Jenni Hermoso, jogadora espanhola que foi agarrada e beijada por Luis Rubiales na celebração após a conquista do Mundial feminino, quebrou o silêncio, num comunicado divulgado pela FUTPRO.
A capitão das atuais campeãs mundiais pediu "medidas exemplares" para o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol e deixou claro que a FUTPRO e a TMJ, a agência que a representa "estão a fazer os possíveis para defenderem os meus interesses e para serem os interlocutores neste assunto."
No comunicado, é pedido à "Real Federação Espanhola de Futebol que implemente os protocolos necessários, que zele pelos direitos das nossas jogadores e adote medidas exemplares."
"É essencial que a nossa seleção seja representada por figuras que representem os seus valores de igualdade e respeito em todos os âmbitos. É necessário avançar na luta pela igualdade, uma luta que as nossas jogadores lideraram com determinação, levando-nos à posição em que nos encontramos hoje", pode-se ler.
Na mensagem, a FUTPRO e a TMJ pedem a intervenção do Conselho Superior do Desporto de Espanha para que "apoie e promova ativamente a prevenção e intervenção em casos de abuso sexual, machismo e sexismo".
"Chamamos também a atenção ao Conselho Superior do Desporto para que, dentro das suas competências, apoie e promova ativamente a prevenção e intervenção em casos de abuso sexual, machismo e sexismo. No sindicato estamos a trabalhar para que atos como aqueles que vimos nunca passem impunes, para que sejam sancionados e para que se adotem medidas pertinentes que protejam as futebolistas de ações que consideramos inaceitáveis", lê-se ainda na mensagem.
Esta quarta-feira o Governo espanhol pediu transparência e ações urgentes da Federação de Futebol do país (RFEF) a respeito do seu presidente, Luis Rubiales, sobre o beijo à jogadora Jenni Hermoso, na cerimónia de entrega de medalhas após a final do Mundial feminino de futebol.
Rubiales, de 46 anos, foi duramente criticado pelo seu comportamento após a final do Mundial, em que a Espanha derrotou a Inglaterra por 1-0, no último domingo.
Inicialmente, o dirigente ignorou as críticas, mas depois publicou um pedido de desculpas, que foi considerado "insuficiente".
A RFEF convocou na terça-feira uma assembleia-geral extraordinária urgente para a próxima sexta-feira e iniciou uma investigação interna sobre o episódio, após a crescente pressão para que medidas sejam tomadas contra Rubiales.
Também hoje a Liga Profissional de Futebol Feminino (Liga F), através de um comunicado, apresentou uma denúncia ao CSD, solicitando a inabilitação de Luis Rubiales, pelo "sujo e constrangedor comportamento".
“A Liga F apresentou queixa ao presidente do Conselho Superior do Desporto pelos gravíssimos atos e condutas praticadas pelo presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, no âmbito da final do Mundial feminino, solicitando a sua desqualificação", escreveu o organismo.
Por sua vez, o vice-presidente da RFEF Rafa del Amo descreveu como “complicado” o momento que se vive em consequência da polémica que surgiu a partir do beijo de Luis Rubiales a Jenni Hermoso, durante a cerimónia de entrega das medalhas às campeãs mundiais.
“Não estou com vontade de falar sobre a situação. Prefiro não falar sobre isso. Não me coloquem neste jardim, porque acho que não é dia de falar sobre isso. O presidente disse o que tinha a dizer. Vamos deixar o tempo passar e na sexta-feira temos assembleia. Vamos comemorar por sermos campeões mundiais”, expressou del Amo, à comunicação social.
"Transparente e urgente"
O secretário de Estado para o Desporto e presidente do Conselho Superior de Desprotos (CSD), Víctor Francos, mostrou-se disposto a agir caso a RFEF não o faça: recorrer ao Tribunal Administrativo do Desporto (TAD).
"Imagino que o que as pessoas responsáveis farão será conversar com as duas partes envolvidas e emitir um relatório", declarou Francos à rádio Cadena SER sobre a investigação interna da RFEF.
"Transmiti pessoalmente à Federação que esse relatório tem que ser transparente e urgente, porque se não for, seremos obrigados a tomar as medidas adicionais", acrescentou.
Na terça-feira, o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, considerou "inaceitável" a ação de Rubiales e que seu pedido de desculpas foi "insuficiente", exigindo que o dirigente "continue dando passos", o que parece ser um pedido velado para que renuncie à presidência da RFEF.
"O Governo disse o que disse: é um ato inaceitável e usaremos mais diligências e instrumentos para comprovar a transparência do processo e a resolução correspondente, se chegar o seu momento", acrescentou Francos.
Rubiales foi criticado no mundo inteiro, mas mais ainda em Espanha, tanto pela sociedade como também por personalidades da política e do desporto, incluindo do próprio futebol.
A avançada norte-americana Megan Rapinoe, uma das melhores jogadoras do mundo, foi enfática numa entrevista à revista 'The Atlantic' na terça-feira.
"Em que tipo de mundo virado do avesso estamos? No maior palco, onde deverias estar a comemorar, Jenni [Hermoso] tem que ser atacada fisicamente por esse homem", disse Rapinoe.
"As federações desportivas estão submetidas à Lei do Desporto e o Conselo Superior do Desporto deve atuar para que o machismo não fique impune", escreveu na rede social X (antigo Twitter) a ministra do Trabalho e número três do governo Sánchez, Yolanda Díaz.
Díaz anunciou que o seu partido, o Somar, apresentou uma denúncia ao CSD por infração grave.
Além dessa denúncia, o presidente da Escola Nacional de Treinadores de Futebol (CENAFE), Miguel Galán, e o ex-árbitro Xavier Estrada Fernández também abriram processos no CSD contra Rubiales.
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