A Federação Cabo-verdiana de Futebol não está satisfeita com o modelo atual do campeonato de Cabo Verde e pretende uma mudança que beneficie o fator desportivo.
Em conversa telefónica com o SAPO Desporto, Mário Semedo, presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol explicou os moldes do futuro campeonato de Cabo Verde, que só não foi ainda implementado devido a falta de entendimento entre os parceiros.
Duas divisões com subidas e descidas
«Temos um modelo definido há muito tempo mas que não é fácil de implementar. É um projeto que tem uma vertente financeira muito exigente porque seria num sistema de todos contra todos a duas voltas e haveria subidas e descidas de divisão. É um projeto que privilegia o mérito desportivo. Nesse caso haveria uma outra prova que permitisse as equipas subirem para o escalão principal», afirmou Mário Semedo, que continuou.
«Numa fase inicial teríamos dez a doze equipas, cada região desportiva teria direito a uma equipa mas essa proporcionalidade poderia mudar. O futuro das regiões desportivas dependeria da performance dos seus representantes no campeonato. Algumas ilhas poderiam ficar sem representantes no Nacional, caso as suas equipas descessem de divisão. Haveria também um plafond, onde cada região teria um limite de equipas na primeira divisão, para evitar que o campeonato pudesse ser disputado apenas com algumas ilhas, aquelas com maior domínio no nosso futebol», esclareceu.
Questões financeiras e de transportes travam Liga Cabo-verdiana
Mas este projeto tem um grande condicionalismo financeiro, uma vez que precisaria de, «no mínimo, 50 mil contos [455 055 euros]», avança Mário Semedo, que enumera outro entrave: a disponibilidade dos jogadores, uma vez que muitos deles são também trabalhadores.
«Há a questão da dispensa dos jogadores, uma vez que grande parte deles são trabalhadores por contra de outrem. São situações que têm de ser vistas e equacionadas. Nós temos as nossas limitações e prioridades, não é algo fácil», sublinha o líder federativo cabo-verdiano.
A estratégia passaria por fazer parcerias com as grandes empresas cabo-verdianas e as televisões, vendendo os direitos de imagem a uma televisão que os pudesse explorar. As empresas garantiriam o retorno do investimento, pela visibilidade que iam ter e por terem a oportunidade de divulgarem os seus produtos.
Mário Semedo explica que o projeto foi pensado há muito tempo e só não foi lançado porque houve um desacordo entre dois dos três parceiros inicialmente envolvidos.
«Quando lançamos esta ideia, tínhamos um trabalho feito, que seria criar uma parceria com uma estação de televisão de Cabo Verde e algumas empresas no sentido de realizar a prova, mas este projeto caiu porque não houve entendimento entre dois dos principais parceiros», explicou.
Mas haveria outro condicionalismo: os transportes. A insularidade das ilhas teria de ser contornada, já que no passado recente, muitas equipas demoraram dias a viajar de uma ilha para a outra, durante o Nacional de Futebol.
«Neste momento não temos transportes que garantem uma regularidade de ligação entre as ilhas mas as coisas tendem a melhorar. Há uma companhia que vai voltar a reativar o seu funcionamento no mercado. Um sistema de transportes mais regular poderia ajudar a implementar este projeto. Mas como sabemos, Cabo Verde é um país ilhéu, a questão dos transportes é sempre uma dificuldade», disse o presidente da FCF
Diáspora cabo-verdiana: o principal alvo
Um dos grandes alvos do projeto de uma Liga de Futebol de Cabo Verde seria a diáspora crioula espalhada pelo mundo. Estima-se que há mais de 500 mil cabo-verdianos a viver fora das ilhas.
«Quando avancei com a ideia de uma parceria entre uma televisão, federação e empresas, o grande mercado visado era a diáspora, os nossos emigrantes. Temos um projeto de Web TV que poderia transmitir os jogos do Campeonato para o estrangeiro. Ou seja, a ideia é colocar o produto na nossa diáspora, que tem uma capacidade económica e financeira superior aos residentes, capaz de proporcionar receitas que pudessem financiar este campeonato. A venda dos direitos de imagem é fundamental, já que nenhum país consegue ter receitas para cobrir provas se não tiver uma televisão por trás», sublinhou Mário Semedo.
A ideia não foi abandonada e o presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol espera conseguir convencer as empresas nacionais a apostarem ainda mais no futebol.
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