O Al Hilal, de Jorge Jesus, somou na segunda-feira o 24.º triunfo seguido em jogos oficiais, ao bater o Al Ettifaq fora de portas por 2-0, em partida da 21.ª ronda da Liga Saudita. Com o triunfo, a equipa onde joga o português Rúben Neves regressou aos sete pontos de vantagem para o Al Nassr, segundo colocado com 52 pontos.
O SAPO Desporto marcou presença no Estádio Príncipe Mohamed bin Fahd, em Dammam, e viu um jogo intenso, bem disputado, com várias oportunidades de golo e que teve nas bancadas uma festa muito bonita.
Horas antes do apito inicial, já havia muitos carros aglomerados em redor do estádio. Seguranças em todo o lado mas sem exageros de maior. Tirando o quase sempre caótico trânsito, algo normal nas grandes cidades da Arábia Saudita, o ambiente era de festa, com muitos adeptos do Al Hilal, que viajaram de Riade (são quatro horas de carro até Dammam) para apoiar o líder da Liga. Muitas crianças, vestidas com camisolas dos craques da equipa como Neymar, Ruben Neves, Bono, Mitrovic, Malcoln.
Feito a acreditação, com ajuda dos responsáveis pelos média da Liga Saudita, entrámos para as bancadas para as primeiras impressões. E o Estádio Estádio Príncipe Mohamed bin Fahd, onde joga o Al Ettifaq, não difere muito do Estádio Príncipe Faisal bin Fahd, casa do Al Shabab, onde assistimos o jogo diante do Al Nassr, no domingo. Tudo muito igual: bancada de imprensa, sala de imprensa, sala de conferência de imprensa, placares eletrónicos e bancadas.
Surpresa, para nós, foi constatar que havia, provavelmente, mais adeptos do Al Hilal do que do Al Ettifaq. A formação do técnico Jorge Jesus e do médio Rúben Neves é o clube do povo, ou não fosse o emblema mais titulado da Arábia Saudita, com 18 ligas, à caminho do 19.º título de campeão.
Se no domingo os adeptos do Al Nassr deram espetáculo diante do Al Shabab, os do Al Zaeem (O Patrão) não se deixaram ficar. Os milhares que viajaram de Riade deram um colorido diferente, com vários cânticos. A diferença é que, no domingo, os do Al Nassr nunca se calaram durante os 90 minutos. Os do Al Hilal, faziam pequenas pausas, para respirar voltar em força. Nesses momentos ouvia-se as crianças nas bancadas a puxarem pelos seus ídolos. Os do El Ettifaq tentavam abafar os cânticos vindos do outro lado mas não tinham tantas vozes afinadas para cantar.
Depois de Paulo Vítor, guarda-redes do Al Ettifaq que já passou pelo Marítimo, ter negado um golo cantado ao Al Hilal, chegou a primeira explosão de alegria, aos 39 minutos. Canto de Rúben Neves e entrada de cabeça de Sergei Milinkovic-Savic, sem hipótese para o brasileiro.
As bancadas também era o espelho da abertura faseada da Arábia Saudita ao mundo. É verdade que os quase 14 mil adeptos presentes eram, na sua maioria, homens, mas havia muitas mulheres, algumas vestidas com os trajes tradicionais (nijab, com apenas os olhos à mostra), outras com as camisolas dos seus clubes por baixo dos vestidos, outras, com a cara destapada, à vontade nas bancadas, principalmente as mais jovens. Sinais dos tempos de mudança num país que era muito fechado em si até há bem pouco tempo.
Com o fair-play a reinar nas bancadas, amigos dos dois clubes sentavam-se lado a lado, cada um puxando pela sua equipa.
No relvado mas do lado de fora, Jorge Jesus, com o seu fiel escudeiro, João de Deus. O técnico português que comanda os Blue Waves (Ondas Azuis) não pára um segundo. A um passe falhado de Kalidou Koulibaly, esbraceja, questiona o central senegalês, mete a cara no chão, a matutar sobre o jogo.
Uma decisão errada de Renan Lodi e lá está ele, a esbracejar, a corrigir, a explicar como devia ser.
Antes dos 10 minutos de tempo de compensação dados pelo árbitro italiano Fabio Maresca no primeiro tempo, os líderes da Liga Saudita fizeram o 2-0 (45+5). Cortesia de uma das estrelas sauditas da equipa, o extremo Al Dawsari, em lance individual pela linha de fundo a finalizar já com quase sem ângulo.
Com o recolher das equipas para os balneários, ao intervalo, chegou a hora de trocar impressões sobre os primeiros 45 minutos do jogo, de aquecer o estômago e matar a sede.
Após o descanso, as gargantas dos adeptos do Al Hilal parecem ter ganho nova vida. Cânticos cada vez mais barulhentos, começados na claque colocada num dos topos, e acompanhados pelos milhares que estavam na bancada central do lado da imprensa. Na sua maioria crianças. A próxima geração de apoiantes do El Zaeem está garantida.
A equipa de Jorge Jesus dominava, a formação orientada pelo inglês Steven Gerrard procurava um golo que o colocasse na discussão dos três pontos.
Um remate colocado de Sergei Milinkovic-Savic a meio do segundo tempo provocou novo 'bruah' nas bancadas vindo dos adeptos dos azuis de Riade, mas o remate foi amigo de Paulo Vítor e negou o golo ao sérvio.
Ainda se viram mais algumas oportunidades perdidas pelo Al Hilal.
À nossa frente, crianças com bandeiras e cachecóis do Al Hilal acompanhavam a claque da equipa nos cânticos. O final aproximava-se, a vitória seria certa. Os da casa levaram às mãos à cabeça após uma boa oportunidade perdida. Mas logo o Al Hilal tomou conta das operações, empurrado pelo público nas bancadas.
Com o apito final, os adeptos do Al Hilal fizeram a festa. Muitos deslocaram-se para perto da zona mista para ver os craques a passar, à caminho dos respetivos autocarros. Todos munidos de telemóveis de última geração, a tentar uma sélfie com os jogadores que passavam.
Os do Al Hilal foram felizes para casa ao verem a sua equipa somar o 24.º jogo seguido a ganhar em todas as provas. Jesus e Rúben Neves vão bem lançados para o título e para uma época que pode ser histórica. Já são 32 jogos sem perder na época.
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