Data de Nascimento: 30/12/1937 (falecido a 12 de fevereiro de 2019)
Nacionalidade: Inglaterra
Presenças em Mundiais: 2 (1966, 1970)
Jogos em Mundiais: 9
Golos em Mundiais: 0 (guarda-redes, 4 golos sofridos)
Títulos em Mundiais: 1 (1966)
Ao terceiro dos 15 'Cromos’ que fizeram história nos Mundiais escolhidos pelo SAPO Desporto, um guarda-redes. Mas não um guarda-redes qualquer! Gordon Banks era o guarda-redes das defesas impossíveis! Guardião titular da Inglaterra campeã do mundo em 1966, ficou eternizado na memória dos Mundiais com uma defesa que faria quatro anos depois, no Mundial 1970, a negar um golo a Pelé. Uma defesa apontada por muitos como a melhor de todos os tempos, a ‘defesa do século’ e, certamente, a defesa mais memorável dos Campeonatos do Mundo de futebol.
Banks nasceu em Sheffield, Reino Unido. Vários problemas familiares (o pai abriu uma casa de apostas ilegal, na qual o irmão de Gordon acabou por falecer durante um assalto) levaram-no a deixar os estudos aos 15 anos e a começar a trabalhar muito novo. Entre vários empregos, trabalhou como ajudante de pedreiro, o que terá ajudado a fortalecer o seu corpo. Algo que seria, depois, importante para a sua carreira como guarda-redes. Banks ia jogando, então, numa equipa amadora. Tentou a sua sorte numa equipa local, os Rawmarsh Welfare, mas os primeiros jogos não correram bem e foi dispensado.
Aos 19 anos, porém, foi contratado pelo Chesterfield, onde começou a dar nas vistas, despertando o interesse do Leicester, do escalão principal, clube no qual se iria afirmar em definitivo, ao ponto de chegar à seleção inglesa. Depois de assumir a titularidade nos 'Foxes', ajudou a equipa a chegar a duas finais da Taça de Inglaterra, que contudo acabou por perder. Pelo Leicester viria a ganhar apenas uma Taça da Liga, em 1964.
Brilhou a grande altura na ‘seleção dos três leões’, tornando-se num dos melhores guarda-redes de todos os tempos (o segundo melhor do século XX para a IFFHS, apenas atrás de Lev Yashin). Foi eleito por cinco vezes melhor guarda-redes do mundo pela FIFA, mas a nível de clubes só venceria outra Taça da Liga, então com a camisola do Stoke City, para onde se mudou pouco depois do Mundial’66.
Um título mundial e uma defesa para a eternidade
Foi, pois, na seleção da Inglaterra que Gordon Banks se tornou numa lenda. Banks chegou a ser chamado para guarda-redes de reserva no Mundial de 1962, mas acabou por não alinhar na prova. A primeira internacionalização chegou em abril de 1963, frente à rival Escócia, e a Inglaterra até perdeu, mas sem que o guardião tivesse qualquer responsabilidade. Aos poucos, assumiu-se mesmo como 'nº1' dos ingleses e aos poucos foi ganhando uma coesão notável com os jogadores que integravam a linha defensiva da Inglaterra. Algo que viria a ser determinante na conquista do título mundial.
Banks, então com 28 anos, chegou assim como titular ao Campeonato do Mundo de 1966, no qual a Inglaterra tinha o estatuto de anfitriã, e foi titular em todos os jogos na caminhada rumo ao título, não sofrendo qualquer golo nos quatro primeiros jogos: empate 0-0 com o Uruguai e vitórias por 2-0 sobre México e França na fase de grupos, triunfo por 1-0 sobre a Argentina nos quartos-de-final.
Com pouco trabalho nesses quatro jogos, Banks teve depois muito que fazer nas meias-finais, frente a Portugal, acabando por ser pela primeira vez batido no torneio por um penálti de Eusébio. Ao todo, Banks esteve 721 minutos seguidos sem sofrer golos em jogos pela seleção até esse golo de Eusébio. Um recorde apenas recentemente batido por Jordan Pickford, em 2021.
A Inglaterra, porém, venceu por 2-1, garantindo um lugar na final, onde mediu forças com a República Federal da Alemanha. E Banks foi, cedo, buscar a bola ao fundo das redes. A Inglaterra virou o resultado, mas os germânicos empataram à beira do fim, levando a decisão para prolongamento. Aí, Banks negou por várias vezes o golo à RFA antes de a Inglaterra marcar dois golos (um deles bem polémico) para selar o seu primeiro e único título de seleções seniores masculinas de futebol até à data.
Banks foi nomeado para a Equipa Ideal do Torneio e eleito Melhor Guarda-redes do Mundo nesse ano. Voltaria a estar no Mundial em 1970, no México. Tal como quatro anos antes, não sofreu golos no primeiro jogo (vitória por 1-0 sobre a Roménia). Seguiu-se o Brasil, no jogo que eternizaria Gordon Banks na história dos Mundiais.
Desde o apito inicial, a Inglaterra mostrou muitas dificuldades para parar o poderoso conjunto brasileiro, que se viria a sagrar campeão do mundo. Bem cedo no jogo, Jairzinho cruzou com conta, peso e medida da direita para a grande área. O cruzamento encontrou Pelé em excelente posição e este cabeceou como mandam as regras, de cima para baixo, junto ao segundo poste. "Golo!", gritou. Mas não! Mostrando incríveis reflexos, no último instante Banks lançou-se para a sua direita e, já junto ao solo, defendeu o que parecia impossível de defender. Com a mão direita impediu o esférico de entrar e conseguiu tocá-lo de tal forma que este sobrevoou a trave e saiu para canto sem que pudesse haver lugar a recarga. A defesa ainda hoje é recordada como a melhor de todos os tempos em Mundiais e foi apelidada de 'A defesa do século'.
O próprio Banks disse, anos mais tarde: "Não se vão lembrar de mim por ter ganho o Mundial, mas por essa defesa. Quando falam comigo, só perguntam por essa defesa".
Uma defesa que, porém, não impediu que a Inglaterra viesse mesmo a perder, por 1-0, com Jairzinho a marcar na segunda parte. Os ingleses, a defender o título mundial, ainda assim, conseguiram passar aos quartos-de-final ao derrotarem a Checoslováquia por 1-0 no encontro seguinte. Seria o sexto jogo (em nove) de Banks sem sofrer golos em fases finais de Campeonatos do Mundo.
Mas seria também o seu último jogo em Mundiais. Com problemas no estômago, Banks falhou o encontro dos quartos-de-final, frente à República Federal da Alemanha, que a Inglaterra perderia por 3-2, após prolongamento.
E depois do Mundial? Um acidente de viação que lhe custou uma vista
Terminado o Mundial, Banks viria a conquistar o seu segundo e último troféu de clubes no futebol inglês: outra vez a Taça da Liga, agora com a camisola do Stoke City, para onde havia rumado após deixar o Leicester, em 1967.
Porém, já perto do final de 1972, numa altura em que estava lesionado num ombro, teve um grave acidente de automóvel. Acabou por ter de ser suturado com quase 200 pontos no rosto e acabou por perder a visão no olho direito, que não mais voltou a recuperar. Algo que, naturalmente, limitou as suas aptidões enquanto guarda-redes, retirando-se do futebol profissional no ano seguinte, com 35 anos.
Em 1977, contudo, voltou a jogar, nos Estados Unidos, na North American Soccer League, com a camisola dos Fort Lauderdale Strikers. Mesmo só a ver de um olho, fez exibições notáveis e foi mesmo eleito guarda-redes do ano daquela competição. Um ano depois retirou-se em definitivo dos relvados. Ainda tentou, sem grande sucesso, a sua sorte como treinador, mas já tinha feito mais do que o suficiente para ficar na História do futebol e dos Mundiais. Faleceu em 2019, mas o seu nome e AQUELA defesa com que disse 'Não' a Pelé jamais serão esquecidos.
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