Quando já ninguém esperava, Galeno esculpiu uma obra de arte, aos 90+4 minutos, e garantiu o triunfo do FC Porto na receção ao Arsenal. Assim, os dragões visitam Londres com uma vantagem importante e esperanças redobradas de selar o apuramento para os quartos de final da Liga dos Campeões.

A exibição taticamente irrepreensível da equipa de Sérgio Conceição foi a chave para contrariar uns 'gunners' mandões, mas que nunca foram realmente perigosos. Desde que chegou ao clube, o treinador dos dragões já derrotou Roma, Juventus, Lázio, Atlético de Madrid e Leverkusen na Champions.

O jogo explicado

O FC Porto tinha noção da missão espinhosa que tinha pela frente e Sérgio Conceição percebeu que teria de alterar a forma como a equipa habitualmente encara o jogo. Manteve a mesma equipa que começou de início contra o Estrela da Amadora, organizada em 4-2-3-1, trocando apenas o lesionado Zaidu por Wendell, o que se revelou uma boa surpresa. Em vez de tentar dominar o jogo como acontece no campeonato, os azuis e brancos atuaram num bloco médio-baixo concedendo a posse bola ao Arsenal e aproveitando boas saídas de pressão para causar danos através os metros disponíveis nas costas da defesa adversária.

Na defesa os laterais ofereceram muita profundidade na hora do contra-ataque e Pepe (que fez história ao tornar-se no jogador mais velho numa fase a eliminar da Liga dos Campeões, a cinco dias de completar 41 anos) foi um belo suporte para o inexperiente Otávio, que ainda assim denotou uma calma impressionante. No meio-campo Varela segurou as pontas, enquanto Nico fazia a ligação com o ataque e Pepê tentava rasgar pelo meio. Francisco Conceição e o irreverente Galeno foram sempre setas apontadas à baliza, apoiados por um Evanilson lutador.

No lado britânico, Mikel Arteta utilizou exatamente o mesmo onze que goleou o Burnley no fim de semana, com os laterais a funcionarem como um apoio extra ao meio-campo quando a bola estava do lado oposto, enquanto Saka e Martinelli conferiram largura à equipa, tentando aproveitar o pouco espaço deixado pelos azuis e brancos. Em posse de bola, os 'gunners' construíam de trás e tentavam empurrar os dragões colocando cinco jogadores na última linha.

O jogo seguiu quase sempre a mesma tendência: Arsenal a gerir a bola sem conseguir furar a muralha adversária e os dragões exemplarmente organizados, a conseguir sair em ataque rápido.

A apetência pelos duelos a meio-campo era notória, tanto que a primeira grande oportunidade só surgiu aos 21 minutos, quando Galeno atirou a bola ao poste com um remate violento e depois desperdiçou a segunda tentativa, que ficou a milímetros da baliza de Raya.

O Arsenal tentava enervar os jogadores do FC Porto ao demorar imenso tempo a bater todas as bolas paradas e a impor um ritmo lento à partida, mas a concentração dos dragões esteve sempre no auge. A equipa azul e branca ia-se ajustando às alterações promovidas por Arteta no decorrer do encontro e aguentou até ao momento decisivo.

Quando já todos esperavam um empate, que apesar de ser um bom resultado contra este adversário tinha um travo de injustiça pela foram exemplar como os dragões abordaram o jogo taticamente, Galeno puxou um coelho da cartola e fez um daqueles remates que vai guardar na memória, fazendo as bancadas do Estádio do Dragão tremer.

Já não houve tempo para mais e o FC Porto conquistou uma vantagem preciosa que permite encarar a segunda mão, a 12 de março, com esperança de chegar aos quartos de final da Liga dos Campeões.

O momento: Inspiração divina

Num jogo com tão poucas ocasiões de golo é impossível escolher outro momento que não o golaço marcado por Galeno, aos 90+4 minutos. Após ter falhado duas vezes no mesmo lance, de forma clamorosa, o camisola 13 assumiu o papel de herói, olhou para a baliza e criou um arco perfeito com a bola que fez o tempo parar no Dragão. Quando o tempo retomou já só se ouvia gritos de golo e uma explosão de alegria nas bancadas. O extremo brasileiro está a fazer uma Champions de gala e já leva cinco golos e quatro assistências em seis partidas realizadas.

Os melhores: Eixo central de diamante

Se o papel fundamental de Galeno já foi referido, as exibições menos vistosas de Pepe e Alan Varela no eixo central portista não podiam passar em claro. O defesa central usou os quase 41 anos de experiência para resolver da melhor maneira todas as situações de perigo criadas pelos jogadores do Arsenal, ainda houve tempo para alguns apontamentos com nota artística na altura de sair a jogar. Já Alan Varela foi o ponto de equilíbrio no meio-campo que apagou todos os fogos emergentes e deu confiança aos elementos mais ofensivos para arriscar quando conseguiam. Dois jogadores fundamentais para o triunfo dos dragões, ocupando funções que passam despercebidas ao espectador mais desatento.

O pior: Incapacidade para mudar

Reconhecendo que é um treinador brilhante e que provavelmente terá um belo futuro pela frente mas, esta quarta-feira, Mikel Arteta não teve capacidade para dar à equipa o que ela precisava. Cedo se percebeu que os dragões estavam compactos e que era preciso mudar a estratégia, até porque, apesar de ter mais bola, o Arsenal não estava a ser perigoso. Os protagonistas do costume, como Odegaard, Saka ou Martinelli, não estavam em dia sim e nem isso motivou o técnico espanhol a dar um abanão à equipa para sair com outro resultado do Dragão. Na única substituição que fez, lançou Jorginho para o lugar de Trossard e a equipa ainda ficou com menos poder de fogo.

O que dizem os treinadores

Sérgio Conceição, do FC Porto: "Não nos podemos esquecer que estamos a meio da eliminatória. Os jogadores devem estar felizes pelo que fizeram"

Mikel Arteta, do Arsenal: "Eles não queriam sair com a bola e não tinham nenhuma intenção de jogar"