesma tarde. Uma tarde com tanto de surreal como de inesquecível, que para sempre fará parte da história do Estádio Olímpico Monumental de Porto Alegre.
Uma história que já chegou ao fim. O recinto já não é usado como casa do Grémio desde 2013. Inaugurado em 1954, o recinto, que foi palco de quatro jogos da selecção principal do Brasil e recebeu estrelas da música como Madona ou Sintg, entre outras, encontra-se agora ao abandono, depois de a demolição que estava programada, para dar lugar a um condomínio de edifícios, não ter avançado.
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