Cinco jogos, cinco vitórias, 18 golos marcados e três sofridos. Se não bastassem estes números para atestar o crescimento do Benfica com Bruno Lage, a exibição da noite de quarta-feira na Luz diante do Atlético Madrid, abre boas perspectivas sobre o que aí vem. Os 4-0 foram o resultado de uma superioridade inquestionável dos encarnados, num jogo onde não permitiram nada aos espanhóis.

O Benfica junta-se ao Brest, Aston Villa, Borussia Dortmund, Liverpool, Juventus e Bayer Leverkusen entre as equipas com seis pontos nas duas primeiras rondas desta nova Liga dos Campeões.

Fotos: As melhores imagens do Benfica-Atlético Madrid

O Jogo: banho tático

Num jogo de futebol entre duas equipas ditas iguais, o balanço final é feito dos méritos do vencedor e dos deméritos do vencido. É sobre heróis e vilões, o que o derrotado não fez para evitar o desaire e a estratégia usada pelo vencedor para alcançar a vitória.

O Benfica-Atlético Madrid da noite de quarta-feira na Luz não foi diferente. Os encarnados fizeram a melhor exibição da época, voltaram a mostrar o Benfica da Europa, perante um Atlético Madrid apático, resignado, sem crença nas suas qualidades. As mexidas do treinador Diego Simeone foram sintomáticos. Mas antes vamos ao jogo.

Foram quatro, mas outros quatro ou mais ficaram por marcar, numa noite de grande maturidade futebolística do Benfica, sempre em crescendo desde que Bruno Lage pegou na equipa após a saída de Roger Schimdt. Qualidade técnica e capacidade de decisão na frente (19 remates, 11 deles à baliza) e solidez atrás (zero remates consentidos à baliza), para gáudio dos mais de 62 mil que marcaram presença e fizeram ferver o caldeirão da Luz, no primeiro jogo da nova Champions na casa do Benfica.

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No fundo, foi um banho tático do português ao argentino que comanda os destinos dos espanhóis há 14 épocas seguidas.

A equipa de Bruno Lage aproveitou a intranquilidade e incerteza do jogo colchonero para construir o resultado. Os quatro empates em oito jogos na Liga Espanhola são o espelho das dificuldades ofensivas dos comandados de Simeone.

Apesar de ter recebido craques como Connor Gallagher, Alexander Sorlot, Julian Alvarez, Le Normand, num investimento de 185 milhões no plantel, a equipa continua sem melhorar na sua ideia de jogo, vivendo quase sempre das individualidades. E na Luz, as estrelas colchoneras foram apagadas.

Ajudou muito o Benfica ter marcado cedo em cada uma das partes do jogo: o primeiro, aos 13 minutos, por Kerem Akturkoglu, a tirar partido das debilidades defensivas da equipa para mostrar o seu faro de golo, o segundo, por Di Maria, logo aos 52 minutos, (sete do segundo tempo), a deitar por terras as aspirações dos espanhóis.

A tarefa do Benfica foi muito facilitada porque, ao marcar cedo, recuou, obrigou o Atlético Madrid a puxar pela criatividade ofensiva para encontrar espaços para entrar na área benfiquista. E isso foi muito difícil, graças a melhoria significativa dos encarnados a defender, com Bruno Lage. A linha de quatro defesas muito próxima da dos médios, pouco espaço para explorar.

A defender, Aursnes era quem ajudava Bah na direita, Kerem Akturkoglu fazia o mesmo como Carreras na esquerda, Kokçu ao lado de Florentino e Di Maria mais perto de Pavlidis na pressão. Na saída de jogo, a construir desde detrás, Tomás Araújo abria na direita e Carreras vinha muitas vezes por dentro, funcionando como terceiro central. Di Maria andou a pisar terrenos mais interiores, na zona central, a ser ele também o lançador dos ataques, protegendo-se depois a nível defensivo das correrias nos corredores onde teria de acompanhar as subidas do ala do Atlético Madrid.

A equipa encarnada conseguiu sair a jogar sem problemas em várias ocasiões, tanto no primeiro como no segundo tempo.

Ao intervalo, Diego Simeone quis dar um safanão na equipa e tirou os craques - Koke, De Paul, Griezmann e pouco tempo depois, Alvarez - e lançou os reforços Sorloth e Gallagher, deixando os colchoneros sem liderança em campo. E isso se viu nos primeiros minutos: uma equipa caótica, com todos no ataque e poucos na defesa, sem uma ideia clara. Foram muitas as bolas nas costas da defesa, principalmente na esquerda, onde Reinildo ia sofrendo com a velocidade dos avançados encarnados e do muito espaço existente.

Ofensivamente, foi muito pobre (zero remates enquadrados com a baliza). Dos quatro remates feitos em mais de 90 minutos de futebol, só um de Samuel Lino no primeiro tempo, na barra, assustou. Muito pouco.

De destacar mais um golo na sequência de canto - de Beste para a cabeça de Bah -, o quinto desta época, e mais um penálti convertido por Kokçu, um dos melhores em campo.

Momento-chave: Penálti de Di Maria quebrou de vez o Atlético

Diego Simeone não estava satisfeito e tirou os craques Griezmann, De Paul e Koke ao intervalo mas, assim que o jogo recomeçou, o Atlético Madrid levou o 2-0, de grande penalidade, convertida por Di Maria. Nem teve tempo de sonhar com o empate.

Os Melhores: Finalmente há lateral esquerdo, Kokçu sente-se como peixe na água

O melhor Benfica da época revelou também o melhor Álvaro Carreras desde que chegou aos encarnados: intratável a defender, forte no ataque, com incursões muito bem delineadas pelo corredor esquerdo onde combinou bem com Di Maria mas também com Akturkoglu. Conseguiu concluir os quatro dribles que tentou, Recuperou oito vezes a bola, a que se juntam três desarmes e quatro intercepções.

Um dos méritos de Bruno Lage foi recuperar jogadores como Carreras mas também Orkun Kokçu. O turco joga finalmente na posição que fez dele o melhor da Eredivisie holandesa - a 10 - está feliz e isso vê em campo, como atestam os três golos marcados e duas assistências desde que Bruno Lage pegou na equipa. Tem uma boa química com Akturkoglu, está a defender melhor, mostra-se mais disponível e sem medo de assumir a condução dos ataques.

Em noite 'não': Onde andas, Atlético?

Uma equipa que luta pelos títulos em Espanha, que investiu 185 milhões no plantel no último defeso, vir a Luz e não fazer qualquer remate enquadrado com a baliza em mais de 90 minutos, é algo que faz pensar. Simeone parece não ter um plano quando a equipa tem de correr atrás do resultado ou enfrenta blocos baixos. Depois de Borussia Dortmund 2018 e Bayern Munique em 2010, o Benfica é a terceira equipa a dar 4-0 ao Atlético Madrid, na era Simeone.

Reações

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