A ideia da criação de uma Superliga europeia de futebol não morreu e continua bem viva. A A22 Sports Management, empresa responsável pelo projeto, apresentou esta quinta-feira um documento no qual revela algumas alterações às ideias propostas inicialmente e que mais polémica causaram.

No documento, intitulado 'Dez princípios para uma Liga europeia de futebol', a A22 Sports Management começa por frisar que "o futebol europeu está à beira do abismo" e que "têm surgido enormes desequilíbrios no nosso continente relativamente a clubes europeus tradicionais com um glorioso passado, que hoje são incapazes de competir".

Qual era a ideia da proposta inicial?

A ideia original da criação de uma Superliga europeia, que em meados de 2021 caiu como uma bomba no seio do futebol europeu, pretendia a criação de uma prova de futebol disputada pelos seus 12 clubes fundadores (AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, FC Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham), aos quais se juntariam mais oito, mediante determinados critérios.

A competição seguiria depois para uma fase a eliminar, com quartos de final e meias-finais, disputados a duas-mãos, sendo a final jogada a um só jogo em campo neutro.

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Os 12 clubes fundadores seriam sempre membros permanentes, com as descidas e subidas a aplicarem-se apenas aos restantes cinco clubes. Os jogos seriam realizados a meio da semana, com todos os clubes envolvidos nesta Superliga a continuarem a competir nas suas respetivas Ligas domésticas.

Os clubes fundadores iriam receber de uma só vez 3,5 mil milhões de euros, um valor bem superior aos cerca de 3,2 mil milhões de euros pagos aos clubes pela UEFA em todas as competições organizadas pelo organismo.

O que muda face à ideia inicial?

Esta primeira proposta encontrou oposição veemente por parte da maior parte da família do futebol europeu, desde os adeptos à UEFA, passando pelas várias federações e Ligas nacionais, com o caso a chegar mesmo aos tribunais e sanções a serem aplicadas por parte dos organismos aos clubes subscritores do projeto, os quais, aos poucos (com raras exceções) foram 'abandonando o barco'.

Perante isto, e face aos pontos de conflito que estavam presentes na proposta inicial e que tanta polémica geraram, a reformulação da ideia da A22, apresentada esta quinta-feira, passa agora por criar uma Liga aberta, com várias divisões e composta por entre 60 a 80 equipas.

Além disso, como base para a participação estaria o mérito desportivo de cada equipa em cada temporada, não existindo membros permanentes.

Tal como na Superliga proposta inicialmente, esta 'nova Superliga' seria uma competição à parte, com as equipas participantes a continuarem a disputar as competições domésticas, sendo que esta "nova Superliga" seria uma competição "governada pelos clubes com normas de sustentabilidade financeira transparentes e aplicadas de forma rigorosa".

Qual é, afinal, o propósito de uma Superliga europeia de futebol?

De acordo com os seus promotores, com esta Superliga pretende-se "melhorar a competitividade dos clubes europeus através da distribuição equilibrada dos recursos financeiros", criando uma competição europeia de futebol "que se torne no acontecimento desportivo mais emocionante do Mundo". A A22 pretende também que parte das receitas sejam - tal como faz a UEFA - usadas para promover as bases do futebol feminino e canalizadas para ações de solidariedade.

Quais são, então, os dez princípios agora apresentados para esta 'nova Superliga'?

Competição 'aberta': A Superliga Europeia de Futebol deve ser uma competição aberta, com várias divisões, composta por 60 a 80 equipas, e que permita uma distribuição sustentável dos rendimentos ao longo da pirâmide do futebol. A participação em cada temporada deve ser baseada no mérito desportivo, não havendo membros permanentes. O sistema de qualificação deve ser aberto, baseado no desempenho nas competições nacionais, permitindo assim o acesso de todos os clubes à competição, mantendo a dinâmica competitiva a nível nacional.

Importância das Ligas nacionais: Os clubes participantes devem permanecer comprometidos com suas competições e torneios nacionais, como estão atualmente. Ao mesmo tempo, deve ser abordada a necessidade crítica de fortalecer e tornar os torneios nacionais mais competitivos em todo o continente. As competições europeias devem desempenhar um papel fundamental na consecução deste objetivo, gerando e injetando recursos adicionais em todo o sistema.

Melhorar a competitividade: A melhoria da competitividade dos clubes europeus passa por uma maior distribuição de recursos financeiros por toda a pirâmide e por regras de sustentabilidade financeira rigorosamente aplicadas. Os clubes precisam de maior estabilidade nas suas receitas anuais para poderem assumir compromissos a longo prazo, tanto com os seus jogadores como com o desenvolvimento das infraestruturas. Um formato de competição europeu melhor e mais atraente geraria recursos adicionais, com a estabilidade financeira dos clubes aumentaria muito se fossem garantidos um mínimo de 14 jogos europeus por temporada.

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A saúde dos jogadores: A saúde dos jogadores deve ser um fator essencial para determinar o número de jogos que devem ser disputados a cada ano. O número de dias de competição europeia não deve aumentar em relação ao previsto nos calendários atuais. As associações de jogadores devem estar mais envolvidas na garantia da saúde dos jogadores e o diálogo social deve ser promovido na UE. É fundamental que os clubes europeus e os seus jogadores não sejam forçados por terceiros a participar de novas competições ou calendários ampliados.

Competição gerida pelos clubes: As competições europeias de clubes devem ser geridas pelos clubes, como acontece a nível nacional, e não por terceiros que beneficiam do sistema sem correr qualquer risco. A sua estrutura de gestão deve cumprir integralmente os regulamentos da UE. O futebol europeu deve ser sustentável e, para isso, os gastos dos clubes devem ser baseados apenas nos recursos que os clubes são capazes de gerar, e não através de injeções de capital de terceiros que distorcem a competição. As regras de sustentabilidade financeira devem limitar os gastos dos clubes com salários e transferências de jogadores a uma percentagem fixa da sua receita anual, com regulamentos específicos adaptados a clubes menores e a períodos de transição.

Criar a melhor competição futebolística: O objetivo passa por desenvolver uma competição de futebol europeia que se torne no evento desportivo mais emocionante do mundo. Os adeptos europeus merecem os melhores jogos. É fundamental que as gerações mais jovens, atraídas pela expansão global de outros desportos e pelo entretenimento digital, continuem a abraçar o futebol como o desporto mais amado do mundo. Tudo isso só se consegue com competições que permitam, do início ao fim, aos melhores jogadores do mundo disputarem partidas emocionantes ao longo de toda a temporada.

Uma melhor experiência para os adeptos: O futebol é o desporto mais popular por excelência e o diálogo com os adeptos é fundamental para uma troca de ideias que possa melhorar a experiência de assistir a uma partida e a um torneio de futebol. Medidas adicionais devem ser tomadas para facilitar a presença dos adeptos nos jogos fora de casa. Padrões também devem ser estabelecidos com o objetivo de regular a qualidade dos estádios e de outras infraestruturas de futebol, melhorando assim a experiência de ver futebol ao vivo.

Desenvolver o futebol feminino: É fundamental promover e desenvolver o futebol feminino, dá-lo a conhecer e dar-lhe destaque a par das competições masculinas. Para atingir este objetivo, o financiamento das competições europeias de clubes femininos deve ser significativamente expandido. Os investimentos no futebol feminino devem visar tanto o nível profissional como o desenvolvimento do futebol de base.

Aumentar a solidariedade: A solidariedade para com o futebol de base é um pilar essencial do futebol europeu e deve aumentar significativamente em relação aos níveis atuais. Haverá uma contribuição de um mínimo de 400 milhões de euros por ano para solidariedade, clubes que não participam na competição e causas sociais – ou seja, mais do dobro da contribuição das atuais Competições Europeias de Clubes – que deverá ajudar a atingir este objetivo. A transparência na gestão também deve ser garantida por meio da supervisão de autoridades independentes que reportem pública e periodicamente sobre o destino dos recursos e o seu impacto.

Respeito pelos valores da União Europeia: Todos os envolvidos no futebol europeu devem respeitar os valores, regras e liberdades fundamentais da União Europeia. Portanto, nenhum clube europeu deve ser obrigado a submeter-se a sistemas de resolução de conflitos fora da União Europeia e do seu estado de direito. A jurisdição da arbitragem desportiva deve limitar-se estritamente a questões de natureza desportiva, devendo qualquer questão de outra natureza jurídica ser resolvida no foro apropriado para o efeito. Sempre sob a supervisão final do sistema judicial da União Europeia.

Fim do monopólio da UEFA?

A fechar, após elencar estes dez pontos, a A22 Sports Management lembra que "ao longo deste ano o Tribunal de Justiça da União Europeia pronunciar-se-á sobre a legalidade e compatibilidade do monopólio da UEFA sobre o futebol europeu no que diz respeito ao quadro de princípios, valores e liberdades fundamentais que constituem a base da União Europeia" e sublinha que esta decisão afetará o futebol e todos os desportos europeus.

"O nosso objetivo é apresentar à Europa, após a resolução do caso, um projeto desportivo sustentável para competições de clubes e aberto, pelo menos, aos 27 Estados-Membros da União Europeia. Os problemas são evidentes e devemos agir em benefício dos adeptos, jogadores e clubes", conclui.