Os emblemas do principal campeonato francês podem avançar com uma ação judicial em Tribunal contra o Estado francês e exigir 800 milhões de euros ao Governo, pelo fim antecipado dos dois campeonatos profissionais de futebol masculino.
O Governo decretou o fim antecipado da prova, devido ao surto de COVID-19, decisão que não foi aceite por alguns emblemas, como o Lyon, que ficou fora das provas da Europa, e ainda o Amiens e o Toulouse, clubes que desceram de divisão. Uma decisão que trouxe avultados prejuízos aos emblemas da Ligue 1, como contou o presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, à rádio 'RMC'
"Os clubes da Ligue 1 ponderam avançar com uma ação judicial contra o Estado. O Estado é responsável pelo encerramento do campeonato, o Primeiro-ministro ordenou o fim da competição, por isso a responsabilidade pela perda de aproximadamente 800 milhões de euros é do governo", disse o presidente do Lyon.
Aulas tem sido uma das vozes mais críticas contra a decisão do Governo de antecipar o final da prova, por entender que França tinha todas as condições para terminar o que restava das ligas profissionais, tal como vai acontecer na maior parte dos campeonatos europeus.
Quando se deu o reinício da Bundesliga, com os jogos a decorrer à porta fechada, após o aval do governo liderado pela chanceler Angela Merkel, o presidente do Lyon pretendia que a França seguisse o exemplo do país vizinho.
"Pode não ser ainda demasiado tarde para se imaginar algo coerente ao nível político", disse Jean-Michel Aulas ao sítio do jornal francês 'L'Équipe', acrescentando que, se se tivessem adotado os métodos necessários, "teria sido possível terminar a Liga".
O presidente do Lyon, que defendia um sistema de 'play-off' para encerrar o campeonato no final de agosto, reserva a possibilidade de reivindicar danos pelo encerramento antecipado da época, que estima em dezenas de milhões de euros.
Aulas tem o apoio do presidente da UEFA, que também se mostrou contra o encerramento prematuro da prova.
"Para mim, a decisão foi prematura. Acho que decidiram anular a temporada demasiado cedo. Não terá sido o ideal, porque as coisas podiam melhorar e todos poderiam jogar, exceto alguns campeonatos", disse Aleksander Ceferin em declarações à 'BeIn Sport'.
O dirigente esloveno, apesar de lamentar a decisão, realçou que, "mais uma vez, foi uma decisão dos governos, e que podem fazer os clubes senão respeitá-la".
O futebol francês ficou definitivamente suspenso em 30 de abril, após o anúncio do primeiro-ministro francês Éduard Philippe de que a temporada 2019/2020 dos desportos profissionais não deveria ser retomada.
"Temos dois clubes franceses que jogam na Liga dos Campeões (Paris Saint-Germain e Lyon), agora eles vão apenas voltar a jogar em agosto. Não sei se é bom para estas equipas, não jogarem e (de repente) disputarem jogos duros e importantes como estes", frisou.
As pretensões de Aulas colhem apoios em França. Patrick Kanner, ministro francês do Desporto de 2014 a 2017, considerou que as ligas se sentiram pressionadas a dar por terminada a época após o discurso do primeiro-ministro Edouard Philippe, e que as provas poderiam ter sido retomadas com as condições certas.
As duas principais ligas de futebol masculino e a principal feminina foram concluídas antecipadamente, assim como os principais campeonatos de râguebi, depois de Edouard Philippe ter dito que não poderiam ser retomadas por causa da pandemia do novo coronavírus, refere Kanner.
O ex-ministro do Desporto recorda que havia protocolos de saúde a serem preparados por todas as organizações desportivas e que, se não fosse tomada a decisão de concluir a época na altura, as competições talvez pudessem ser retomadas em junho.
"Foi após a intervenção [de Edouard Philippe] em 28 de abril [no parlamento] que as ligas e as federações cederam", declarou Patrick Kanner à rádio France Inter, considerando não ter havido escolha possível. Patrick Kanner lamentou ainda que os adeptos franceses tenham de voltar as suas atenções para outros campeonatos para se divertirem.
Depois de o Comité Olímpico Francês rejeitar um pedido conjunto de Troyes, Clermont e AC Ajaccio para que fosse disputado um 'playoff' de promoção à Ligue 1, o Ajaccio foi o primeiro a reagir. "Vamos de imediato recorrer aos tribunais para garantir que os nossos direitos e que o desporto são respeitados," sublinhou o clube em comunicado.
Também o Amiens vai avançar com um processo em tribunal contra a decisão de dar por terminada a Liga Francesa.
Com 10 jornadas por disputar, a Liga gaulesa foi dada por terminada no dia 30 de abril e o título de campeão atribuído ao Paris Saint-Germain, que na altura da suspensão liderava com 12 pontos (e menos um jogo) de vantagem sobre o Marselha (2.º), do treinador português André Villas-Boas. A classificação final decretada teve por base "o critério adotado pela Federação Francesa de Futebol nos restantes campeonatos", informou a Liga Francesa de Futebol (LFP). A LFP confirmou igualmente que, com base no mesmo critério, Amiens e Toulouse descerão ao segundo escalão, com Lorient e Lens a serem promovidos ao escalão principal.
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