Documentos revelados pelo ‘Football Leaks’ mostram que o Governo russo injetou 1,65 mil milhões de euros em três clubes daquele país – Zenit, Lokomotiv e Dínamo – nos últimos cinco anos com patrocínios camuflados, numa violação clara das regras de “fair play” financeiro.
Uma investigação do jornal 'The Black Sea', baseada em novos documentos do Football Leaks – balanços contabilísticos e trocas de documentação entre os clubes russos e a UEFA - revela que o comité de controlo financeiro da UEFA encobriu este esquema durante os anos que antecederam o Campeonato do Mundo.
No dia 12 de novembro de 2013, o diretor-geral e os diretores executivo e financeiro do Zenit, acompanhados do seu responsável pelo planeamento estratégico, justificaram por que motivo a Gazprom - empresa estatal de energia da Rússia - injetou 113 milhões de euros nos cofres do clube em 2012.
“Se os clubes [da primeira liga russa] tiverem de cumprir de imediato com as regras de fair-play financeiro, terão de vender os seus melhores jogadores e isso irá reduzir a competitividade do futebol russo”,” e assim os russos começarão a afastar-se do futebol, virando-se para o hóquei no gelo, “a cinco anos do Mundial”.
Na época seguinte, o Zenit não só não vendeu jogadores como se reforçou com Javí Garcia, a quem o clube de São Petersburgo ofereceu um salário anual líquido de 4,5 milhões de euros. Segundo o jornal O Jogo, a Gazprom surge na forma de ‘matrioska’, com várias subsidiárias a patrocinar o Zenit. Curiosamente, é desde 2012/13 um dos oito principais patrocinadores da Champions.
Em junho de 2013, o Zenit admitia um prejuízo de 20 milhões de euros, mas as contas do clube mostravam que 101 dos 179 milhões de euros de receitas eram inflacionados por patrocinadores. Nesse sentido, a UEFA percebeu que 80 ME vinham de oito subsidiárias da Gazprom e representavam uma sobrevalorização de contratos. Sem isso, as receitas não iriam além dos 57 ME. Na altura, o clube alegou que os contratos previam serviços extra como a presença de jogadores em festas de aniversário, eventos sociais, etc…
Em março de 2014, a UEFA decretou a violação das regras, mas limitou-se a aplicar uma multa no valor de 6 milhões de euros.
O doping financeiro verificou-se ainda em dois clubes da capital russa, o Lokomotiv de Moscovo (adversário do FC Porto na Champions) e o Dínamo de Moscovo. No caso do Lokomotiv, em vez da Gazprom, existe outra aliada estatal, os Caminhos de Ferro, responsáveis por 94% dos 200,5 milhões de euros de patrocínios. Quanto ao Dínamo, é o Banco VTB a entrar com 96% dos 180 ME registados. Dos três clubes anteriormente referidos, apenas o Dínamo foi punido, com um ano de suspensão, após auditorias pedidas pela UEFA.
Certo é que o doping financeiro foi ‘premiado’ com um lugar extra na Champions, subtraído à representação portuguesa, que, como se sabe, caiu no ranking. E convém não esquecer que a receita total dos clubes da I Liga representa pouco mais de metade dos emblemas russos.
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