Vem aí mais uma edição da Premier League, uma das ligas de futebol mais excitantes do Mundo. Na liga mais conhecida do planeta brilham jogadores e treinadores de todo o mundo. No que toca aos técnicos, são os estrangeiros que dão mais nas vistas. Uma situação oposta a que se verifica em Portugal onde todas as equipas para a nova época são treinadores por portugueses.

O jornal espanhol ´Marca` fez um trabalho sobre os técnicos da Premier League para tentar perceber porque há tão poucos ingleses na prova.

Se em 1992-1993, 16 dos 22 técnicos que acabaram a época eram ingleses, no início desta época 2017/2018 apenas quatro dos 20 treinadores são autóctones: Eddie Howe (Bournemouth), Sean Dyche (Burnley), Craig Shakespeare (Leicester) e Paul Clement (Swansea) serão os únicos técnicos ingleses que estarão nos bancos no início da época marcado para agosto. Um registo que iguala o alcançado nos finais das épocas 2011/2012 e 2015/2016, quando apenas quatro equipas eram treinadas por técnicos ingleses.

Além disso, nenhum destes quatro comanda uma equipa de topo: Chelsea (Antonio Conte), Tottenham (Mauricio Pochettino), Manchester City (Pep Guardiola), Liverpool (Jurgen Klopp), Manchester United (José Mourinho) e Arsenal (Arsène Wenger) mantiveram a aposta em treinadores estrangeiros.

"A principal razão de haver mais treinadores estrangeiros é porque os donos dos principais clubes são estrangeiros. Em Espanha e Itália preferem dar oportunidades aos técnicos nacionais em vez de ir buscar treinadores ao estrangeiro", justificou Phil Neville, em declarações à BBC.

Chelsea, Manchester City, Liverpool, Manchester United são controlados por capital estrangeiro. Uma tendência que levou a que, na próxima edição da Premier League, apenas 20 por cento dos técnicos seja inglês. Comparados com as grandes ligas europeias, a diferença é enorme: Em Espanha, 80 por cento dos treinadores são espanhóis (16 de 20), em Itália, 90 por cento são italianos (18 em 20). Na Bundesliga são 11 alemãs em 18 (67 por cento) e em França são 12 franceses em 20 (60 por cento).

Percentagem de treinadores locais nas grandes Ligas em 2017/2018
Premier League: 20% ingleses
La Liga: 80% espanhóis
Serie A: 90% italianos
Bundesliga: 67% alemães
Ligue 1: 60% franceses

Na elite inglesa há treinadores de 12 nacionalidades diferentes. Há quatro ingleses (Dyche, Howe, Shakespeare E Clement), dois espanhóis (Guardiola e Rafa Benítez), dois argentinos (Pochettino e Pellegrino), dois holandeses (De Boer e Koeman), dois galeses (Hughes e Pulis), dois portugueses (Marco Silva e Mourinho), um croata (Bilic), um alemão (Klopp), um norte-americano (Wagner), um italiano (Conte), um irlandês (Hughton) e um francês (Wenger). Em Espanha, só há treinadores espanhóis (16), argentinos (Simeone, Berizzo e Zubeldia) e franceses (Zidane). Em Itália, só o croata Juric (Genoa) e o sérvio Mihajlovic (Torino) se intrometem na hegemonia dos 18 italianos.

Portugal, que está fora cinco principais ligas europeias, foge à regra e consegue algo inédito. Todas as equipas que vão disputar a próxima edição da Liga são treinadores por portugueses.

Nacionalidades dos treinadores da Premier League em 2017/2018

Ingleses (4): Howe (Bournemouth), Dyche (Burnley), Shakespeare (Leicester) e Clement (Swansea)
Argentinos (2): Pochettino (Tottenham) e Pellegrino (Southampton)
Espanhóis (2): Guardiola (City) e Benítez (Newcastle)
Portugueses (2): Marco Silva (Watford) e Mourinho (United)
Holandeses (2): De Boer (Crystal Palace) e Koeman (Everton)
Galeses (2): Pulis (West Bromwich) e Hughes (Stoke)
Irlandês (1): Hughton (Brighton)
Francês (1): Wenger (Arsenal)
Italiano (1): Conte (Chelsea)
Norte-americano (1): Wagner (Huddersfield)
Alemão (1): Klopp (Liverpool)
Croata (1): Bilic (West Ham)

A metamorfose nos bancos de suplentes em Inglaterra começou quando, em 1992, foi lançado a Premier League.

"A chegada de Arsène Wenger ao Arsenal mudou o foco. Queríamos trazer alguém de fora, alguém de dimensão europeia. Sentimos que o jogo estava a internacionalizar-se e que não podíamos sobreviver com o futebol das ilhas britânicas. Tínhamos de cruzar fronteiras, necessitávamos de adicionar experiência europeia às nossas bases para competir na Europa", justificou Rick Parry, ex-director geral do Liverpool e a ´chave` da chegada do francês Gerard Houllier e do espanhol Rafa Benítez a Anfield Road, os dois primeiros técnicos não britânicos que dirigiram os ´reds`. A partir daí, o ´despovoamento` inglês das áreas técnicas da Liga Inglesa nunca mais parou.

A globalização do futebol inglês (na última edição da prova, apenas 35 por cento dos jogadores eram ingleses) e dos novos donos que controlam os clubes e os novos estilos que estes querem impor, levou a que técnicos de 22 nações diferentes tenham chegado a Premier League desde o seu lançamento, em 1992. Tudo mudou no tradicional ´football`.

"Não creio que venhamos a ter um treinador inglês a treinar uma equipa do top-6 tão cedo. Ter um técnico estrangeiro é mais ´sexy`,", destacou Harry Redknapp, antigo trinador do Portmouth e da seleção inglesa.

Desde que a Premier League foi criada, numa um técnico inglês foi campeão.

*Adaptado de um artigo publicado originalmente no jornal espanhol ´Marca`, de 4 de julho de 2017.