A Human Rights Watch lembrou hoje a necessidade de compensar trabalhadores migrantes e famílias após mortes e abusos nos trabalhos de preparação para o Mundial2022 de futebol, a partir de domingo no Qatar.

“A uma semana do arranque, a estratégia da FIFA de enterrar a cabeça na areia, para ganhar tempo, e esperar que o entusiasmo pelo futebol tape os abusos de direitos humanos, vai falhar”, explicou Rothna Begum, uma das investigadoras da Human Rights Watch, ela própria filha de migrantes.

Esta sessão junta-se a um vídeo em que nepaleses, incluindo trabalhadores, famílias e mesmo adeptos de futebol, falam sobre os 12 anos de preparativos para o campeonato do mundo em que milhares de migrantes sofreram abusos de direitos humanos, morreram nos trabalhos, ou foram explorados no país anfitrião.

Na conferência, o nepalês Ram Pukar Sanahi contou aos jornalistas como se deslocou ao Qatar para trabalhar no Mundial2022, juntamente com o pai, em 2017, em duas empresas diferentes, e inicialmente conseguiam fazer “muito dinheiro para mandar para a família”.

Voltou, para o casamento de uma irmã, e já não regressou depois ao Qatar, ao contrário do pai, que passou de estar “muito saudável” para morrer de súbito, numa noite, quando estava a trabalhar num local de construção.

“Não sei como morreu, porque estava saudável, não conseguia acreditar. (...) Só nos mandaram o corpo, não nos mandaram qualquer compensação. Recebemos o salário e o bónus. Só isso”, contou.

Mais tarde, as autoridades do Qatar consideraram esta uma morte por causas naturais, por um problema cardíaco súbito, o que pela lei retira qualquer terreno para compensação, num exemplo de muitos casos do género que têm vindo a ser denunciados.

Como mensagem para o mundo, Sanahi lembrou a forma como um grande evento internacional está a decorrer em solo qatari “enquanto muitas famílias perderam membros nos trabalhos”.

Rothna Begum lembra que os trabalhadores migrantes “foram indispensáveis para tornar possível o Mundial2022”, mas com um “grande custo” pessoal e destas famílias, seja pela sonegação de salários, milhares de mortes por explicar ou lesões e acidentes.

“Muitos trabalhadores, bem como as famílias e comunidades, não podem celebrar o que construíram, e pedem à FIFA e ao Qatar que remedeiem os abusos que foram cometidos, deixando famílias na miséria e a sofrer”, acrescenta a investigadora.

A questão sobre a indemnização refere-se a uma campanha lançada por uma coligação de organizações de direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, em maio deste ano, apelando à FIFA que reserve 433 milhões de euros para um fundo que indemnize trabalhadores lesados e possa prevenir abusos futuros.

O valor é equiparado à ‘pool’ de prémios monetários que serão distribuídos pelos participantes, com a Amnistia a lembrar que o organismo de cúpula do futebol mundial estima arrecadar “cerca de 5,9 mil milhões de euros em receitas do torneio”.

Embora as autoridades do Qatar neguem, várias organizações apontam para milhares de mortes naquele país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial, com um relatório do jornal britânico The Guardian, de fevereiro deste ano, a cifrar o valor em 6.500 óbitos, número que muitos consideram conservador.

Além das mortes por explicar, o sistema laboral de ‘kafala’ e os trabalhos forçados, sob calor extremo e com longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas há anos por organizações não-governamentais e relatórios independentes.

Ao longo dos últimos anos, numerosas organizações e instituições têm apelado também à defesa dos direitos de adeptos, e não só, pertencentes à comunidade LGBTQI+, tendo em conta a perseguição de que são alvo em solo qatari.

Várias seleções, como Dinamarca, Austrália ou Estados Unidos, posicionaram-se ativamente contra os abusos ou a favor da inclusão e proteção quer dos migrantes quer da comunidade LGBTQI+, tanto a viver no país como quem pretende viajar para assistir aos jogos.

O Campeonato do Mundo masculino de futebol vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com a seleção portuguesa apurada e inserida no Grupo H, com Uruguai, Gana e Coreia do Sul.

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