Data de Nascimento: 23/06/1972

Nacionalidade: França

Presenças em Mundiais: 3 (1998, 2002, 2006)

Jogos em Mundiais: 12

Golos em Mundiais: 5

Títulos em Mundiais: 1 (1998)

Zinedine Zidane tinha magia nos pés. Uma classe como poucos. Um virtuosismo ímpar. Terá sido, talvez, um dos últimos verdadeiros ‘camisola 10’ no verdadeiro sentido da palavra. Parecia jogar de pantufas ou ter penas nos pés, tal a leveza com que se movimentava em campo e a delicadeza do seu jogo. Mas, a par dos seus rasgos de génio, também teve alguns (vários) rasgos de mau feitio. Apresentamos mais um Cromo da História dos Mundiais de Futebol.

‘Zizou’ (como é também conhecido) mostrou toda a sua elegância, visão de jogo, qualidade de passe, controlo de bola e capacidade técnica quando, em 1998, a ‘jogar em casa’, ajudou a França até ao título Mundial pelo qual há tanto os ‘Les Bleus’ ansiavam e que nem Michel Platini lhes tinha conseguido oferecer. Zidane jogaria mais dois Mundiais, sem o mesmo sucesso, e a despedida seria igualmente marcante, mas pelas piores razões. Tal não chega, porém, para abalar a marca que um dos jogadores mais marcantes do virar de século deixou no futebol.

Zinédine Yazid Zidane nasceu em Marselha, no ano de 1972. Filho de argelinos, desde muito cedo demonstrou gosto pelo futebol, idolatrando jogadores como Blaž Slišković, Enzo Francescoli ou Jean-Pierre Papin, que na altura brilhavam pelo Olympique Marseille. Começou por jogar em dois clubes próximos do bairro onde cresceu e depois de participar num estágio do Centro Regional de Educação Popular e Desporto na região de Aix-en-Provence foi 'descoberto' pelo Cannes, que não hesitou em contratá-lo.

A estreia pela equipa principal não tardou. Zidane tinha apenas 16 anos. E o primeiro golo surgiu também pouco depois. Em 1991/92, porém, o Cannes viu-se despromovido do escalão principal do futebol francês e Zidane rumou ao Bordéus. Foi aí que começou a sua afirmação definitiva. Zidane (então ainda com muito cabelo) deu nas vistas ao ponto de começar a ser chamado à seleção principal e, depois de uma grande campanha na Taça UEFA, em 1995/96, foi contratado pela então campeã europeia Juventus.

O impacto em Turim foi imediato, conquistando vários troféus coletivos e individuais logo na primeira temporada, mas a UEFA Champions League escapou-lhe em duas temporadas consecutivas e só anos mais tarde, com a camisola daquele que seria o seu último clube, o Real Madrid, na era dos 'Galáticos' Zidane conseguiria erguer o título europeu de clubes. Isto depois de se ter já sagrado campeão europeu de seleções, em 2000, e, claro, conquistado o Campeonato do Mundo de 1998, em França, na prova em que foi coroado em definitivo como Melhor Jogador do Mundo da altura.

Zidane depois de marcar um dos golos na final do Campeonato do Mundo de 1998
Zidane depois de marcar um dos golos na final do Campeonato do Mundo de 1998 Zidane depois de marcar um dos golos na final do Campeonato do Mundo de 1998

Ganhar um Mundial com dois golos de cabeça…e despedir-se com uma cabeçada

O Mundial'98 foi, sem dúvida, o Mundial de Zidane. Nele, Zizou mostrou tudo o que tinha de melhor, com os golos decisivos na final e gestos técnicos geniais, mas também o seu pior.

A jogar em casa, a pressão era muita para a França, que era vista como uma 'outsider' face ao poderio de outras seleções, sobretudo a do Brasil, apontada como principal favorita, liderada por Ronaldo, o 'fenômeno'. Zidane não vinha a atravessar o melhor momento nos últimos jogos pela seleção e era até alvo de alguma contestação, por não conseguiu reproduzir com a camisola dos 'Les Bleu' as exibições que então realizava na Juventus.

E a verdade é que Zizou esteve longe de brilhar nos primeiros jogos desse Campeonato do Mundo. Até começou com uma assistência na vitória por 3-0 sobre a África do Sul, mas no segundo jogo (vitória por 4-0 sobre a Arábia Saudita) foi expulso por pisar um adversário caído no chão. Foi suspenso por dois jogos e falhou o fecho da fase de grupos e os oitavos-de-final. Voltou nos quartos-de-final, frente à Itália, debaixo de alguma contestação. O jogo, contudo, foi decidido no desempate por penáltis e coube a Zidane converter com êxito a derradeira grande penalidade, selando a passagem às meias-finais.

Voltou a jogar os 90 minutos nas meias-finais (triunfo por 2-1 sobre a Croácia com direito a cambalhota no marcador), mas a redenção definitiva só chegaria na final, frente a um Brasil abalado por problemas físicos que afetaram Ronaldo horas antes do jogo. Indiferente a isso, Zidane mostrou que era, definitivamente, um homem dos grandes momentos e marcou por duas vezes na primeira parte, com dois cabeceamentos oportunos na sequência de pontapés de canto ainda na primeira parte, abrindo caminho a uma vitória por 3-0. Zidane tornou-se, instantaneamente, num herói nacional em França. Foi eleito Melhor Futebolista Mundial do Ano nesse ano, distinção que conquistaria por mais duas vezes.

Zidane cabeceia para o golo na final com o Brasil
Zidane cabeceia para o golo na final com o Brasil Zidane cabeceia para o golo na final com o Brasil

A França juntou, depois, o título europeu ao de campeã do mundo ao conquistar o EURO2000, novamente com Zidane em grande, mas a defesa do título mundial no Campeonato do Mundo de 2002, na Coreia do Sul e Japão, não correu nada bem nem aos gauleses, nem a Zizou, que devido a lesão falhou os dois primeiros jogos dessa fase final. E que falta ele fez à França: derrota surpreendente por 1-0 frente ao Senegal e empata sem golos ante o Uruguai. Zidane jogou, depois, em sacrifício o terceiro encontro, mas não evitou nova derrota (2-0 ante a Dinamarca) e o adeus prematuro à prova.

Depois de uma eliminação surpreendente às mãos da Grécia nos quartos-de-final do EURO2004, em Portugal, Zidane anunciou o adeus à seleção. Mas, com a França em dificuldades para se apurar para o Mundial 2006, reconsiderou. Regressou, voltou a ser capitão, ajudou o seu país a apurar-se e a França voltou a sonhar. Tal como em 1998, porém, a fase de grupos não foi brilhante para Zidane: dois empates nos dois primeiros jogos (frente a Suíça e Coreia do Sul) e um cartão amarelo em cada um destes jogos para Zizou, que assim falhou o decisivo jogo da 3.ª jornada. Mesmo sem Zidane, os franceses bateram o Togo por 2-0 e seguiram para os oitavos-de-final.

Aí, a França bateu a Espanha por 3-1 e Zidane foi decisivo, marcando o livre que esteve na origem do segundo golo e assinando ele mesmo o terceiro, com muita categoria. Nos quartos-de-final a vítima foi o Brasil, com Zidane a assistir Thierry Henry para o único golo da partida e nas meias-finais Zidane marcou de penálti o golo da vitória sobre Portugal.

Na final, o adversário foi a Itália. E Zidane marcou cedo, uma vez mais de grande penalidade (desta vez marcada 'à Panenka). Só que Materazzi empatou e os dois autores dos golos iriam estar em destaque mais à frente no jogo, num dos lances mais marcantes da História dos Mundiais de futebol. A decisão do encontro foi para prolongamento e, aí, depois de uma troca de palavras com o defesa italiano, Zidane deu a tão famosa cabeçada a Materazzi, vendo o cartão vermelho. Zizou abandonou, cabisbaixo, o relvado, passando junto ao troféu que, desta feita, não iria erguer, com a Itália a levar depois a melhor no desempate por penáltis. Terminava assim, manchada com um cartão vermelho, a história de Zizou em Campeonatos do Mundo.

A cabeçada a Materazzi com que Zidane se despediu dos relvados
A cabeçada a Materazzi com que Zidane se despediu dos relvados A cabeçada a Materazzi com que Zidane se despediu dos relvados

E depois do Mundial? Fim de carreira e sucesso como treinador

Zidane já tinha anunciado, antes do torneio, que iria pendurar em definitivo as chuteiras após o Mundial2006, pelo que o seu último jogo como futebolista profissional ficou mesmo marcado por aquela mítica expulsão. Ainda assim, não impediu que fosse eleito melhor jogador desse Campeonato do Mundo.

Continuou ligado ao Real Madrid, primeiro como conselheiro, depois como diretor desportivo e, depois, como treinador da equipa B do clube 'Merengue', o Real Castilla.

Até que, em 2016, assumiu o comando técnico da equipa principal. E o sucesso foi imediato. Em duas passagens pelo cargo de treinador da primeira equipa dos madrilenos venceu três Ligas dos Campeões e duas Ligas espanholas, entre outros troféus.

Já foi, por várias vezes, apontado ao cargo de selecionador de França e, tendo em conta o êxito que tem tido como treinador, a par do que teve como jogador, não será de estranhar que, mais tarde ou mais cedo, volte a marcar presença num Mundial, agora ao leme dos 'Les Bleus'.

O adeus inglório de Zidane aos relvados
O adeus inglório de Zidane aos relvados O adeus inglório de Zidane aos relvados