No dia 20 de agosto, o bairro Vallecas, em Madrid, deixou de ser pacato.

A renovação dos lugares anuais do Rayo Vallecano - que deveria ser um momento de comunhão entre o clube e os adeptos - tornou-se num autêntico desespero para a massa associativa. Tudo isto porque o processo para a acreditação dos bilhetes de época só poderiam ser feitos... presencialmente e isso levou a que se formasse uma fila interminável nas imediações do estádio. Uma fila interminável temporalmente e espacialmente, refira-se.

Os relatos que se ouvem podiam ser de alguém que estivesse numa fila à espera de um concerto nos maiores palcos de Madrid, mas não. São relatos ainda mais exaustos por ser algo que poderia perfeitamente ser feito à distância. Para sermos mais específicos, qualquer adepto que quisesse levantar o cartão de época, comprar um novo lugar ou mudar de lugar no estádio teria de se sujeitar a isto.

Se a dimensão da fila que praticamente fazia uma corrente em torno do estádio já era um filme de terror, tudo piorava com o tempo que demorava o atendimento e a quebra emocional e física dos adeptos - na realidade são apaixonados pelo seu clube, mas não são de ferro.

Em termos de números, os relatos que chegam de Espanha mostram bem a realidade que se viveu em Vallecas. De acordo com o 'El País', eram mais de 100 pessoas e mais de 30 horas à espera. Números, de facto, assustadores. Mas pior é perceber como estas horas que entraram pela noite dentro tornaram esta espera num corredor entre a noite e o dia.

Mesmo já com pouca energia, houve vozes que ainda conseguiram encontrar forças para falar à imprensa.

"Sentimo-nos maltratados. Essa situação é anacrónica e imprópria de um clube da Primeira Divisão", apontou  Paco Pérez, conselheiro do Más Madrid na Câmara Municipal de Madri e adepto do clube ao 'El País'. Refira-se que este é um relato de alguém que apenas esteve oito horas na fila, um número bem simpático em comparação com outras pessoas.

Ainda segundo a mesma fonte, o real problema prende-se com as novas assinaturas (2500) cujo registo o clube não permitiu ser online alegando uma desigualdade para com as pessoas que não tinham internet.

Em termos presenciais, a marca dos sobreviventes fazia-se com a inscrição do nome e das horas que os adeptos tinham ficado na fila no chão, mas um deslize ou uma ausência não era perdoada.

"Eles descontaram-me por duas horas porque fui para casa tomar banho", referiu Borja Sanz, um estudante de 19 anos, também ao 'El País'.

Se calhar, como fizeram tantos outros, faltou a este jovem adepto uma preparação para um verdadeiro acampamento e talvez isto possa servir de aviso para uma situação futura. O Estádio do Rayo Vallecano tornou-se não só um albergue de pessoas como também de cadeiras e utensílios de adeptos que, afinal, estavam numa estadia.

Recorde-se que o clube de Madrid, sexto classificado na La Liga e que esta época já empatou com o Barcelona (0-0), não passa o melhor momento a nível estrutural. O Rayo já reconheceu que o método para a recolha dos bilhetes de lugares anuais não foi o melhor, mas este foi apenas o culminar de muitas situações que causam revolta dos adeptos contra os mais altos dirigentes e o presidente, Raúl Presa. As dívidas do clube à comunidade de Madrid pelas obras do estádio (80 mil euros) - algo que não deveria acontecer uma vez que todos os clubes da Liga Espanhola recebem um financiamento nesse sentido - foram uma das mais recentes polémicas.

Contactado pelo SAPO Desporto, o presidente do clube, Raúl Presa, preferiu não comentar o assunto.

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