A crença e mentalidade vencedora conduziram Portugal à final da edição de 2024 do Europeu de sub-17, aponta o ex-futebolista Márcio Sousa, ‘herói’ da primeira de duas conquistas lusas na categoria, em 2003, com dois golos à Espanha.
“Não vai ser nada fácil. A Itália tem uma equipa matreira, defende muito bem e apresenta jogadores com experiência, mas Portugal já demonstrou o espírito de grupo que tem tido em dois jogos, principalmente contra Espanha [vitória por 2-1, na abertura do Grupo D] e Sérvia [triunfo por 3-2, nas meias-finais], nos quais deu a volta ao resultado. Isso poderá ser o segredo principal daquela seleção”, vincou à agência Lusa o ex-médio, de 38 anos.
Portugal, vencedor em 2003 e 2016, defrontará a Itália na quarta-feira, a partir das 20:30 locais (18:30 em Lisboa), no Estádio Alphamega, em Limassol, em Chipre, para a final do Campeonato da Europa de sub-17, que terá arbitragem do búlgaro Radoslav Gidzhenov.
“A mentalidade passa por nunca deixar de acreditar e confiarem que têm qualidade igual ou superior ao adversário e que são capazes de fazer algo maravilhoso. É inevitável falar do Rodrigo Mora no meio-campo. O número ‘10’ João Simões é um caso sério no futebol português e os dois extremos [Geovany Quenda e Cardoso Varela] também têm talento, mas a equipa é que faz com que as individualidades sobressaiam ainda mais”, destacou.
A equipa das ‘quinas’ está na final do Europeu de sub-17 pela terceira vez - somou mais cinco presenças na ‘era’ sub-16 -, 21 anos depois de ter batido a Espanha (2-1), com um ‘bis’ de Márcio Sousa, em Viseu, na final da única edição jogada na condição de anfitriã.
“Houve uma preparação completamente normal depois da meia-final e tivemos a mesma rotina em relação ao início da prova. Só no próprio dia da final é que sentimos uma força extra e um nervoso miudinho, que ninguém pode dizer que não tinha. A responsabilidade está lá sempre, mas é ainda maior no dia. Agora, com as idades que tínhamos na altura, acho que não a sentimos tanto. Sentimos é que havia algo para fazer e conquistar e que aquilo poderia ser uma grande montra e um abrir de portas no mundo do futebol”, traçou.
Reconhecendo que a projeção mediática do futebol jovem tem crescido em flecha face à primeira década do século XXI, Márcio Sousa nunca mais se esquecerá da “envolvência especial” do Estádio Municipal do Fontelo nessa tarde solarenga de 17 de maio de 2003.
O conjunto orientado por António Violante foi testemunhando o “carinho das pessoas” no percurso entre o hotel onde estavam concentrados e o recinto viseense, onde a lotação esgotada encorajou o antigo médio, então com 17 anos, a rubricar uma “tarde de sonho”.
“Não era preciso um discurso muito alongado do selecionador, porque estávamos numa final e a motivação tinha de estar em nós. Bastou ter tocado no ponto certo com poucas palavras. Volta e meia, vou rever os golos e dá-me aquela saudade, já que estas coisas ficam para a vida e marcam uma carreira. Por vezes, parece que ainda estou a sentir o momento e fico com um arrepio na espinha. Há uma alegria imensa, mas também uma angústia grande, porque já passou. Seja como for, vai ficar marcado na história”, referiu.
Apelidado de Maradona desde tenra idade, o então número ’10’ luso ganhou o troféu ao lado de Miguel Veloso, João Moutinho ou Vieirinha, todos futuros internacionais ‘AA’ - os dois últimos arrebataram o Euro2016 de seniores, em França -, mas deixou as camadas jovens do FC Porto sem ter jogado na respetiva equipa principal e nunca atingiu a I Liga.
“Já me convidaram várias vezes para dar umas palestras sobre isso e digo sempre que, apesar de termos conquistado algo muito importante, sabíamos que nem todos teriam o mesmo sucesso. Não cheguei certamente ao patamar que queria, mas nunca deixei de acreditar e até fui campeão na II Liga pelo Tondela [em 2014/15]. Desacreditar é para os fracos. Nem todos podemos ser atletas de alto nível e jogar na I Liga ou no estrangeiro, mas, se houver sempre esta mentalidade, ninguém nos pode apontar o dedo”, partilhou.
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