A França é campeão do Mundo. 20 anos depois do primeiro título conquistado em casa e dois anos após perder a final do Euro 2016, os franceses impuseram-se aos croatas no Estádio Luzhniki em Moscovo, vencendo por 4-2. Foi um jogo digno de uma final, com seis golos, intervenção do VAR, grandes golos e... golos muito caricatos. Apesar da derrota, a Croácia sobe um degrau e alcança a melhor qualificação de sempre de um Mundial, depois do 3.º lugar, precisamente há 20 anos, quando perderam nas meias-finais com a França. A vingança fica adiada para uma outra altura.
O França - Croácia em fotos: as melhores imagens da final
Ainda com Éder atravessado na garganta, Didier Deschamps (pediu "serenidade, confiança e concentração", na conferência de imprensa) não queria ir para a frente 'à maluca' como fez contra Portugal na final do Euro 2016. Porque Deschamps sabe (se não sabe, pode perguntar a Mourinho) que as finais são para ganhar. Com uma postura diferente da do Euro 2016 que perdeu em casa para Portugal, os gauleses entraram cautelosos, recuados no seu meio-campo, esperando à sua oportunidade para 'rasgar' a defesa da seleção da 'toalha de mesa da avó'.
A Croácia, que podia vingar a derrota sofrida há 20 anos (dois golos do lateral Thuram), nas meias-finais do Mundial 1998 , exatamente frente a França (viria a sagrar-se campeão pela 1.ª vez, vencendo o Brasil por 3-0 na final), não abdicou dos princípios que o trouxeram até ao jogo mais esperado do Mundial. Com uma pressão constante sobre o portador da bola, e explorando quase sempre o corredor esquerdo do ataque, direito da defesa francesa, a seleção axadrezada dos Balcãs tentava impor o seu jogo, perante uns gauleses mais na expetativa. A luta pelo meio-campo era renhida, cada bola era disputada como se fosse a última. Ou não fosse esta uma final de um Mundial.
O melhor lance aconteceu aos 12 minutos quando uma bola longa de Rakitic encontrou as botas de Perisic. A difícil situação requeria um desvio de primeira mas o avançado do Inter de Milão tentou dominar e perdeu a bola.
A traição de Mário... no primeiro remate dos gauleses
A postura dos vice-campeões da Europa era lógica, já que é na defesa que a seleção de Didier Deschamps tem feito a diferença. Depois de fazer uma caminhada sem qualquer prolongamento na fase a eliminar, a França entrou o jogo aos croatas, equipa mais cansada. ao contrário dos croatas que chegaram a esta esta final com menos um dia de descanso e com mais 90 minutos de jogo, depois de ter disputado prolongamentos nos três jogos a eliminar. A Croácia ultrapassou dois prolongamentos com desempates por penáltis frente à Dinamarca (1-1 ap e 3-2 gp) e à Rússia (2-2 ap e 4-3 gp) e vitória no prolongamento frente à Inglaterra (2-1).
O minuto 19 vai ser fatítico para os croatas e histórico em Mundiais de futebol. Um livre lateral de Griezmann encontrou a cabeça de Mandzukic na área. O avançado ganhou nas alturas a Varane mas o seu desvio foi na direção errada. Subasic batido, França na frente sem ter feito qualquer remate. Pela primeira vez na história via-se um autogolo numa final de um Mundial de futebol.
Domagoj deu Vida à bola, Perisic deu-lhe o melhor destino. Depois, veio o VAR...
Mas esta Croácia não é seleção de desistir. Sempre com a baliza contrária na mira, o empate vai chegar aos 28 minutos, num lance muito bem trabalhado: livre bombeado para a área por Modric, Vrsaljko deu de cabeça para Mandzukic que fez o mesmo para Vida. O central ajeitou para o remate fortíssimo de Pirisic para restabelecer a igualdade, aos 28 minutos. Era o terceiro golo do avançado do Inter Milão neste Mundial.
Os franceses, com uma postura completamente oposta a que tiveram na final do Euro 2016, iam mais vezes à baliza mas, quando lá chegaram, era sempre com muito perigo. Num Mundial onde as bolas paradas tem feito a diferença, a França aproveitou uma mão (involuntária ou não, fica difícil dizer) de Perisic para igualar. Um canto de Griezmann foi desviado por Matuidi, Perisic estava por perto e de braços abertos, onde a bola acabou por bater. Alertado pelo vídeo-árbitro, o árbitro argentino Nestor Pitana foi ver a jogada e assinalou grande penalidade, apesar das muitas dúvidas. Griezmann não se importou e fez o 2-1, com muita classe.
Lance muito contestado pelos croatas, de difícil análise. O juiz argentino tomou a decisão de marcar, indo na linha do que tem sido feito neste Mundial 2018. A França chegava ao intervalo a vencer por 2-1, num jogo onde só tinha feito um remate à baliza.
França nas suas 'sete quintas': contra-atacar para golear
No início do segundo tempo coloca-se um dilema ao selecionador Zlatko Dalic: subir mais as linhas, reforçar a linha atacante e tentar chegar ao empate ou continuar na mesma linha, à espera do que o jogo dava. Didier Deschamps sabia que a Croácia, mais cedo ou mais tarde, teria de subir no terreno, deixando espaços nas suas costas. Os espaços que os rapidíssimos Griezmann e Mbappé podiam explorar, com auxílio de Matuidi e Pogba, os homens que chegavam sempre perto da área em lances de ataque.
Com Kanté amarelado e a ser muito pressionado, Deschamps trocou o médio do Chelsea por N'Zonzi, de forma a deixar o meio-campo mais a vontade nas lutas. Depois de Subasic travar os remates de Griezmann Mbappé em dois momentos, a seleção gaulesa vai voltar a colocar a bola no fundo da baliza aos 59 minutos, após contra-ataque. Pogba lançou a 'mota' Mbappé, o jovem de 19 anos correu pela direita, meteu em Griezmann na área. O luso-francês esperou, deixou em Pogba que, ao segundo remate, bateu Subasic pela terceira vez.
Seis minutos depois, nova 'machadada' na esperança croata. Mbappé recebeu de Hernández e, de muito longe, disparou uma 'bomba' que só parou no fundo da baliza de Subasic. 4-1 aos 65 minutos e... quase tudo decidido.
Espírito de Loris Karius 'encarnou' em Hugo Lloris e relançou o jogo
Sempre a lutar, sem nunca dar nada por perdido, a seleção de Zlatko Dalic vai ganhar uma nova réstia de esperança aos 69 minutos, num lance caricato protagonizado por Lloris. Umtiti atrasou a bola para o seu guarda-redes, que tentou fintar Mandzukic. Só que o croata esticou o pé e desviou a bola para a baliza francesa, reduzindo para 2-4. Um lance um pouco semelhante a protagonizado por Loris Karius, guarda-redes do Liverpool, na final da Liga dos Campeões, perdida para o Real Madrid.
Dalic refrescou o ataque com a entrada de Kramaric no posto de Rebic e apostou ainda mais, com a entrada do extremo Marko Pjaca no posto do defesa Ivan Strinic, ficando assim a jogar com três defesas. Deschamps fez o contrário, refrescando a zona intermédia com Tolisso (no lugar de Matuidi) e o ataque com Nabil Fekir (entrou parao posto de Olivier Giroud).
Faltou-lhes um Ederic
Com uma França mais remetida na sua zona defensiva, os croatas tinham dificuldades em criar lances de perigo. O cansaço era visível na seleção dos balcãs e os três prolongamentos (90 minutos) nas fases a eliminar e um dia a menos de descanso começaram a fazer a diferença.
Apesar das várias tentativas de ainda reduzir, os croatas não conseguiram marcar.
A França sagra-se assim campeão do Mundo pela segunda vez na sua história, 20 anos depois do primeiro título. Didier Deschamps torna-se assim no terceiro a vencer a maior prova do futebol Mundial como jogador e treinador, igualando os feitos do brasileiro Zagalo e do alemão Beckenbauer.
A França, que sucede a Alemanha, iguala a Argentina em número de títulos Mundiais. Os franceses passam a ter dois títulos de Campeão do Mundo, dois de Campeão da Europa e outros dois títulos na Taça das Confederações.
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