Numa altura em que vários jogadores se têm revoltado e ameaçado com uma greve devido ao número excessivo de jogos por temporada, multiplicam-se as evidências dos problemas que afetam o bem-estar físico dos jogadores.

O número de jogos cada vez maior no calendário tem suscitado bastante discórdia e somam-se os argumentos daqueles que defendem que uma maior intensidade na época desportiva pode colocar em causa a saúde dos jogadores, principalmente os mais jovens.

A BBC revela que os jogadores da Premier League, com menos de 21 anos, estão a sofrer um aumento do número de lesões, nomeadamente com problemas nos joelhos.

Novos dados do "Índice de lesões no futebol europeu masculino", do grupo Howden, demonstram que essa realidade não é exclusiva da liga inglesa e que se repete nas principais ligas masculinas europeias.

O responsável pela parte desportiv da Howden, James Burrows, acredita que o aumento das exigências físicas vai aumentar o número de lesões. "À medida que o congestionamento de jogos se intensifica com a expansão das competições nacionais e internacionais, assistimos a jogadores que ficam afastados dos relvados durante períodos mais longo", acrescentou.

Num relatório da Fifpro que monitoriza a carga de trabalho dos jogadores em 2024, é revelado o número de jogos de Jude Bellingham em comparação com os de David Beckham. Enquanto que o atual médio do Real Madrid completou 251 jogos antes de completar 21 anos, Beckham jogou 54 durante o mesmo período.

Tanto o Sindicato dos jogadores, como a Associação de Jogadores de Futebol Profissionais, têm estado ao lado dos jogadores nestes alertas e argumentam que muitos deles "sentem que estão a ser levados ao limite”.

Para além disso, os jogadores estão a ser envolvidos em várias competições, com um elevado número de jogos, numa idade mais precoce, o que antecipa o problema relativamente ao futuro das suas carreiras.

"Os jogadores estão a absorver essa carga de trabalho numa idade cada vez mais jovem, jogando muitos minutos. Queremos que os jogadores jovens tenham carreiras longas e bem sucedidas", defendeu um porta-voz da Associação de Jogadores de Futebol Profissionais.

São cada vez mais os sub-21 afastados dos relvados

De acordo com um relatório de Howden, houve um aumento não só do número total de lesões sofridas por jovens na Premier League, mas principalmente um aumento do tempo de paragem.

Na temporada 2023-2024, segundo o mesmo relatório, os jogadores com menos de 21 anos da liga inglesa passaram uma média de 43,92 dias lesionados. Em contrapartida, em 2022-23, o número tinha sido de 26,5 dias. O número total de dias lesionados aumentou de 901 para 2.240 dias.

Esta realidade é transversal às principais ligas masculinas europeias: Série A, Ligue 1, La Liga, Bundesliga e Premier League.

As lesões nos joelhos são recordistas

São cada mais frequentes as lesões nos joelhos, ao longo da temporada, e as estatísticas mostram que essa tendência já bateu recordes.

Na temporada 2023-24 existiram 367 casos de lesões nos joelhos, em 2022-23 foram 333, em 2021-22 contaram-se 352 e em 2022-21 foram 279 ocorrências.

O número médio de dias em que os jogadores estiveram afastados devido a esse tipo de lesões é de 51,46 dias, bastante superior aos 33,56 dias registados em 2021-22. Ainda assim, comparativamente à época de 2022-23, houve um decréscimo de 1,49 dias em relação à atualidade.

Relativamente às ligas europeias, os jogadores da Bundesliga foram os mais fustigados com 384 lesões no joelho, nas últimas quatro temporadas. Na Premier League foram 297 lesões durante o mesmo período.

Quantas mais lesões, mais pagam os clubes

O relatório da Howden também usou dados salariais da Sporting Intelligence e Football Feeds para demonstrar o custo que as lesões causam aos clubes.

Em 2023-24, os clubes da Premier League pagaram 318,8 milhões de euros devido às 915 lesões ocorridas, mais 30 milhões quando comparada com a temporada anterior.

No fundo, os clubes sofrem, a cada 94 minutos, uma lesão, com um custo de 3.698 euros por minuto.

Em comparação com a temporada 2022-23, as cinco principais ligas europeias tiveram um aumento de 5% nos custos associados a lesões.

São vários os jogadores que já se queixaram do calendário de jogos congestionado, alegando que o risco de lesões será cada vez maior. Inclusive, as principais ligas europeias e a Fifpro já avançaram com uma queixa legal contra a FIFA, na Comissão Europeia, acusando a entidade de "abuso de posição dominante".

É de relembrar que, em setembro, o médio do Manchester City Rodri sugeriu uma greve feita pelos jogadores, como protesto devido à intensa carga de trabalho durante a época desportiva. Uma semana depois, o jogador espanhol sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior, pondo fim à sua temporada, depois de ter feito 72 jogos entre julho de 2023 e julho de 2024.