Dez anos depois da primeira experiência como técnico principal no estrangeiro, Vítor Pereira está de volta a um país que lhe diz muito. Na época 2013/2014, após sagrar-se bicampeão nacional no FC Porto, o técnico teve uma breve passagem pelo Al Ahli Jeddah, onde venceu quatro dos 10 jogos que disputou.
Volta agora para outra cidade, Riad, onde terá a tarefa de colocar o Al Shabab nos lugares cimeiros da Liga Saudita. E o que mudou desde essa passagem?
"De facto, 10 anos depois muita coisa mudou: a liga está mais competitiva, com melhores jogadores, melhores treinadores, o nível de organização também evoluiu", destacou o técnico português de 55 anos, na pequena zona de entrevistas rápidas onde esteve o SAPO Desporto.
VÍDEO: Vítor Pereira reconhece impacto brutal de Cristiano Ronaldo na Liga Saudita
Depois de termos falado com o central Iago Santos, central do Al Shabab que em Portugal representou o Moreirense e Académica de Coimbra, ambos na Primeira Liga, apareceu o técnico, feliz por ver portugueses, agora que está tão longe de casa.
O tempo era curto, pelo não havia espaço para muitas perguntas. Mas deu para o essencial. E o impacto de Cristiano Ronaldo na Liga Saudita não podia deixar de ser tema de conversa.
"É um impacto enorme, brutal. O Cristiano Ronaldo é um bocadinho a imagem desta liga, a imagem da renovação que a Arábia Saudita quer fazer. A imagem dele vende mundialmente", assegurou.
Este domingo, Vítor Pereira terá de montar uma equipa capaz de travar a veia goleadora do avançado português, melhor marcador da Liga Saudita. E como irá faze-lo? Jogando como equipa e ter um Al Shabab a roçar a perfeição para vencer.
"Se fosse só o Cristiano Ronaldo... (risos) o problema é que [o Al Nassr] tem muita gente de qualidade. São argumentos diferentes, campeonatos diferentes de um lado e do outro", sublinhou.
Vítor Pereira recorda que o Al Shabab está ainda à procura da sua "identidade criada em pouco tempo, que ainda está a gatinhar", mas quer "ver uma equipa que saiba competir em todos os momentos do jogo e que lute pelos três pontos", frente aos vice-líderes da Liga saudita.
Nestes primeiros dias de trabalho, a equipa técnica está a "alinhar ideias, a tentar ligar os jogadores taticamente e mentalmente", transmitindo-lhes "um bocadinho uma cultura de vitória, uma cultura competitiva".
A equipa precisa de triunfos urgentemente para deixar o 10.º posto e, nos primeiros dias, Vítor Pereira encontrou vontade e entusiasmo para lá chegar.
"De facto é pouco tempo de trabalho ainda mas os jogadores estão a assumir com entusiasmo as coisas, o treino, e isso também me entusiasma a mim. Passámos uma ideia clara de jogo, com coisas muito claras em todos os processos, o defensivo e o ofensivo e eles estão a aceitar bem. Esperemos que os resultados ajudem. Acredito que conforme o nível de organização vai aumentando, também vai melhorando a possibilidade de ganhar", atirou.
Vítor Pereira é, a par de Jorge Jesus e Luís Castro, um dos três técnicos que treina na Liga Saudita. Além dos treinadores de qualidade, foi feito um investimento estratosférico em futebolistas de renove, como Cristiano Ronaldo, Neymar, Benzema, Roberto Firmino, Sadio Mané, N'Golo Kanté, Mahrez, Rúben Neves, Otávio, entre muitos outros craques que atuavam nos principais emblemas europeus.
Todos foram contratados para elevar o nível do futebol na Arábia Saudita e fazer crescer os jogadores locais. Vítor Pereira frisa que é preciso haver uma "mentalidade certa" para que "tantos os jogadores como os treinadores" estrangeiros possam acrescentar qualidade à Liga Saudita.
"Treinar com jogadores de nível dá possibilidade aos próprios sauditas de aumentarem o seu nível. Treinam com mais qualidade, treinam com jogadores ao seu lado de qualidade e com certeza vão evoluindo mais. Acredito que o país está mesmo empenhado em chegar ao Mundial nas melhores condições possíveis", assegurou.
E esse crescimento de qualidade pode ser feito com mais jogadores que atualmente atuam em Portugal? Vítor Pereira ainda não pensa em contratações, mas aprova tudo o que seja acrescentar nível ao que já existe.
"Para já não estou muito preocupado com isso. Estou preocupado em olhar para os meus jogadores, melhora-los a todos, melhorarmos como equipa também e depois o futuro logo se verá. Vim para fazer até ao final da época e no final da época vamos ver. Se o projeto agradar e seu trabalho agradar ao clube, falaremos e a partir daí... com certeza que já muitos jogadores de qualidade em Portugal, portugueses e estrangeiros, adaptam-se bem, são sempre possiblidades para este tipo de contextos", lembrou o antigo treinador do FC Porto.
E por falar em Portugal, questionado sobre o atual momento do clube azul e branco, com as divisões existentes com o aproximar do ato eleitoral entre Pinto da Costa, André Villas-Boas e Nuno Lobo, o técnico não quis comentar. De recordar que Vítor Pereira foi adjunto de André Villas-Boas precisamente no FC Porto, antes de assumir a equipa quando o agora candidato à presidência saiu para treinar o Chelsea.
Além do FC Porto, Vítor Pereira treinou o Santa Clara em Portugal. No estrangeiro, comandou, além do citado Al Ahli Jeddah, os brasileiro do Corinthians e Flamengo, o Olympiacos da Grécia, o Fenerbahçe da Turquia (duas ocasiões), o TSV 1860 Munique e o Shanghai SIPG da China.
No currículo como treinador principal conta com duas ligas portuguesas, uma liga grega e uma supertaça da Grécia, uma liga turca, uma liga chinesa e uma supertaça da China, além de duas Supertaças Cândido de Oliveira.
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